Crítica


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Sinopse

Um médico e uma enfermeira plantonistas passam as madrugadas acordados a base de pastilhas especiais. No entanto, eles não estavam preparados para a invasão do hospital por uma quadrilha de ladrões.

Crítica

A DC Comics demorou demais para começar seu universo compartilhado nos cinemas. Enquanto sua rival Marvel está rindo à toa com seus consecutivos sucessos nas bilheterias, a “Distinta Concorrência” recém emplacou dois filmes que dividiram a opinião do público e da crítica. Cadê a Liga da Justiça que os fãs tanto querem assistir na tela grande? Eis que um cineasta argentino estreante conseguiu fazer o impensável e reuniu os maiores heróis da DC Comics, criando uma versão bastante particular daquela famosa Liga. Claro que Superman, Batman, Mulher Maravilha, Flash e Lanterna Verde tem versões um tanto diferentes dos originais. Mas isso não tira o brilho desta criativa produção dos nossos Hermanos, intitulada Kryptonita.

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Baseado no romance de mesmo nome assinado por Leonardo Oyola, o longa-metragem de Nicanor Loreti parte de uma premissa interessante. E se Kal-El, em vez de ter aterrissado com sua nave em Smallville, no Kansas, tivesse encontrado abrigo no município de La Matanza, na Argentina? Como acontecem nas histórias em quadrinhos, a presença de um herói chama outro e, logo, uma legião de pessoas superpoderosas se reúne no local – o que origina também, grandes vilões, obviamente. Em uma noite corriqueira em um hospital da cidade, o médico González (Diego Velázquez) se vê com uma missão longe do comum. Ele precisa salvar a vida do Nafta Super (Juan Palomino), um ser com força extrema e poderes extraterrestres que perdeu os sentidos depois de um combate mortal. Quem o leva até o doutor são seus amigos: Lady Di (Lautaro Delgado), Faisán (Nicolás Vazquez), Ráfaga (Diego Cremonesi), Cuñatai Güirá (Sofía Palomino) e Juan Raro (Carca), uma equipe de justiceiros com poderes igualmente especiais. A eles se une o solitário El Federico (Pablo Rago), que engrossa a responsabilidade daquele doutor em salvar a vida do líder daquela trupe. Quando o hospital é sitiado e aqueles seres especiais são cercados, cada um mostra sua faceta mais humana e destemida.

É impressionante o que Nicanor Loreti realiza com Kryptonita. Com orçamento limitado, mas muita criatividade, o cineasta constrói um universo bastante tangível, respondendo muito bem a pergunta que o roteiro se propõe: o que seria dos heróis mais famosos da DC Comics caso vivessem na Argentina? Segundo o texto de Leonardo Loyola, seriam vistos como delinquentes e, muitas vezes, agiriam como tal. Embora tenham atitudes heroicas, não raro eles revelam um lado egoísta ou mesmo violento demais para personagens que deveriam ser os arquétipos do bem contra o mal. Loreti apaga essa linha. Tudo é muito cinza, com os heróis mostrando seu lado mais humano – não raro, bastante cínico.

Algumas escolhas são sensacionais, como o fato da Mulher Maravilha – Lady Di – ser um travesti com um caso de amor não resolvido com o Superman – neste caso, Nafta Super. O filme constrói com muita sensibilidade os dois personagens, concebendo um relacionamento que fecha muito bem com a história sendo contada. Lautaro Delgado, intérprete de Lady Di, é o melhor do elenco, dando muita tenacidade e ternura para sua heroína. Outro destaque do cast fica para Diego Velázquez, o doutor que serve como um representante da plateia, em meio aqueles seres fantásticos. Para os fãs de quadrinhos, sobram referências a personagens conhecidos. Não só os heróis ganham versões argentinas como alguns vilões – como o Coringa e o Apocalipse – também são retratados em um novo prisma. Curiosamente, o clássico nêmesis do Batman é um policial corrupto nesta trama.

Kryptonita, filme que será exibido na abertura do festival.

Com narrativa ágil e utilizando muito bem o espaço do hospital (onde a trama se passa em sua maior parte), Kryptonita é um capítulo dos mais interessantes no cinema argentino. O filme conseguiu uma bilheteria graúda para o gênero fantástico naquele país e, devido ao sucesso sem precedentes, já tem uma série de tevê encomendada para estrear na Argentina. Uma ideia ótima, visto que os personagens dão pano para manga para mais aventuras. Esperamos que o resultado desta série chegue por aqui, algo que deve acontecer pelo fato do longa-metragem ser uma co-produção com o nosso país, via a produtora do Fantaspoa, festival responsável pela exibição da première do longa-metragem no Brasil.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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