Metanoia
Crítica
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Sinopse
Eduardo foi criado num bairro da periferia de São Paulo. Sua infância foi em meio a brincadeiras nas ruas do bairro Jardim Ângela e a boa educação dada por sua mãe, Solange. Nada disso impediu que Eduardo mergulhasse no universo delirante e auto-destrutivo das drogas.
Crítica
Há alguns anos – pouco mais de uma década – descobriu-se uma vertente até então pouco explorada na cinematografia nacional: a dos filmes religiosos. Tudo ganhou força com o sucesso de Maria, Mãe do Filho de Deus (2003) e o subsequente Irmãos de Fé (2004), ambos embalados pela presença do padre pop Marcelo Rossi no elenco. A febre seguiu não só no catolicismo, mas também no meio espírita – Nosso Lar (2010) teve mais de 3 milhões de ingressos vendidos. Porém, em comum em todos estes projetos percebia-se um certo amadorismo profissional e um catequismo um tanto exagerado, que acabava funcionando apenas entre os já convertidos e afastando qualquer curioso desavisado. Pois é mais ou menos o que acontece novamente em Metanoia, longa baseado em fatos reais que aposta na mensagem da fé em Deus como método para superar o vício nas drogas.
Com direção do estreante Miguel Nagle, Metanoia se tornou realidade graças à união de duas produtoras audiovisuais assumidamente religiosas: Companhia de Artes Nissi e 4U Films. Elas estão juntas com a missão de levar ao público uma história verídica protagonizada por Caíque Oliveira (também co-autor do roteiro, ao lado do diretor), um jovem da periferia paulistana, órfão de pai, que apesar da criação materna dedicada acaba sendo convencido pelos amigos a experimentar maconha e crack, até não ter mais como se recuperar sozinho. A dependência toma conta do rapaz, e nem a morte de amigos próximos na mesma situação parece fazer com que mude de comportamento. Segue-se, a partir de então, a velha cartilha a qual já estamos acostumados a ver nestes casos: mentiras, assaltos, roubos na própria casa e o desespero nas ruas da “Cracolândia”, região central da capital paulista.
Caíque e Miguel são bem intencionados – mas, como todo mundo sabe, de boas intenções o inferno está cheio. A direção de fotografia procura não se render ao óbvio, enquanto que é visível um certo cuidado em termos de direção de arte e figurinos. Há um planejamento quanto às questões técnicas da produção, uma atenção que felizmente evita que o longa caia na vala comum do discurso panfletário sem valor artístico. No entanto, falta experiência ao realizador de apenas 31 anos para abrir mão de recursos redundantes, como a desnecessária narração em off – que até se justifica no final, mas ainda assim – e a montagem desconstruída, que apesar do efeito não se justifica. Por vezes, o mais simples é também o mais eficiente.
Quanto ao elenco, chama atenção a presença de nomes como Caio Blat, Thogun Teixeira, Silvio Guindane e Solange Couto, todos em participações menores. O de maior destaque é Blat – que, no entanto, sai de cena ainda na primeira meia-hora da trama – e sua presença deve refletir o interesse do ator pelo tema, visto que em seu currículo consta também a cinebiografia Bezerra de Menezes: O Diário de um Espírito (2008), outro título de forte inspiração religiosa. E se estes servem para atraírem um público que normalmente não se interessaria por este tipo de produção, os protagonistas Oliveira e Einat Falbel (que interpreta a mãe sofredora) quase colocam tudo a perder. O primeiro é incapaz de expressar emoções mais complexas – o tom que assume é constante e monocórdico, independente do contexto – enquanto que ela serve apenas como escada para o outro, sem uma presença de maior influência na narrativa.
Metanoia foi muito premiado no II Festival Nacional de Cinema Cristão, vencendo oito das doze categorias existentes. Seria curioso se inteirar dos demais concorrentes e imaginar como se sairia frente a filmes de maior expressão, ou ao menos não inseridos em um evento de cunho temático tão específico. Ainda que sua mensagem seja edificante, há pouco de revelador ou surpreendente enquanto conteúdo autoral. Àqueles que forem ao seu encontro já sabendo o que encontrar devem ficar satisfeitos, mas é de se questionar qual o valor de um trabalho como esse diante espectadores não-iniciados e que estejam em busca de arte e entretenimento – as duas diretrizes maiores do cinema enquanto forma de expressão.
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Não é uma obra prima, mas é sempre bom abordar temas complexos no cinema. Proporciona muitas reflexões...
