Crítica


7

Leitores


Onde Assistir

Sinopse

Um retrato sobre a vida e obra do cantor brasileiro Moacir dos Santos. Originário de Santos, em São Paulo, ele atualmente mora em Buenos Aires, na Argentina, e sonha em voltar a sua terra natal. Depois de passar anos no hospital Borda, ele precisa recomeçar sua vida.

Crítica

Pode-se dizer que a câmera de Tomás Lipgot ama Moacir dos Santos, assim como o retratado adora ser filmado pelo cineasta. Esta paixão, não-romântica, mas de amizade e profundo respeito entre dois velhos conhecidos, é o que norteia Moacir III, justamente a terceira parte de uma trilogia do diretor com o músico. O personagem aqui já passou por vários perrengues retratados nos filmes anteriores de Lipgot, Fortalezas (2010) e Moacir (2011). Nos anos 1980, Moacir deixou Santos, sua terra natal, para ir à Argentina realizar o sonho de ser cantor na terra do ídolo Carlos Gardel. Não deu tão certo quanto ele esperava e acabou indo parar na miséria, tendo que lavar carros para sobreviver. Chegou a ser internado no Hospital Borda, um manicômio. Depois, conseguiu gravar um álbum com músicas de sua autoria, ao lado de Sérgio Pángaro.

Pois o capítulo final desta trinca de filmes vai além do simples documentário. Entre ficção e realidade acompanhamos Moacir e Lipgot no processo de um filme. Metalinguagem pura, ainda mais quando entendemos que parte dessa história é a própria biografia de Moacir. Uma bela fotografia acompanha os passos desse músico que agora está prestes a se tornar um roteirista, um diretor. Suas fantasias e anseios se mesclam com sua visão sobre a Buenos Aires de três décadas atrás e como muito mudou, não só para o protagonista, como para a própria capital da Argentina.

Moacir é uma figura excêntrica aos olhos de muitos. Aos 70 anos, o santista é um desconhecido para muitos no Brasil, mas sua figura é facilmente reconhecida nas ruas portenhas. Com sua peruca castanho claro artificial e um penteado que lembra muito o de Whitney Houston no final dos anos 1990, o protagonista transita em diversos estilos. Logo veremos ele trajado como se fosse Cauby Peixoto, andando pra lá e pra cá, falando com várias pessoas e visitando locações onde podem ocorrer as gravações de seu filme. Lipgot acompanha o personagem nestas andanças, em que ele faz convites a estranhos para participarem de sua produção. É impossível resistir ao seu convite. É tanta simpatia nos olhos e no modo de falar que nem parece que este homem passou por tantas dificuldades na vida.

"A vida é uma fantasia e temos de saber como apreciá-la", ele fala lá pelas tantas. É extremamente perceptível que Moacir tem um amor pela vida, pelas pessoas, por tudo ao redor. O que fala pode ser mentira, pode ser verdade. Não importa. Sua força empática é tão forte que fica impossível não se apaixonar por ele do lado de cá da tela. Quando a viagem parece demais, a bela música toma conta. Fosse nas mãos de qualquer diretor menos sensível, o personagem poderia cair fácil no pastiche, no deboche, justamente por ser tão diferente. Porém, Lipgot liga a câmera e deixa Moacir ser quem ele é, sem julgamentos. A vontade que dá ao fim do filme é assistir a toda a trilogia de uma vez só para podermos acompanhar a evolução de sua vida. E que vida, meus caros! Quem dera houvesse um pouco mais de Moacir nas nossas. Afinal, quem disse que loucura de leve não faz bem pra gente?

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
avatar
é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.
avatar

Últimos artigos deMatheus Bonez (Ver Tudo)

Grade crítica

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *