Crítica
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Sinopse
Crítica
Esse filme já foi feito. E melhor. Isso não quer dizer, no entanto, que o que agora se apresenta não mereça ser observado com cuidado. Pelo contrário. Afinal, há um cativante senso de improviso e desfaçatez no conjunto orquestrado por Roberto Marquez que, se não chega a fazer do resultado algo memorável, ao menos o dota de certa simpatia que é quase impossível não se compadecer pelos dramas vividos por alguns desses aqui reunidos, principalmente pelo patético, ainda que genial, escritor que ganha vida por um bastante desenvolto Eriberto Leão, provavelmente em uma das suas melhores performances na tela grande (não que isso seja muito, visto que o ator tem apenas trabalhos esporádicos no cinema, mas ainda assim). Maior que o Mundo não chega a ser grande o suficiente (com o perdão do trocadilho) para se provar relevante, mas por outro lado é dono de uma energia e desprendimento tamanho que, independente da quantidade de tropeços dados em sua realização, esses ainda são menores frente à possível identificação gerada.
Kbeto (Leão, entregue ao personagem como se tal fosse) é autor de um sucesso literário, e destes louros obtidos em sua estreia na literatura segue sobrevivendo, mesmo tendo se passado tantos anos. É o típico artista do submundo, que passa seus dias em bares pouco recomendados, pendurando fiado sempre que possível, e de lá saindo apenas para se dirigir a inferninhos ainda piores. No seu ciclo de amizades está figuras como Mina (Luana Piovani, preocupada com uma caracterização externa, mas sem muito com o que agregar ao todo), Audra (Gabi Lopes, de A Mulher do Meu Marido, 2019) e Kim (o estreante Lucas Miagusuku). São todos boêmios e inconsequentes, preocupados com o próximo gole, a transa a seguir, em viver e esquecer, talvez não necessariamente nessa ordem. Os quatro possuem uma ligação particular, que pode ou não incluir outros nessa matemática. Essa libertinagem, no entanto, irá chocar o protagonista quando é chamado para uma festinha na qual está também a própria filha, Maria João (Maria Flor, tentando vingar como uma presença rebelde que nem sempre convence), lhe é apresentada como namorada de uma das suas conquistas habituais.
Esse embate entre liberdade e conservadorismo poderia render uma discussão interessante, mas Marquez não demonstra interesse além do choque de gerações passageiro. Mais focado está no futuro profissional do protagonista, alguém que, por já ter sido alçado a um posto de admiração e respeito, permanece se comportando como tal, mesmo há muito tendo perdido tal condição. Kbeto vive de glórias passadas, ainda que essas não mais consigam lhe sustentar – seja pelo bolso, como também no emocional. É por isso que sabe ser não apenas necessário, mas urgente, abandonar essa estagnação e produzir algo, se não à altura da imagem que criou para si, ao menos com impacto suficiente para validar sua permanência nessa zona de conforto criativa ao qual se acostumou. E nada melhor para servir como impulso para que alguém, enfim, comece a agir, do que atingir o fim do poço. Pois será exatamente nesse lugar, no fundo da caçamba, onde encontrará um manuscrito que irá mudar sua vida. É preciso olhos preparados para separar o ouro do lixo. E eis aqui alguém que os tem.
De posse dos escritos de outro, Kbeto irá gerar sua nova obra, um tomo que tornará sua presença ainda mais imprescindível ao cenário artístico. Porém, junto com a consagração, vem também a popularidade – como se autores de livros fosse mais conhecidos no Brasil do que ex-BBBs – e com ela a atenção do verdadeiro autor da trama transformada em livro. O mote, como se vê, é tão genérico que, após ser revisitado à exaustão nas mais diversas formas – até no cinema brasileiro, como o interessante Entre Nós (2013) comprovou – pouca importância irá adquirir diante dos demais acontecimentos. Giovanni Venturini (Veneza, 2019) é desperdiçado em seu diminuto tamanho apenas para estabelecer contraponto ao título, o músico Otto parece ter se divertido como um mafioso com sede de sangue, e a saudosa Fernanda Young, em uma das suas últimas aparições, surge como ela mesma numa tentativa de crítica à indústria cultural. Porém é tudo tão farsesco e amadoramente engendrado que nada levado adiante pelas conjunções desenhadas – sejam ameaças de morte ou promessas de sucesso – soam minimamente convincentes. É de se imaginar que os atores devem ter se divertido com tamanha gratuidade, certamente mais do que o espectador do lado de cá da tela.
Se o enredo soa frágil em sua proposta e os atores oferecem reações que vão do deboche à incredulidade, Maior que o Mundo não se mostra descartável por completo pelo tom nitidamente farsesco que assume, deixando claro ser essa uma piada, e como tal deve ser vista. Se a graça que busca emular é suficiente para contaminar aqueles dispostos a enfrentá-la, essa é outra discussão. Mas que não se condene o absurdo justamente pela improbabilidade de seus encontros. Da mesma forma, é sabido que aqui se encontram não mais do que arquétipos, figuras desprovidas de relevo, mas frenéticas em suas inquietações, e por isso mesmo, ao menos curiosas como estudo de personagem e como estrutura narrativa, seja pelos eventuais acertos que vez que outra apresenta, como também pelos equívocos que acumula. Sem disfarçá-los ou escondê-los, mas envergando os mesmos como imprescindíveis ao conjunto. Para tanto, coragem se faz necessária. Elemento esse que, se não chega a ir longe, ao menos provoca o suficiente para não permanecer estático no seu lugar de origem.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Robledo Milani | 5 |
Alysson Oliveira | 2 |
Alex Gonçalves | 5 |
MÉDIA | 4 |
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