Embora entenda "Papo de Cinema" em sua refutação aos comentários, a crítica ao filme é sim esdrúxula. Como crítico de cinema, o autor da matéria deveria lembrar que quem está por trás da produção não é nenhum "superstar" da produção cinematográfica e que o objetivo do filme não é ganhar prêmios, é, antes, ideológico e filantropo. Além do mais, a expressão: "...de boa intenção o inferno está cheio" é de mau gosto e soa sarcástica diante do propósito do filme. Como crítico, nota ZERO. O problema é que esses "críticos" esquecem que quem os lê, também tem visão crítica!
Oi Li a critica e achei até que o critico foi querido. Acabei de ver o filme no cinema é um lixo. Não indico. Ator velho pra fazer um filho. Gordo pra fazer um viciado em crack. Deprimente horrivel
Obrigada por esclarecer e corrigir, Robledo! Sobre o item 1, não são produtoras católicas, de fato, uma pesquisa mostra a relação com a temática cristã, são produtoras evangélicas, não se trata de parecer pejorativo, se trata de ser uma informação equivocada que compromete a credibilidade, entende?! Sim, há uma história por trás da história, de uma mãe que de fato tentou de maneira desesperada salvar o filho. Mas a vida de Eduardo é também um recorte de diversas vidas [perdidas] no vício do crack. Mas toda crítica é válida para que esses corajosos produtores passam melhorar cada vez mais. Creio que para eles todas as críticas serão bem-vindas, afinal, colocaram um filme no circuito para isso!!! Abraço!!!
Caros, estamos felizes com a repercussão que o filme Metanoia está obtendo aqui no Papo de Cinema. No entanto, pelas dúvidas levantadas nos comentários, achamos justos esclarecer alguns pontos referentes à crítica: 1 - não vemos problema algum em ser ou não ser "assumidamente católica". Vocês é que parecem ter entendido o comentário como algo pejorativo. No entanto, basta fazer qualquer pesquisa na web ou visitar os sites das duas produtoras citadas para perceber a relação delas com o tema; 2 - correção feita quanto ao fato da trama não ser a história do Caique, ainda que seja, sim, inspirada em fatos reais e escrita por ele (a intenção inicial que foi mal interpretada); 3 - em nenhum momento foi intenção dizer que o ator Caio Blat só se envolve com produções desta temática. Apenas destacamos seu interesse pelo tema. Conhecemos bem o artista e sua obra, e estamos cientes do seu potencial e das tantas e diversas obras das quais ele já participou. No mais, acho que os comentários refletem bem o que é dito no texto: "os iniciados ficarão satisfeitos por encontrar o que esperam". E toda defesa que está sendo feita se refere ao tema, o que também reconhecemos ser válido. E também concordamos que se trata de um filme corajoso. Mas nosso foco aqui não é o social, e sim o artístico. E é aí em que encontramos alguns problemas, como é explicado no artigo acima. Grande abraço a todos! Robledo
Olá, boa tarde, Milani. Gostaria de esclarecer que: 1 - Companhia de Artes Nissi e 4U Films não são duas produtoras audiovisual assumidamente católicas. 2 - O drama não é a história verídica de Caíque Oliveira. 3. se um dia tiver a oportunidade de falar com Blat saberá que ele é um ator que faz cinema pela arte, não porque o filme tem um gênero assim ou assado. Ele faz porque acredita!!! Compreendo que como crítico seu papel é enxergar e dar sua visão sobre o filme. Mas é lamentável que hajam tantos equívocos em seu texto. Isso faz com que perca credibilidade, não acha? A impressão que tenho é a de que não assistiu ao filme. Que pode ser sim uma produção de baixo orçamento e pode sim conter seus erros, exageros ou o que mais achar. Mas acho esse um projeto corajoso. Muito corajoso. Quantos se arriscam a falar de um tema tão necessário? Alguém ai está preocupado com a saúde desses jovens devastados pela droga. Vejo esse filme como alerta. E independente do que digam FAÇO O CONVITE PARA QUE TODOS VEJAM, INCLUSIVE VOCÊ!! Abraço!!!
Mais um prova de que vc não assistiu o filme é que i filme não é baseado na história do Caique da um pesquisada na vida dele, e vá hoje na estréia assista o filme!
Bela crítica dá para perceber o quão grande foi sua pesquisa. Assumidamente Católicas? Acho melhor você descartar sua fonte de pesquisa! ao contrário da amiga de cima eu li tudo, mais foi sonora confirmar que sua fonte é pobre.
"Metanoia se tornou realidade graças à união de duas produtoras audiovisuais assumidamente católicas: Companhia de Artes Nissi e 4U Films." De onde você tirou esta informação? Nem terminei de ler a crítica. Pra mim perdeu a credibilidade ao passar informação errada sobre os produtores do filme. Nem sequer gastou tempo para conferir as informações, porque eu perderia o meu lendo seu texto?