Crítica


4

Leitores


2 votos 10

Onde Assistir

Sinopse

Com seus dias de boxe encerrados e com quase sem nenhum dinheiro, Rocky começa a treinar novos talentos, e descobre um jovem promissor chamado Tommy. Porém, o garoto logo ganha fama e Rocky não pode mais competir com os salários oferecidos ao seu aprendiz.

Crítica

Em Rocky V, acompanhamos o protagonista, Rocky (Sylvester Stallone), tentando retomar sua vida. Ele retorna aos EUA após vencer a batalha mais difícil e surreal de todas que enfrentou. Uma luta (ou seria melhor dizer “surra”?) desigual contra o gigante russo Ivan Drago. Porém, sua carreira no boxe acabou. Ele descobre problemas de saúde graves que o impedem de lutar, e pior, um desconhecido contador, imbuído de péssimas intenções, arruinou suas finanças. Após perder tudo, volta com sua família para a Filadélfia, ou seja, justamente onde tudo começou. Assume o posto de Mickey no velho ginásio e lá conhece Tommy Gunn (Tommy Morrison), um lutador com muito potencial no boxe. O garoto logo se torna seu aprendiz e, com o aprendizado que recebe, vai ganhando rapidamente espaço nas lutas. Mas um empresário ganancioso e sem escrúpulos fará de tudo para tirar o sucesso de Tommy das mãos de Rocky.

Isso, basicamente, resume o quinto capítulo de uma franquia muito bem sucedida comercialmente, porém de retorno crítico irregular. Iniciada por um filme premiado, original e inspirador (Rocky: Um Lutador, de 1976), justamente premiado com o Oscar de Melhor Filme. Infelizmente, há mais enganos do que acertos nesta produção de 1990. Inclusive a ideia de encerrar o ciclo do personagem com este filme foi abandonada e duas novas produções foram realizadas posteriormente. O retorno de John G. Avildsen, diretor do premiado filme de estreia, era justo e estimulante. A presença de todos os atores principais da série, em especial nos flashbacks com a participação de Burgess Meredith – o velho e rabugento treinador Mickey (que morreu no terceiro filme) – são pontos positivos.

A mão do diretor podia devolver a esperança da série e fazê-la reencontrar o clima e atmosfera perdida na terceira e quarta sequência. Mas as suas contribuições se limitam em resgatar a inesquecível trilha sonora de Bill Conti e alguns momentos mais ternos baseados na melancolia e melodrama. Nem as novas cenas nas ruas (Avildsen inovou ao usar pela primeira vez um steady cam no Rocky de 1976) ou as tomadas dos trens (marcas do longa original) ajudam um roteiro fantasioso e exagerado, em geral pouco convincente. O elenco não convence. Excessos e atuações caricatas estão por todos os lados (Tommy Morrison e Sage Stallone são apagados, sem qualquer brilho ou talento que justificassem suas presenças). A fotografia e figurinos são prosaicos, deixando a desejar. A relação entre pai e filho (Rocky e Robert) muda repentinamente. E mais a frente se resolve como num ato de mágica. Além disso, o personagem de Stallone retorna a sua personalidade ingênua e engraçada. Assim como muita coisa no filme, falta tempo para o desenrolar dos acontecimentos. Sem nuances e nem detalhes, o todo resulta sem uma construção mais elaborada. E isso é um erro fatal.

Rocky V termina não funcionando como homenagem e nem como filme de ação e entretenimento. Não faz uma opção clara. Peca por mudanças rápidas em seu enredo e não oferece espaço para dotar os personagens de uma estrutura mais sólida. Este foi um dos grandes segredos de Rocky: Um Lutador. Cada um daqueles tipos na tela passava por mudanças reveladoras. Transformações que marcariam suas vidas para sempre. Mas com solidez, paciência e sutilezas. Envolvendo, provocando, incomodando, desafiando e comovendo o espectador. Nada disso está em cena dessa vez. Tudo acontece sem motivos no mínimo convincentes.

Se as melhores e mais emocionantes sequências do filme estão com Mickey e Adrian (Talia Shire), talvez tivesse sido melhor estes bons atores terem ganho mais importância no roteiro. O certo seria diminuir a ausência de enredo e com uma boa história, narrada pelo naturalismo, assim como foi feito no começo de tudo. Rocky era um cara das ruas e tinha ambiguidade. Caracterizou um anti-herói. Agora é uma autêntico ingênuo que não enxerga uma palmo na frente do nariz. Depois de viver tudo aquilo? Difícil de engolir.

A intenção podia ser boa, mas a verdade é que o resultado final podia e devia oferecer muito mais. Rocky V termina taxado como um dos piores – senão o pior – filme da franquia. Uma verdadeira afronta em tentar homenagear uma obra como o original. Com tão pouco? Sem chance. Termina sendo triste por não possuir ingredientes para tanto.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
avatar
é diretor de cena e roteirista. Graduado em Publicidade e Propaganda com especialização em Cinema (Unisinos /RS). Dirige para o mercado gaúcho há 20 anos. Produz publicidade, reportagem, documentário e ficção. No cinema é um realizador atuante. Dirigiu e roteirizou os documentários Papão de 54 e Mais uma Canção. E também dois curtas-metragens: Gildíssima e Rito Sumário. Seus filmes foram exibidos em vários festivais de cinema e na televisão. Foi diretor de cena nas produtora Estação Elétrica e Cubo Filmes. Atualmente é sócio-diretor na Prosa Filmes.

Grade crítica

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *