Crítica


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Sinopse

Quatro membros de uma família se preparam para celebrar o fim do ano em uma casa no campo. Um anão maltrapilho - que diz ser Deus - avisa que exterminará a humanidade ao amanhecer e que a família deve escolher os dois únicos sobreviventes.

Crítica

Ninguém está preparado para receber a visita de Deus. Muito menos o quarteto disfuncional que aqui recepciona o Todo Poderoso durante a noite de réveillon. A divindade não tem a aparência que os personagens esperavam e a dúvida, se estavam ou não falando com Deus, é algo que se repete a noite toda. A presença dele ali, no entanto, não é nada louvável, como os espectadores poderão perceber ao assistir a essa divertida e exagerada produção assinada pela dupla espanhola Caye Casas e Albert Pintó chamada Matar a Deus.

A trama já começa sangrenta. Uma família em um carro tem um fim bombástico ao cruzar o caminho de um andarilho maltrapilho anão que teima em não sair da frente do veículo. Depois, conhecemos os protagonistas. O casal formado por Carlos (Eduardo Antuña) e Ana (Itziar Castro) está vivendo maus bocados. O homem, ciumento demais, pegou uma mensagem do chefe da mulher em seu celular e não consegue tirar da cabeça que foi traído. Nesse clima nada amistoso chegam para o jantar de ano-novo seu pai (Boris Ruiz), feliz pela vida de mulherengo após um tempo de luto, e seu irmão Santi (David Pareja), arrasado pelo término de seu relacionamento. A noite transcorria normalmente até que um sujeito (Emilio Gavira) sai do banheiro da casa, o anão do início do filme, afirmando ser Deus. E não é só isso. Ele está ali para que os quatro decidam quem serão os dois únicos sobreviventes na Terra. Sim. Deus planeja dizimar a nossa espécie. Calhou para aquelas figuras escolherem os únicos remanescentes do mundo. Mas será que aquele homem está falando a verdade?

Casas e Pintó se divertem com as possibilidades da história e, claro, não respondem às dúvidas dos personagens com facilidade. O Deus de Gavira dá demonstrações de seus poderes especiais e, portanto, poderia muito bem ser quem estava dizendo. No entanto, ele não é onisciente ou onipresente como a representação divina que conhecemos, o que gera nos protagonistas a recorrente dúvida e, por fim, a vontade de matar Deus, como o título do longa já anuncia. Até chegarmos lá, todavia, muita graça acontece. O quarteto principal tem um bom timing cômico, com destaque para Antuña e Castro, que vivem se bicando. Por sua vez, Gavira é um Deus ameaçador, corretamente interpretado pelo ator com certa instabilidade. É necessário que tenhamos a dúvida se aquele sujeito é ou não Deus e, com a performance, essa questão é sempre lembrada.

A direção de arte ajuda na construção desta comédia farsesca, com a residência onde a história se passa sendo um exagero completo. Quadros, cabeças de animais empalhados, cores estranhas, tudo o que é possível e impossível está nas paredes daquela casa. Os realizadores partiram do zero na criação do ambiente e o clima barroco das instalações conversa totalmente com o excesso da história. E se não bastasse isso, o sangue também jorra em alguns momentos pontuais, algo que saciará a sede dos amantes do cinema de horror.

Embora curto, com 93 minutos, Matar a Deus poderia ser ainda mais enxuto. Algumas ideias ficariam melhor no chão da sala de edição – como a primeira cena da família sendo morta, ou simplesmente o encurtamento de algumas situações – dando assim ao filme mais ritmo. Ao menos, os diretores conseguem evitar que o longa se transforme em uma história de uma piada só, trazendo personagens interessantes, um desfecho criativo e engraçado em sua inevitável melancolia.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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