Crítica


4

Leitores


12 votos 5.8

Onde Assistir

Sinopse

Um rapaz mata os pais e vai ao cinema. Uma mulher rica e entediada abandona o marido e se isola numa casa, onde satisfaz fantasias sexuais com outra mulher. Num barraco, um homem mata uma mulher por amor. Mais adiante, duas jovens suburbanas se amam, e a mãe de uma delas é assassinada por interferir na intimidade das duas. Um homem mata sua mulher porque ela reclama das dificuldades financeiras.

Crítica

Quando rodou Matou a Família e Foi ao Cinema em 12 intensos dias no fim dos anos 1960, Júlio Bressane quebrou paradigmas estéticos e narrativos da cinematografia nacional, ofereceu novas possibilidades para o Cinema Novo e precursionou o Cinema Marginal e outros movimentos niilistas e de vanguarda. Resultado: depois de poucos dias em cartaz, o filme foi retirado de circulação pela censura. Em 1991, Neville D’Almeida foi o responsável pela refilmagem da tão icônica obra, numa versão com mais recursos e apoiada pelo próprio Bressane – então roteirista e produtor. Resultado: o filme foi produzido e lançado mesmo numa época de recursos extremamente escassos para o audiovisual brasileiro, que precedeu a retomada deste. Como se pode perceber, a história do cinema não foi sempre justa.

Dividido em cinco pequenas histórias, Matou a Família e Foi ao Cinema se inicia com uma trama que segue o título literalmente. O jovem Bebeto (Alexandre Frota), reprimido pelos pais por não conseguir um emprego, os assassina impiedosamente com uma faca de açougueiro. Depois, ele segue para a sessão de quatro curtas-metragens que contam histórias de paixões, frustrações e morte. Duas mulheres que deixam seus maridos para viver um caso; duas meninas assumem seu amor recíproco, mesmo para o horror da mãe de uma delas; um pai de família amargurado e alcoólatra decide acabar com suas frustrações familiares; um ladrão peculiar assalta mulheres e delas rouba apenas suas peças de roupa íntima.

O que de melhor esta refilmagem tem a oferecer está em seu simbólico título e na crítica ao sensacionalismo midiático, que permanece contemporânea, mesmo passados quase 50 anos de tal pretensão do filme original. As ponderações sobre a banalização da violência e a exploração sexual no cinema, outras urgências do longa de Bressane, aqui parecem servir justamente ao propósito contrário; não existem maiores reflexões além da possível contemplação de corpos nus e sangue. Os flertes com a literatura de Nelson Rodrigues também se perdem; os dramas familiares e de relacionamento são superficiais, quase banais, e não oferecem o mínimo suficiente para que o espectador se importe com quaisquer personagens e, muito menos, com seus previsíveis fins.

Ainda assim, há algum exercício de estilo interessante perdido entre tantos problemas do longa-metragem de Neville D’Almeida, como em seu início com uma trilha agressiva e sem quaisquer créditos iniciais além daquele sugerido por uma manchete de jornal com o título do filme. O jornal impresso, sempre que aparece, está lá para ser queimado, enrolar a carne e quaisquer outras funções que não sejam a de leitura. O preto e branco do prólogo também é bem fotografado, porém é prejudicado pela impossibilidade de se levar a sério o protagonismo de Alexandre Frota – conflito que o tempo e o próprio “ator” ajudaram a piorar.

Em suma, as atuações de Matou a Família e Foi ao Cinema são todas razoáveis; Claudia Raia aparece em cena quase que apenas para ficar nua, sina que também acomete Louise Cardoso e Frota. Maria Gladys, por sua vez, faz valer suas personagens em diferentes segmentos pela comicidade e versatilidade da atriz. Ana Beatriz Nogueira, que tem duas pequenas sequências, foi até premiada no Festival de Gramado em 1991, talvez num daqueles anos em que não existem muitas outras opções para serem seriamente consideradas.

Ainda que polida visualmente e definitivamente mais audível e compreensível – em termos sonoros – que seu precedente, eis um remake que parece apenas predisposto a melhorar problemas técnicos de sua base original e atualizá-la para novas audiências. Ambas as intenções são tão desnecessárias quanto falhas e, mais uma vez, aqui vale aquela óbvia máxima de que, na dúvida, fique com o original.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
avatar
é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Graduado em Publicidade e Propaganda, coordena a Unidade de Cinema e Vídeo de Caxias do Sul, programa a Sala de Cinema Ulysses Geremia e integra a Comissão de Cinema e Vídeo do Financiarte.
avatar

Últimos artigos deConrado Heoli (Ver Tudo)

Grade crítica

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *