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Sinopse

Bryan Stevenson é um renomado advogado de defesa. Um de seus primeiros – e mais polêmicos – casos é o de Walter McMillian que, em 1987, foi condenado à morte por assassinato, apesar das evidências que apontavam sua inocência e o fato de que o único depoimento contra ele veio de um criminoso com motivos para mentir.

Crítica

Terra das oportunidades, o sonho americano, onde é possível prosperar (e enriquecer) das mais variadas formas. Por trás do mantra sedutor tantas vezes propagado em torno dos Estados Unidos, há também uma nação com uma profunda fissura social decorrente do preconceito racial, por décadas. Não é de hoje que o cinema escancara esta ferida, em filmes como o demolidor Eu Não Sou Seu Negro (2016) e o recente (e excelente) Infiltrado na Klan (2018). Luta por Justiça é mais um a adentrar esta árida seara do racismo, baseado em uma história real.

Entretanto, mais do que meramente contar a história de um homem condenado à morte em um julgamento repleto de erros técnicos, negligenciados em nome do preconceito, o diretor Destin Daniel Cretton vai além ao associá-lo a um libelo do convívio em harmonia: O Sol é para Todos, clássico absoluto escrito por Harper Lee e adaptado às telonas em 1962, com Gregory Peck como o emblemático Atticus Finch - eleito pelo American Film Institute como o maior heroi do cinema mundial, sempre é bom lembrar. Não há, porém, qualquer comparação entre as obras, apenas a triste ironia do caso em questão ter ocorrido justo em Monroeville, local onde o livro foi escrito. Ou seja, o tempo passa e pouco muda quando há preconceitos tão enraizados.

Ao elaborar a narrativa deste típico filme de tribunal, Cretton busca ainda referências cinematográficas relevantes junto ao público negro, em especial Sidney Poitier. A dignidade e o respeito tantas vezes encampados pelo ator em seus filmes aqui podem também ser vistos em Michael B. Jordan, o advogado idealista que assume a causa do condenado Walter McMillian. Mais do que uma grande atuação, Jordan entrega a admiração intrínseca a quem defende com tanta garra o fim de tamanha injustiça, com respeito e atenção ao próximo, seja ele quem for. Não por acaso, lembra Atticus Finch.

Tendo por objetivo a denúncia dos abusos cotidianos na sociedade norte-americana, Luta por Justiça é um filme que por vezes carece de ritmo, graças ao didatismo empregado na construção da defesa do acusado. A presença de Brie Larson, por exemplo, é muito mais em decorrência do ativismo da atriz do que por sua real necessidade na trama, ao ponto de que seria possível até mesmo retirar sua personagem da narrativa, caso se optasse por um roteiro mais enxuto. Por outro lado, o filme cresce quando enfoca o acusado interpretado por Jamie Foxx, em especial seu relacionamento com os demais prisioneiros e sua tocante reação em pleno julgamento final.

Intencionalmente idealista, Luta por Justiça é um filme que toca fundo aos que prezam por uma sociedade mais igualitária, denunciando não apenas o racismo enraizado mas também a nefasta política pública de desamparo aos pobres. Por mais que tenha uma construção de narrativa bastante convencional e linear, o que torna o filme por vezes burocrático, é difícil não se emocionar com sua reta final, também por tão facilmente associá-la ao que ocorre nos dias atuais, no Brasil.

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Jornalista e crítico de cinema. Fundador e editor-chefe do AdoroCinema por 19 anos, integrante da Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema) e ACCRJ (Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro), autor de textos nos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros", "Documentário Brasileiro - 100 Filmes Essenciais", "Animação Brasileira - 100 Filmes Essenciais" e "Curta Brasileiro - 100 Filmes Essenciais". Situado em Lisboa, é editor em Portugal do Papo de Cinema.
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