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Sinopse

Da cadeia, o mítico João Acácio (que não morreu, como era de se esperar) acompanha as aventuras do filho que aterroriza São Paulo e assim continua seu legado.

Crítica

Como falar mal de um clássico do cinema nacional? Antes que alguém se assuste – ou se empolgue – não farei isso. Ao menos não agora. Isso porque Luz nas Trevas não é O Bandido da Luz Vermelha (1968), pois mais que existam proximidades entre os dois projetos. Não vi o filme original, dirigido por Rogério Sganzerla em plena ditadura militar e que hoje é visto como um marco. E como tal deve permanecer, acredito. Helena Ignez, viúva do cineasta, pegou um roteiro de mais de mil páginas – e inacabado – escrito por ele e, com o apoio das filhas – uma produz, a outra estrela – realizou essa obra (os créditos de direção são divididos com Ícaro Martins, mas quem assim como Um Filme de... é ela) que tem como principal mérito resgatar uma obra referencial, mas que, infelizmente, não se sustenta pelas próprias pernas.

Assim como o anterior – e ainda mais insuportável – Canção de Baal (2007), Luz nas Trevas é um trabalho complicado e voltado para uma plateia bastante específica. Ele se assume como uma continuação direta de O Bandido da Luz Vermelha, mostrando o famoso bandido que virou ícone popular mais velho, vivendo dentro da cadeia, enquanto que o filho único decide seguir os mesmos passos paternos, realizando uma série de crimes por São Paulo tendo como principal arma uma lanterna envolta em um lenço vermelho. Mas não espere por um roteiro trabalhado, por diálogos inspirados ou por personagens definidos. É tudo uma impressão, uma vontade ou um sentimento, e qualquer explicação que se julgar necessária que fique por conta do freguês. Tudo-ou-Nada (André Guerreiro) é o filho que descobre, já adulto, quem é o pai e o que ele fez. A verdade o liberta, ainda que numa direção tão equivocada quanto suspeita.

O ponto de maior interesse em Luz nas Trevas, no entanto, talvez seja a participação do cantor Ney Matogrosso como protagonista, o próprio Bandido da Luz Vermelha, papel que no filme anterior foi vivido por Paulo Villaça. Ney tem uma presença forte e se encaixa bem no tom alegórico adotado pela diretora, mas não possui virilidade nem voz para encarnar um homem quase mítico, que virou lenda ainda vivo e que teria o poder de influenciar tantas vidas ao seu redor. Próprios elementos da história do personagem são alterados nesta nova história, posicionando-a mais como uma recriação de que como uma sequência.

Com participações especiais – algumas tão rápidas que, se piscar, é capaz de passarem desapercebidas – de nomes reconhecidos como Paulo Goulart, José Mojica Marins (Zé do Caixão), Bruna Lombardi, Simone Spoladore, Sandra Corveloni e Maria Luiza Mendonça, Luz nas Trevas é um filme fora do seu tempo, que não consegue estabelecer uma comunicação efetiva com o público da atual geração. É um produto que não se encontra, por vezes ingênuo, em outras ambicioso demais, e por fim ultrapassado e perdido dentro de sua própria proposta. Uma curiosidade, e não mais do que isso.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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