Crítica


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Sinopse

Um grupo de amigos frequenta a mesma escola há mais de 40 anos. Eles sempre acreditavam que, quando seus pais morressem, eles seriam capazes de fazer tudo o que não lhes era permitido antes: viver sozinhos, dirigir um carro, ter relações sexuais, ser pais, casar e ter um trabalho. Mas, tendo Síndrome de Down, eles têm que lidar com a frustração de viver como se eles ainda tivessem dez anos, mesmo que tenham quase cinquenta.

Crítica

É curioso o que diferentes traduções do título de um filme podem revelar a respeito dele. Los Niños, nome original deste documentário da chilena Maite Alberdi, significa “as crianças”, enquanto The Grown-Ups, a versão de língua inglesa, quer dizer o exato oposto. Quaisquer que sejam as razões para a escolha de cada batismo, é significativo que esses dois tão diferentes tenham sido considerados adequados para a mesma obra. Ao final do documentário, porém, ambos acabam soando cruelmente irônicos: os personagens vivem a ambiguidade de terem deixado a infância há muito tempo, mas jamais serem vistos ou tratados como adultos.

O filme acompanha um pequeno grupo de pessoas com Síndrome de Down que já passam dos 40 anos e trabalham na confeitaria de uma escola especial. Entretanto, a confecção e venda de doces e bolos não é exatamente um emprego, já que todos estão matriculados na entidade há décadas – com mensalidades pagas pela família – e recebem apenas uma remuneração simbólica por seus serviços. O trabalho surge mais como um artifício educacional para mantê-los ocupados do que uma fonte real de sustento.

A câmera de Alberdi documenta o cotidiano de Anita, Andrés, Rita e Ricardo sem fazer entrevistas e tentando interferir o mínimo possível, embora a própria câmera já seja, é claro, uma interferência. Aqui, os personagens são, literalmente, o único foco: familiares, terapeutas e professores (e essencialmente qualquer pessoa que não tenha Síndrome de Down) surgem quase sempre como vozes em off ou figuras desfocadas ao fundo, presentes apenas para ajudar a cineasta a contar a história de suas figuras principais.

Embora comece como um retrato bem-humorado e razoavelmente otimista de uma minoria pouquíssimo representada na mídia, Los Niños coloca o espectador na pele de seus quatro objetos de estudo, que expõem francamente seus medos, vontades e ansiedades em relação à vida adulta, e, por isso, aos poucos transforma-se numa triste história da impotência profundamente sentida por cada um deles.

Boa parte da narrativa concentra-se no relacionamento entre Andrés e Anita, apoiado e incentivado pela escola. Embora os funcionários pareçam preocupados em formar adultos independentes e com autonomia, promovendo conversas sobre os sonhos de cada um, romance, sexualidade e afins, a realidade é bem mais complexa fora do conforto da familiaridade do lugar. Para o casal, o simples objetivo de selar o matrimônio e dividir uma casa tem uma série de limitações; no Chile, pessoas com Síndrome de Down não podem casar legalmente e o “salário” que ambos recebem como confeiteiros não chega nem perto de pagar um anel de noivado, muito menos sustentar duas pessoas.

Transparece, então, uma dura realidade: a de que a escola que essas pessoas frequentam há tantos anos não quer (ou não pode) ensiná-los a viver, de fato, como adultos. Quando surge qualquer passo que Andrés, Anita ou Ricardo possam dar rumo a uma vida mais independente, a sociedade ou os familiares – que às vezes são até abusivos, como demonstra uma dolorosa cena envolvendo Ricardo – tratam de tomar todas as decisões por eles e devolver cada um a seu lugar de perpétuo “treinamento” para o mundo adulto.

Resta saber, porém, se Alberdi realmente enxerga os tons sombrios da história que se propôs a contar, já que esses quatro dramas pessoais parecem se esconder sob uma superfície alegre – com cores vibrantes e uma trilha sonora animada – que pode infantilizar ainda mais os seres humanos retratados aqui.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
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cursa Jornalismo na Universidade Presbiteriana Mackenzie em São Paulo e é editora do blog Cine Brasil.
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