Crítica


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Sinopse

Como a esperança de uma vida melhor nos Estados Unidos, três adolescentes guatemaltecos embarcam numa jornada sem documentos, na qual terão de enfrentar não apenas a polícia da imigração, mas também as gangues.

Crítica

Os Estados Unidos nasceram sob vários sonhos. Entre eles, os de liberdade, autonomia individual, e igualdade. Mas o que seduziu o mundo – e em especial as Américas – foi o direito a buscar a felicidade, incluído por Thomas Jefferson na Declaração de Independência, em 1776. A aventura dos protagonistas de La Jaula de Oro, três séculos mais tarde, reafirma os valores de um país em dissonância com a realidade de seus vizinhos.

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Escolhido para representar o México no Prêmio Goya, o filme conta a travessia de um trio de guatemaltecos em direção ao estado da Califórnia, nos Estados Unidos. Logo no início, somos apresentados a Juan (Brandon López) e Sara (Karen Martínez), enquanto cuidam dos preparativos para a viagem. O garoto conta o dinheiro; ela cortar o cabelo e esconde os seios. Como se o risco que correriam lhes houvesse sido detalhada por tantos amigos e parentes, tomam todas as precauções. Nos momentos iniciais do percurso, encontrarão o índio Chauk (Rodolfo Domínguez), personagem que sofisticará a trama. Chauk não fala espanhol. A falta de comunicação cria uma desconfiança inicial que, se por um lado não os impede de compartilharem um objetivo comum, por outro, tenciona a relação entre Juan e Sara, quando o ‘diferente’ vem a se interessar pela garota.

La Jaula de Oro é o filme de estreia do diretor espanhol Diego Quemada-Diez. Sem contar com formação técnica em cinema, Quemada fez dos sets de filmagem a sua sala de aula. Acumulou experiência ao fazer assistência de câmera para grandes nomes, como Oliver Stone, Alejandro Gonzalez Iñárritu e Fernando Meirelles. Contudo, foi no contato com Terra e Liberdade (1995), Carla’s Song (1996) e Pão e Rosas (2000) que o diretor definiu e atrelou o estilo de Ken Loach ao seu registro, fazendo da estética naturalista um instrumento para a denúncia social. Nesse contexto, justifica-se a preferência por atores amadores – algo semelhante à escolha de Fernando Meirelles para o elenco de Cidade de Deus (2002) –, próximos da realidade destacada e a câmera trabalhando muitas vezes na linha de visão dos garotos, trazendo ao espectador a dimensão dessa realidade psicológica.

Um dos grandes acertos do diretor ao pensar em como contar a história foi não limitá-la à cronologia ou julgar antecipadamente as autoridades dos países envolvidos. Diego optou por criar dois conflitos, um interno e outro externo, cada um pertencente a um núcleo. Assim, ao mesmo tempo em que há tensão no relacionamento do trio – seja para preservar a infantilidade, como na cena em que correm para abater uma galinha –, também há tensão entre a delicadeza do mundo interno e o externo, rude e perverso na figura das instituições, da polícia e dos traficantes.

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Com uma sensibilidade rara, La Jaula de Oro toca em um ponto delicado da vida de milhares de pessoas. Símbolo máximo desse cenário é a imagem do trem, desumanamente carregado, levando tanta gente para o incerto. Como sustenta o ditado popular, Quemada consegue mostrar que nem tudo que reluz é ouro – e muito menos válido.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação dos Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul, e da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Tem formação em Filosofia e em Letras, estudou cinema na Escola Técnica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Acumulou experiências ao trabalhar como produtor, roteirista e assistente de direção de curtas-metragens.
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Grade crítica

CríticoNota
Willian Silveira
7
Chico Fireman
8
MÉDIA
7.5

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