Crítica


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Sinopse

Amargurado por uma derrota do passado, um adversário volta para pedir a revanche a Daniel e seu mentor. Porém, seu desejo não é necessariamente de desforra, mas de vingança.

Crítica

Oito anos após vencer um Oscar com Rocky: Um Lutador (1976) – que era, na verdade, um projeto muito mais de Sylvester Stallone que seu –, o diretor John G. Avildsen retornou, com Karate Kid: A Hora da Verdade (1984), ao mundo das lutas, mas dessa vez lidando com uma modalidade considerada mais “nobre” e com personagens mais jovens, alunos de uma high school na Califórnia que se enquadram perfeitamente nos estereótipos desse tipo de filme: o protagonista meio underdog, frágil, de bom coração e, por isso mesmo, vítima de bullying; o agressor babaca; e, claro, a líder de torcida popular desejada por ambos. Apesar de reproduzir uma série de clichês e de exagerar na composição de seus vilões, o primeiro Karate Kid é um filme adorável, que tira grande parte de sua força da maneira como conduz a relação entre Daniel Larusso (Ralph Macchio), o protagonista, e o Sr. Miyagi (Pat Morita), seu inusitado mestre. Morita, aliás, merecidamente indicado ao Oscar de ator coadjuvante em 1985, construiu aqui um personagem muito carismático, figura ao mesmo tempo imponente (apesar do pouco tamanho) e humana, doce no trato com aqueles que ama.

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Na primeira continuação, lançada dois anos depois do original, Avildsen retornou como diretor, optando por dessa vez manter-se no controle de uma franquia iniciada por um filme seu (até então, ele não dirigira nenhuma sequência de Rocky, o que viria a acontecer apenas em 1990, com Rocky V). Karate Kid II: A Hora da Verdade Continua (1986), no entanto, é um desastre completo, que falha ao tentar construir uma narrativa mais focada em Miyagi, levando seus personagens ao Japão para uma história desinteressante, repetitiva (dá para perder as contas das vezes que o rival de Miyagi grita de fora de sua casa, chamando-o para um aguardado confronto que nunca acontece) e que carrega ainda mais nos clichês já presentes no primeiro filme.

Daí ser bastante compreensível que, ao tentar encerrar o que seria uma trilogia, Avildsen tenha escolhido retornar a um terreno seguro, fazendo de Karate Kid 3: O Desafio Final um filme muito semelhante ao original, tanto na estrutura narrativa quanto no destaque dado à relação entre Larusso e Miyagi. E é interessante como, mesmo que ainda gravitando em torno de clichês por vezes risíveis, sobretudo o recurso a vilões novamente caricaturais, que chegam a gargalhar ao conversar sobre seus planos maléficos, este terceiro Karate Kid consegue recuperar a graciosidade do primeiro. Aqui, novamente, soa encantadora a amizade entre os dois personagens centrais, como soam encantadores os ensinamentos do Sr. Miyagi, sobretudo quando contrapostos ao uso agressivo que seus adversários fazem do caratê. E a cada vez que o velho mestre surge em cena para salvar seu discípulo do perigo, volta a lembrança do momento, lá no primeiro filme, em que esse adorável personagem, até então conhecido apenas como o zelador do condomínio de baixa renda para o qual Larusso se mudara com a mãe, revela sua verdadeira natureza.

Se agora já não há mais o efeito surpresa daquela primeira vez em que Miyagi entrou em ação, por outro lado, é difícil não vibrar em Karate Kid 3: O Desafio Final com seu confronto simultâneo contra os dois “professores do mal” que atravessam seu caminho. Um deles, aliás, é interpretado por Thomas Ian Griffith, ator com especial talento para viver vilões sedutores (como não lembrar do vampirão vivido por ele em Vampiros, de John Carpenter?). Sua presença dá um toque de charme ao filme, ausente em seus antecessores. Enfim temos um vilão que, apesar de caricatural como os dos dois filmes anteriores, esbanja carisma e parece verdadeiramente perigoso.

Karate Kid 3: O Desafio Final, portanto, encerra bem uma trilogia que, na verdade, não deveria ser uma trilogia. Se parar no primeiro teria sido o ideal, um díptico formado por A Hora da Verdade e O Desafio Final também teria dignidade. Mas isso não é nada que o espectador de hoje não possa resolver, ao decidir, arbitrariamente, simplesmente ignorar a desastrosa passagem de Daniel Larusso e Sr. Miyagi por Okinawa.

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é um historiador que fez do cinema seu maior prazer, estudando temas ligados à Sétima Arte na graduação, no mestrado e no doutorado. Brinca de escrever sobre filmes na internet desde 2003, mantendo seu atual blog, o Crônicas Cinéfilas, desde 2008. Reza, todos os dias, para seus dois deuses: Billy Wilder e Alfred Hitchcock.
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