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Sinopse

Duas garotas se mudam para uma casa de campo e passam a ter aventuras com os espíritos da floresta que moram ali perto.

Crítica

O que representa melhor uma criança cheia de ideias impossibilitadas de serem postas em prática do que um amigo imaginário? Após o sucesso de seus filmes anteriores, Hayao Miyazaki resolveu deixar de lado os cenários grandiosamente fantásticos das aventuras para se concentrar na mente dos pequenos. Algo que, curiosamente, o catapultou ao lado de nomes como Walt Disney, de quem é tido como o equivalente asiático. Não à toa, Meu Amigo Totoro foi um de seus longas mais populares, tanto que o fofo melhor amigo da protagonista acabou se tornando mascote do Studio Ghibli desde então.

No enredo, Mei é uma menina solitária com um pai que trabalha muito e uma mãe doente que está hospitalizada. Visitando-a de vez em quando, mas tendo a maior parte do tempo para viver em sua introspecção, ela conhece o espírito da floresta chamado Totoro. Em princípio, só ela o enxerga, mas sua irmã também não demora a desfrutar da agradável convivência do pestinha risonho e dorminhoco que acaba encantando todos que o veem.

O longa é uma fábula extremamente metafórica sobre a solidão dos pequenos abandonados em maior e menor grau e como a sensibilidade e a falta de preconceitos nas crianças as torna objetos singulares de estudo. Totoro é a representação máxima da inocência e dos desejos infantis, da capacidade de se conectar ao outro da forma mais pura e sem segundas intenções. Sua amizade estabelecida com as irmãs é uma das mais bonitas e sensíveis já contadas na história do cinema, especialmente no mundo da animação. É através dele que a dupla, sobretudo a mais velha, consciente da situação precária da mãe, consegue escapar da dor de não ter o carinho desta de forma presente.

O mais interessante de tudo é que Miyazaki não deixa a tristeza tomar conta da narrativa, encarando as provações das irmãs como etapas naturais do ciclo da vida. É o processo de amadurecimento dos jovens sendo contado da forma mais didática e lírica possível. Não tomamos Totoro apenas como o amigo imaginário, mas sim na condição do melhor amigo possível dentro daquela realidade. E quem não gostaria de ter um animal falante e grande como um urso como seu defensor nas horas mais difíceis?

Ambientando o longa em cenários extremamente bucólicos, Miyazaki comprova mais uma vez sua predileção pela defesa da natureza e de seus habitantes, criando a paixão pelo tema através de suas protagonistas e extrapolando estes limites além da tela, buscando ao máximo atingir estas ideias no espectador mais desavisado, sem nunca doutriná-lo. A união do debate com a rica visão infantil e amorosa das crianças torna este, não apenas um dos seus melhores filmes, como extremamente necessário para qualquer cinéfilo que se preze. Uma obra-prima em técnica, qualidade e sensibilidade poucas vezes proporcionada em tão alto grau.

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é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.
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