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Sinopse

Smith tem um cotidiano tranquilo no campus da universidade. Ele passeia com Stella, sua melhor amiga; faz sexo regularmente com a bela London; mas, deseja Thor, seu colega de quarto, um surfista despreocupado.

Crítica

Gregg Araki é um cineasta que faz parte do grupinho “independentes malditos” de Hollywood. Na verdade, ele é uma coisa e a outra também, ou seja, é uma diretor de filmes independentes e, em sua maioria, sobre temas malditos. Por mais que se esforce, nunca consegue alcançar o mainstream, o grande público. Seus longas são para iniciados, voltados para um público que já imagina o que irá encontrar. Gay assumido e filho de imigrantes asiáticos, trata majoritariamente em suas obras de questões relacionadas ao sexo e às minorias, sempre com uma forte pegada pop. Isso fica muito presente em seu mais recente trabalho, Kaboom, que teve sua primeira exibição no Festival de Cannes de 2010 e desde então tem sido convidado para diversos festivais e mostras ao redor do mundo, mantendo-se, no entanto, inédito no circuito comercial. Aqui no Brasil foi lançado diretamente em DVD, oferecendo ao menos a oportunidade para descobrir em casa esta história non sense construída a partir de (poucos) altos e (muitos) baixos.

O ambiente é o colegial. Estamos na universidade, e como já aprendemos pelos filmes norte-americanos, por lá se faz de tudo, mesmo assistir às aulas. Smith (Thomas Dekker, de Uma Prova de Amor, 2009) é um adolescente que não acredita em rótulos quando se trata da sua própria identidade sexual. Apesar de ter uma forte fixação no seu colega de quarto (Chris Zylka, de Terror na Água, 2011), ao ser seduzido por uma menina (Juno Temple, a melhor amiga da Mulher-Gato em Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge, 2012) em uma festa aceita ir para cama com ela, a título de experiência. Sua melhor amiga, Stella (Haley Bennett, de Letra e Música, 2007), no entanto, tem muito definido o que gosta, e está no início de uma relação com uma das meninas mais cobiçadas da faculdade. E a história poderia seguir por aí, entre encontros e desencontros amorosos, não fosse esse um filme de Gregg Araki. E está nessa assinatura a busca pela polêmica e pelo inesperado. Algo a ser valorizado, mas que nem sempre é bem vindo.

Kaboom, como o título já anuncia, é a onomatopeia para o estouro, explosão. E é sobre isso que a reviravolta que acontece lá pelas tantas informa à audiência: apesar do espírito juvenil que vinha sendo pregado até então, estamos de fato diante de uma conspiração a nível global que poderá desencadear no legítimo fim do mundo – o “kaboom” final! E aos poucos vamos nos dando conta que nenhum personagem é exatamente como se apresentou. Todos possuem interesses escusos, que vão sendo revelados sem muita delicadeza. E a cara de bobo feita pelo protagonista encontrará perfeito reflexo no espectador, que não entenderá patavina diante tantos e frequentes absurdos. Seitas religiosas, lésbicas paranormais, espiões secretos e muita fantasia irá fazer parte desse recheio sem pé nem cabeça.

Na sua metade inicial Kaboom aparenta ser mais uma comédia sobre sexo e diversão inconsequente, no melhor estilo American Pie (1999), ainda mais apimentada e abusada. Mas quando estamos quase conquistados por essa pegada tudo muda de figura, e o tom grandiloquente tanto afasta quando frustra aqueles que até então estavam se divertindo. O quadro fica por demais absurdo, e nem mesmo os bons personagens conseguem manter seus espaços em tela, pois a trama se resume a partir deste ponto numa correria sem sentido. Se em Geração Maldita (1995) ou Mistérios da Carne (2004) a provocação e a polêmica vinham na medida certa, envolvendo e excitando em quantidades equilibradas, agora o que vemos é meramente gratuito e entediante. Araki perdeu a mão ao tentar ir além dos seus domínios, deixando que a sátira e a ironia se sobressaísse a uma história que até poderia funcionar, caso a abordagem tivesse sido mais humilde.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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Robledo Milani
5
Chico Fireman
6
MÉDIA
5.5

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