Crítica


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Sinopse

Encarregado de ajudar uma agente russa a fugir de seu país, James Bond sequer imagina que essa missão encobre uma armadilha da Spectre para executa-lo.

Crítica

Moscou contra 007 marca o começo de muitas tradições nos filmes do agente secreto criado por Ian Fleming. Foi o primeiro longa-metragem a contar com uma música tema na sua trilha – e ainda que não seja utilizada com a voz de Matt Monro nos créditos iniciais, como viria a ser a marca da franquia, é utilizada no desfecho e em uma cena romântica. Foi a estreia de Ernst Blofeld, arqui-inimigo de James Bond, ainda que o ator não tenha mostrado seu rosto, tendo ficado apenas em sua cadeira, acariciando seu gato. As traquitanas utilizadas pelo espião, recebidas das mãos do engenhoso Q (Desmond Llewelyn), são introduzidas neste filme, assim como o aviso – ao final dos créditos – que James Bond retornaria em uma nova aventura. Em compensação, a clássica apresentação “Bond, James Bond” não dá as caras neste exemplar, que viu a luz do dia um ano depois da estreia do bem sucedido 007 contra o Satânico Dr. No (1962).

Assim como o anterior, Moscou contra 007 foi dirigido por Terence Young, que viu o orçamento de sua aventura duplicar depois do bom resultado das bilheterias. Sean Connery retorna como o agente secreto à serviço da Coroa Britânica e terá de enfrentar, desta vez, a organização SPECTRE, comandada pelo misterioso Blofeld. Atraído para a Turquia com a promessa de colocar as mãos em um equipamento de decodificação russo chamado Lektor, James Bond conhece a bela russa Tatiana Romanova (Daniela Bianchi), colocada no caminho do espião para servir de chamariz. O plano da SPECTRE é roubar o Lektor e, no processo, eliminar Bond. Para o trabalho, é contratado o sorrateiro Donald Grant (Robert Shaw), homem que dará trabalho para James Bond e seu amigo, o bonachão Kerim Bey (Pedro Armendáriz).

Muito longe do politicamente correto que existe nos dias atuais, as aventuras de James Bond do início da década de 1960 não tinham pudor algum em mostrar as mulheres como objeto e apresentar a persona mais cafajeste possível para o agente secreto. A balança da sexualidade pesa bastante nesta produção. Para cada cena de ação, existem pelo menos duas cenas com insinuações ou conotações sexuais. O cúmulo talvez seja a cena em que duas ciganas, com trajes mínimos, brigam entre si para decidir quem ficará com um homem. Ação e sexo ao mesmo tempo. Por ter conseguido salvar a comunidade cigana, James Bond acaba ganhando o direito de escolher qual das duas venceu a briga, algo que, como ele diz lascivamente, pode levar um bom tempo – talvez a noite toda? O retrato da mulher nos filmes de 007 envelheceu mal, mas quem consegue abstrair isso, encarando como retrato de uma época, pode se divertir com os absurdos.

Sean Connery se mostra mais à vontade no personagem e parece se divertir ao interpretar o agente secreto. Dos filmes estrelados pelo ator, Moscou contra 007 é o seu preferido – tanto que, em 2005, ele voltou a dublar o personagem no game baseado no longa-metragem. Existe boa química entre Connery e Daniela Bianchi, a Bondgirl da vez, ainda que as cenas mais divertidas sejam as divididas entre o protagonista e Pedro Armendáriz, em seu último trabalho no cinema. Robert Shaw é um antagonista poderoso, uma espécie de sombra durante toda a trama. Quando finalmente abre a boca, depois de mais de uma hora de filme, é perceptível o cuidado com os detalhes do ator, que chega a mudar de sotaque quando tem seu disfarce revelado por James Bond. Uma pena que a cena entre os dois é curta demais.

Gravado boa parte em locação, Moscou contra 007 apresenta uma sensível melhora em relação ao filme original, com maior escopo, entregando cenas de ação mais elaboradas. O ritmo, claro, é mais lento do que os thrillers atuais e as cenas mais mirabolantes ficaram bastante datadas. Certamente, à época, a perseguição com o helicóptero era eletrizante. Vista hoje, é um tanto engraçada – até pela notável falta de inteligência dos vilões, que poderiam muito bem eliminar o agente secreto a tiros e não tentar atropelá-lo com um desajeitado veículo com hélices. De qualquer forma, o longa diverte e mantém aceso o interesse por mais aventuras do agente secreto, que não demorariam nada para aparecer nos cinemas.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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