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Sinopse

O vilão Jimmy ridiculariza a agência de inteligência T.I.A após roubar dela um documento ultrassecreto. O único jeito de resgatar o objeto surrupiado é recorrer aos atrapalhados agentes Mortadelo e Salaminho.

Crítica

Há quase 60 anos Mortadelo e Salaminho apareceram pela primeira vez em uma tira de quadrinhos criada pelo espanhol Francisco Ibáñez. Dali foi um passo para uma dominação europeia. Já foram protagonistas de séries televisivas, animações curtas, games e até musical. Porém, dos mais de 200 volumes em quadrinhos que fizeram sucesso pelo mundo, apenas uma pequena parte foi publicada no Brasil, com maior êxito, na metade da década de 70. Ou seja, não dá pra dizer que os personagens são tão populares aqui em terras tupiniquins. A situação pode mudar com o divertido Mortadelo e Salaminho em Missão Inacreditável, produção de 2014 vencedora do Goya de Melhor Animação e Melhor Roteiro Adaptado e que agora chega aos cinemas nacionais.

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Mas afinal, por que eles são tão populares fora daqui? Imagine uma dupla de agentes (nada) secretos que parecem uma mistura de James Bond com o O Gordo e o Magro, mas sem os recursos financeiros do espião com licença para matar. A agência que eles trabalham, a TIA (Técnicos de Investigações Avançadas), mais parece uma repartição sucateada, sem investimentos e recheada de aspones. Uma crítica divertida do autor ao serviço público da própria Espanha e que ganha reflexos em qualquer país que sofra do mesmo problema - será que vi o nome Brasil por aqui? Na trama, estes problemas ganham proporções ainda maiores por mostrarem a incompetência do governo em lidar com as mais diversas situações. No caso, o roubo de um documento ultrassecreto da agência (que fica “escondida” em um prédio de uma rua residencial).

A primeira cena do filme faz uma bela brincadeira com os ideias mais clássicos (e clichês) dos filmes de espionagem e ação, com um Salaminho de corpo definido, vozeirão, rico, vivendo numa mansão, tendo Mortadelo como seu fiel parceiro/mordomo. Ou seja, não apenas um 007 repaginado como também um Batman vivendo à luz do dia. O desastre da missão aérea que ocorre no prólogo faz um dos agentes despertar para a realidade. Ou seja, um apartamentinho pequeno em que mal cabe na cama, com uma barriguinha saliente, inteligência nem tão afiada e cometendo uma atrapalhada atrás da outra. Como toda boa animação (e as próprias HQs da dupla) o filme é recheado de humor, inclusive com conotação sexual, como é o caso da “lição” que um antigo vilão quer dar em um dos personagens e remete a braços e traseiros.

Assim, o filme dirigido por Javier Fesser mostra que é muito menos voltado às crianças, ainda mais na (quase total) falta de bichinhos falantes, e que pode agradar os adultos. Ao mesmo tempo que poderia ser sua vantagem, este é o principal defeito da produção, que parece não saber a qual público se dirigir, indo e vindo entre a ingenuidade e a malícia. Talvez se estivesse estabelecido um meio termo coeso a situação fosse contornada. Ao mesmo tempo, não é nada que prejudique o entretenimento proporcionado. Em 2003, uma produção live action já havia levado os personagens para as telonas, mas o resultado não foi tão grandioso. Filmes estrelados por agentes “velhos” (afinal, ele já passaram da meia-idade há um bom tempo) não costumam ser grandes chamarizes de bilheteria. Mais por preconceito do que qualquer outra coisa, é claro. Agora, em animação, a história é outra e parece conseguir ser mais fiel à essência da dupla dinâmica.

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Não que outros problemas não pontuem a obra, como a falta de um vilão e motivações maiores para o desenvolvimento da trama. O McGuffin aqui, o artefato roubado, mas é o que menos interessa no todo. É apenas uma desculpa para as confusões de Mortadelo e Salaminho, coisa que não falta quando os dois estão envolvidos, especialmente quando um tenta sacanear o outro, como crianças grandes que são. O roteiro é um emaranhado de piadas. A maioria dá certo. Mas quando alguma não consegue alcançar as mesmas notas, a sensação é que a plateia fica constrangida por não conseguir rir da situação. Porém, sejamos honestos: a intenção aqui não é criar uma obra-prima da sétima arte, e sim prestar uma homenagem a personagens tão queridos que circulam por aí há tanto tempo. E, neste ponto, o filme não falha. Ainda bem.

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é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.
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