Crítica

Marley e Eu é um daqueles filmes que tem tudo para dar certo – e realmente funciona. Não tem grandes reviravoltas, não guarda surpresas, e nem é dos mais originais. Mas é honesto com seu público, entregando exatamente o que promete: boas doses de risos e uma carga emocional bastante intensa – será praticamente impossível não sair da sessão com os olhos inchados de tanto chorar! Mas como quem vai assisti-lo estará em busca exatamente disso, não há problema algum em dispor de uma trama leve, familiar e universal, que comove e diverte na medida certa. É entretenimento, puro e simples. E nada mais.

Baseado no best seller escrito por John Grogan e inspirado em fatos verídicos acontecidos com o próprio autor, Marley e Eu chega à tela grande com ares de superprodução. Afinal, tem um diretor recém saído de um grande sucesso – David Frankel, de O Diabo Veste Prada – e conta com uma dupla de protagonistas bem  populares – Jennifer Aniston, do extinto seriado Friends, e Owen Wilson, de Penetras Bons de Bico e Uma Noite no Museu. Isso sem falar de alguns coadjuvantes de luxo, com o oscarizado Alan Arkin (Pequena Miss Sunshine), que simplesmente rouba todas as cenas em que aparece, e a quase irreconhecível Kathleen Turner (Peggy Sue – Seu Passado à Espera), além de outros rostos familiares, como Eric Dane (Grey’s Anatomy) e Haley Bennett (Letra e Música). Já o roteiro, escrito por Scott Frank (indicado ao Oscar por Irresistível Paixão) e Don Roos (Finais Felizes), não é dos mais inventivos, contendo poucos momentos de maior brilho e preocupando-se apenas em trilhar de modo cronológico os eventos narrados no livro. Ou seja, quem leu a trama não irá se surpreender, enquanto que os novatos irão se deparar com algo bastante tradicional.

E do que trata Marley e Eu? Ao contrário do que se poderia supor pelo título, não é a respeito da relação entre duas pessoas, e sim do que acontece a uma família a partir do momento em que decidem adotar um cão. O Marley em questão é um labrador completamente atrapalhado e sem noção, apelidado pelo próprio dono como ‘o pior cachorro do mundo’. O jovem casal (Wilson e Aniston) decide adquirir o bicho para testar suas habilidades paternais, mas o teste que a natureza lhes impõem supera qualquer uma das piores expectativas. Por fim os filhos irão aos poucos surgindo, da mesma forma que o animal, já parte da família, irá envelhecendo, até o inevitável final. Episódio, claro, mais do que esperado, porém não menos lacrimoso e tocante.

Algumas situações que estão fora de cena se impõem com uma força um pouco incômoda em Marley e Eu. Pra começar, apesar do cartaz do filme trazer apenas a foto do cachorro, ele é quase que um mero coadjuvante na história. Afinal, há dois atores muito bem pagos à frente do elenco, e eles querem o devido destaque. Depois há o fato da atriz não desejar ficar atrás do ator. Se no livro o homem é o personagem principal, na versão cinematográfica os dois – marido e mulher – dividem forças de modo equilibrado. Isso, por um lado, tem até um ponto positivo, afinal Aniston tem um potencial dramático muito superior ao de Wilson, mais acostumado a desempenhos pouco exigentes. E há ainda o contraponto entre drama e comédia, em saber quando provocar momentos hilários, alternando-os com outros de lágrimas compulsivas. Mas Frankel cumpre sua missão à contento, e Marley e Eu acaba sendo um programa para toda família, sem grandes ambições, mas seguro de suas capacidades. E tem vezes em que isso está mais do que bom.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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