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Sinopse

Raimali é uma  jovem vítima de estupro. Numa casa abandonada, ela recorda como separatistas marcaram a sua vida, a de seu namorado e a de suas famílias, contrastando a natureza intrusiva com o folclore indígena e a imutabilidade da paisagem Assamese.

Crítica

Quando cineastas abordam conflitos, é comum que os roteiros procurem oferecer um panorama geral da situação, explicar as razões para o embate e talvez até caracterizar um ou ambos os lados. Entretanto, para Manju Borah, diretora deste A Menina e a Coruja, a contextualização pouco importa. O filme não busca educar o espectador ou determinar quem está certo ou errado nas contínuas lutas entre movimentos separatistas assameses e o governo indiano. O foco é no sofrimento das pessoas comuns, as maiores vítimas da matança. O enredo, adaptado pela diretora a partir do romance assamês Dao Hudur Gaan, acompanha a jovem Raimali (Reshma Mushahary) em suas divagações a respeito das profundas marcas deixadas nela e em seus conterrâneos pela interminável violência. Ao longo de sua vida, Raimali testemunha a morte de inúmeros inocentes em seu humilde vilarejo no nordeste da Índia e sente na pele os horrores causados pelo conflito.

Fica evidente, desde os primeiros minutos de projeção, que a diretora aborda, aqui, um tema que lhe é muito caro. De origem assamesa, Borah observa com paciência, carinho e respeito o cotidiano da pequena vila Bodo, uma comunidade étnica particular ao estado de Assam, com língua e costumes muito distintos de outras regiões da Índia. Com uma fotografia belíssima, o filme é repleto de cores vibrantes e longos planos das paisagens do local, mostrando, por exemplo, o delicado trabalho de tecelagem das coloridas sedas assamesas e os vastos campos de chá que garantem a renda de boa parte dos moradores da vila.

Por focar no fluxo de consciência da personagem principal, as imagens seguem uma estrutura não linear, caminhando pelas experiências de Raimali e dando saltos do passado para o presente e vice-versa. A montagem, porém, nem sempre consegue dar a essas divagações um ritmo agradável ou estabelecer uma lógica própria. Falta à narrativa uma condução mais clara, uma linha de raciocínio capaz de guiar o espectador no tempo e no espaço da história. Apesar desta ser uma obra deliberadamente poética e contemplativa, a falta de uma edição capaz de situar o espectador é sentida profundamente, já que o ritmo irregular parece esticar a curta duração do filme.

Mesmo com problemas na linha narrativa, entretanto, a mensagem pacifista de Borah é sempre clara. Milhares de assameses inocentes morreram nas últimas décadas – e os conflitos continuam – em nome de diferenças étnicas e religiosas, pelas mãos tanto dos insurgentes quanto dos soldados. Independentemente de como a realizadora se sente a respeito da questão da separação de Assam, a verdadeira crítica de A Menina e a Coruja é, antes de tudo, à violência irracional e desenfreada. Para as pessoas simples do universo de Raimali, pouco importa se um assassino usa farda ou roupas comuns: a destruição é a mesma e o sangue inocente continua a ser derramado do mesmo jeito.

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cursa Jornalismo na Universidade Presbiteriana Mackenzie em São Paulo e é editora do blog Cine Brasil.
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