Crítica
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Sinopse
Graças à tecnologia que identifica criminosos antes mesmo de eles cometerem atos ilícitos, a capital dos Estados Unidos está há anos sem delitos. Mas, quando o próprio chefe da divisão Pré-Crime é acusado de um futuro assassinato, ele terá apenas 36 horas para descobrir quem está querendo destruir a sua reputação.
Crítica
O que escrever sobre Minority Report: A Nova Lei, de Steven Spielberg e estrelado por Tom Cruise, além de que se trata de uma feliz união de entretenimento com alta qualidade técnica? Não estou afirmando que se trata de algo imperdível, pois o longa possui seus defeitos, alguns exageros, certos descuidos. Mas o resultado final é superior a esses pequenos deslizes, e eles são logo perdoados. Afinal, temos aqui o primeiro encontro de um dos maiores astros do cinema hollywoodiano com aquele que talvez seja o maior cineasta americano de todo os tempos, resultando num dos mais bem acabados exemplares do cinema de ficção científica dos últimos anos.
A história é baseada numa interessante contradição. Num futuro não muito distante (daqui há uns 50 anos), existirá um sistema de prevenção ao crime – chamado Pré-Crime –apoiado nas previsões de três pre-cognitivos, isto é, mutantes que sofreram experiências genéticas e adquiriram o dom de prever o futuro. As visões desses pre-cogs (chamados Agatha, Arthur e Dashiel, em homenagem aos escritores Agatha Christie, Arthur Conan Doyle e Dashiel Hammett) geram imagens de assassinatos num período relativamente anterior (tanto pode ser minutos como dias de antecedência).
Assim, em seis anos de atividade apenas no estado de Washington, o Pre-Crime praticamente eliminou a criminalidade. Minority Report começa no momento em que se discute a implementação desse sistema em todo o país. E é aí que a discussão fica mais complicada: com a atenção de toda uma nação voltada para o mesmo assunto, a questão que permanece é – como acusar alguém de um crime antes desse mesmo acontecer? É possível ser culpado de algo que – ainda – não aconteceu? Ao interferir no futuro, os defensores do Pre-Crime não estariam interferindo inclusive na culpabilidade desses eventuais criminosos?
Tom Cruise interpreta John Anderton, o mais eficiente membro da guarda integrante do Pre-Crime. Seu chefe – e um dos idealizadores do sistema – é LamarBurgess (Max von Sydow), enquanto que o representante do FBI indicado para investigar a infalibilidade do Pre-Crime é Danny Witwer (Colin Farrell). Tudo se complica, porém, quando os pre-cogs prevêem que Anderton irá assassinar um homem em 36 horas – alguém que ele mesmo nem conhece. Assim, ele precisa fugir não só para provar sua inocência, mas também para descobrir o que existe por trás de todo esse jogo de interesses a respeito do Pre-Crime.
O melhor de Minority Report (o título faz referência a um relatório detalhado sobre as visões dos pre-cogs, que pode indicar que, eventualmente, eles podem discordar entre si, o que indicaria que não são, portanto, tão infalíveis assim) é que se trata de um filme de ação adulto e sério o suficiente para que toda a discussão proposta seja não só plausível como de fácil identificação com a nossa realidade. O futuro apresentado por Spielberg é resultado de várias reuniões entre cientistas e teóricos que indicam essa realidade como viável de acontecer. Ou seja, o que é proposto na tela não é mera alucinação, e sim um dos prováveis caminhos para a humanidade.
Essa atitude deveria ser encarada como uma nova lei a ser seguida por qualquer produção cinematográfica que se preze: utilizar o melhor disponível na época de sua realização para realmente nos colocar “dentro” da trama, promovendo sua verossimilhança ao máximo da razão. Percebe-se o resultado desse estudo detalhado em cada fotograma de Minority Report, e mesmo nos momentos mais absurdos (como as armas de repulsão ou o sistema moderno de transportes) é crível ao ponto de, passado o espanto, notarmos que o que foi visto nada mais é do que uma das prováveis conclusões para a nossa atualidade.
Outro ponto fundamental desse projeto é a tão esperada união de dois ícones do cinema hollywoodiano: Tom Cruise e Steven Spielberg. Se nos anos anteriores a essa projeto nenhum dos dois andava acertando muito, por optaram por propostas mais ousadas e alternativas, dessa vez conseguem, literalmente, “unir o útil ao agradável”. Digo isso porque é identificável em Minority Report a preocupação de ambos de evoluírem enquanto criadores de sonhos, mas baseados em alternativas sólidas de realidade e usufruindo do melhor que a tecnologia é capaz de provir. É possível verificar aqui ecos tanto a A.I. – Inteligência Artificial (2001), de Spielberg, quanto a Vanilla Sky (2001), com Cruise. A escolha de ambos, portanto, é lógica a acertada.
Esse novo trabalho definitivamente não foi apenas mais um “filme-do-momento”, mas sim um obra que vem resistindo ao tempo, sendo digerida ainda melhor com o passar dos anos. Talvez ainda não estejamos prontos para esse futuro apresentado por Spielberg, Cruise e Philip K.Dick (autor do conto original em que o filme se baseia, escrito em 1956, e responsável também pelas tramas de O Vingador do Futuro, de 1990 e 2012, e Blade Runner: O Caçador de Androides, 1982). Mas tenham certeza que chegará o momento dele: seja no nosso dia-a-dia, ou através dos nossos sonhos.
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Excelente crítica! Ao refletir sobre os acontecimentos recentes envolvendo o TSE e as eleições de 2022, o filme me veio rapidamente à cabeça. As semelhanças, guardadas as devidas proporções, são impressionantes. Mais uma vez a ficção se desdobrando na mais pura realidade.