Crítica
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Sinopse
Nascidas no interior do estado do Goiás, Mirian e Mirelly tomaram rumos diferentes na vida adulta, sendo muito distantes em tudo. Mas, quando a mãe delas desaparece durante a sua festa de 75 anos, as duas têm de deixar as desavenças de lado, cair na estrada e unir forças.
Crítica
Mirian (Ingrid Guimarães) e Mirelly (Tatá Werneck) são duas irmãs goianas que tomaram caminhos diferentes na vida adulta. A primogênita resolveu permanecer na sua terra natal e construir uma família nos moldes tradicionais – aparentemente sendo feliz em sua rotina. A caçula preferiu se mudar para o Rio de Janeiro a fim de tentar seguir uma carreira longe das raízes – porém, não conseguindo ir além da função de cuidadora de pets de celebridades. Minha Irmã e Eu lida com dois mundos aparentemente inconciliáveis que, uma vez em rota de colisão, criam uma típica dinâmica de opostos. A interiorana versus a cosmopolita; a simples versus a descolada; a careta versus a moderna. No entanto, o filme dirigido por Susana Garcia não esgota essa oposição óbvia entre polos antagônicos, recorrendo a ela pontualmente, não fazendo dessas disparidades o real motor da comédia. O mais importante é o fato de que Mirelly vive uma mentira, pois é alguém sem qualquer amigo e que não pode ser definida como uma pessoa profissionalmente bem-sucedida. O que chega à sua família é uma coleção de invenções que, claro, vai ser gradativamente revelada ao longo dessa trama que mostra uma reaproximação aos trancos e barrancos. Outro ponto positivo é a observação afetuosa de um provincianismo terno, de um cotidiano que tem lá o seu encanto, mesmo longe das tantas promessas da cidade grande.
É muito comum no cinema (inclusive o brasileiro) que suburbanos, interioranos ou campesinos sejam representados como inocentes ou grosseirões. Em Minha Mãe e Eu, Mirian até demonstra certo deslumbre quando chega ao Rio de Janeiro e se depara com a casa nababesca de uma celebridade (apropriada por Mirelly como se ela fosse sua), mas nada que extrapole certa normalidade ou gere uma caricatura. A partir do desaparecimento da mãe das protagonistas (interpretada por Arlete Salles) o que temos é um road movie (filme de estrada) com as irmãs repensando escolhas e enxergando a importância dos vínculos afetivos. De toda forma, o sumiço materno é um McGuffin, ou seja, um dispositivo do enredo que não tem muita importância em si, mas é fundamental para garantir a progressão da história. O foco não está na mulher mais velha que fica triste ao testemunhar as duas filhas se referindo a ela como um peso. As atenções permanecem nas irmãs que expõem o ridículo de suas existências enquanto lidam com questões tais como expectativas, frustração sexual, necessidade de repensar a vida, coragem para assumir o fracasso, entre outros tópicos que ao menos aparecem no decorrer da trama. Ingrid e Tata fazem uma dupla afiada, embora a segunda muitas vezes passe do ponto em improvisações que parecem desmontar a sua personagem em prol da constituição de esquetes solos acelerados.
Duas das mais bem-sucedidas comediantes do Brasil na atualidade, Ingrid Guimarães e Tatá Werneck funcionam bem juntas, mesmo com registros de atuação diferentes. Ingrid está compondo uma personagem em Minha Irmã e Eu, no sentido mais clássico do conceito. Ela cuida para não perder o sotaque interiorano e representa a insatisfação da mulher que abdicou de muito para construir a família nos moldes tradicionais. Uma das coisas mais interessantes desse longa-metragem é a transformação de Mirian em alguém com mais instrumentos para questionar os abusos masculinos em seu casamento duradouro e colocar por terra a fidelidade irrestrita como sinônimo de virtude. Atender aos desígnios do desejo e ceder aos encantos do cowboy bonitão vivido por Leandro Lima é o pontapé inicial para uma bem-vinda emancipação feminina. Já Tatá exagera um pouco na improvisação, nos “cacos” evidentemente inseridos na trama que, às vezes, transformam a sua personagem em algo mais próximo de uma paródia do que necessariamente de um indivíduo que mente descaradamente para engambelar a família. Em vários instantes do enredo as suas falas se estendem um pouco mais do que deveriam, a verborragia sobressai de modo quase asfixiante e Mirelly se torna alguém excessiva (não no bom sentido). Mesmo assim, a interação entre elas é funcional/orgânica, o que gera bons momentos.
Comédia de tons assumidamente populares, Minha Irmã e Eu cresce nos momentos em que brinca com as fragilidades dessas mulheres que aprenderão mutuamente a ser melhores. O aprendizado de Mirian é bem mais consistente do que o de Mirelly, inclusive porque é sustentado, em sua comicidade, por uma base dramática e social. Cansada de ser tratada como propriedade pelo marido de tantos anos, ela encontra na inspiração da irmã caçula a chave para o ponto de virada de sua vida. Ingrid Guimarães se esforça para desenhar com consistência essa mudança, mas sem descaracterizar a personagem que passa a ter um pouco mais de consciência. Enquanto isso, Mirelly é catequizada primeiro pela dor, depois pelo amor. Antes de ser acolhida pela irmã mais velha, ela tenta a todo o custo esconder que estrelou um escândalo nacional por conta da sua apropriação do apartamento alheio para continuar construindo uma imagem falsa. Susana Garcia não quer investir (ou não consegue investir) tanto quanto possível na elaboração da mudança e tampouco na observação das aparências como a ruína da personagem. Há realmente um desnível entre as protagonistas, sobretudo porque Ingrid permanece empenhada na missão de manter uma personagem coesa enquanto Tatá parece mais preocupada em utilizar uma metralhadora de palavras e improvisos a fim de instaurar o caos. Ainda assim o saldo é positivo.
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