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Sinopse

Uma masculinizada agente do FBI se disfarça para participar de um concurso de Miss Estados Unidos, a fim de capturar um terrorista.

Crítica

Quando despontou para o público em filmes como Velocidade Máxima (1994) e Enquanto Você Dormia (1995), Sandra Bullock foi nomeada a nova namoradinha da América da época. Filmes de ação com mulheres? Ela estava no meio. Comédias românticas? Também. Porém, mesmo que sua presença estonteante pela beleza e carisma ofuscasse os colegas de elenco, ainda faltava algo para a atriz provar: o seu real timing para comédias. Daquelas de fazer rir mesmo, não apenas a mocinha boba e boazinha dos romances açucarados. Pois o teste de fogo foi Miss Simpatia. Teste, por sinal, que passou com nota máxima.

Aqui ela é Gracie Hart, uma agente do FBI que de feminina não tem nada. Caminha como um ogro, come de boca aberta, não faz o buço, arrota a torto e direito. Aliás, a questão não é nem feminilidade, porque até para homens os trejeitos não podem ser chamados essencialmente de masculinos, mas sim brutos. Mesmo assim, ela é designada para se infiltrar no concurso de Miss América para descobrir quem é a próxima vítima de um assassino (que também não se sabe a origem). Porém, não é apenas espionar. Ela precisa concorrer ao título ao lado das outras candidatas, tarefa quase impossível com todos os seus atributos.

O roteiro despretensioso, com gags espalhadas ao longo do percurso aliadas à típica visão de um concurso de beleza, ganha novos realces por mostrar um girl power que parecia tão em desuso nos filmes da época. Especialmente porque a maioria dos títulos de “comédia” daqueles anos 2000 mostrava mocinhas frágeis desesperadas por homem. Aqui o caso é totalmente o oposto. As candidatas à miss, por mais fúteis que possam parecer com sua obsessão pelo título, estão nem aí para os “machos” na volta. O próprio agente Eric (Benjamin Bratt), que logo pode se tornar interesse amoroso da protagonista, é apenas uma peça do quebra-cabeças que a própria Grace salva a todo momento. Resta à agente servir como força para os personagens, tarefa que Bullock agarra de todas as formas.

A performance da atriz, indicada ao Globo de Ouro em Comédia ou Musical e vencedora de outras premiações, é o que move Miss Simpatia do início ao fim. Gracie é durona, sim, e pouco feminina, mas Bullock consegue fazer a transformação de sua personagem na exuberante candidata ao concurso sem esquecer da essência da agente. Especialmente sua risada como um grunhido de porco, uma das arcas registradas desta atuação. Mas vai além disso. Há uma força extremamente feminista na protagonista de não se rebaixar aos colegas do sexo oposto, mesmo quando eles tentam humilhá-la a todo momento. Não à toa sua brutalidade, por mais que assuste figuras como o coaching de misses Victor (Michael Caine, impagável), logo se torna seu principal chamariz. Afinal, quem não quer uma grande mulher ao seu lado, seja no amor ou na amizade?

Assim, o filme de Donald Petrie consegue passar de um comédia simples e despretensiosa para uma das melhores comédias de ação da década mostrando que, com uma protagonista de peso, é possível, sim, mulheres fazerem sucesso num terreno tão machista. Não à toa uma arrecadação mundial de mais de 200 milhões de dólares – metade só nos EUA e para um orçamento de 45 milhões.Também rendeu uma continuação em 2005 (não tão interessante, mas que gera boas risadas) e o título de Bullock como uma das atrizes mais engraçadas de sua geração. Algo que ela mantém até hoje, mesmo se provando ainda mais completa também pela dramaticidade em outras produções.

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é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.
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