Crítica


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Sinopse

Após um incêndio que resultou na morte de três crianças, o pai delas é condenado à pena de morte. Por 12 anos esteve encarcerado. Ao escrever uma carta em busca de ajuda, esta chega às mãos de Elizabeth, mãe divorciada de dois filhos que se interessa pelo caso. Ela inicia uma jornada em busca de novas provas que possibilitem a reabertura do processo que condenou o rapaz, na tentativa de livrá-lo da morte.

Crítica

Existem dois filmes em Justiça em Chamas, ambos mal dirigidos e extremamente previsíveis. O primeiro deles é na verdade um longo preâmbulo, de cerca de 45 minutos, no qual se apresenta a história-base: após um incêndio que matou três crianças, o pai delas é condenado à pena de morte. Ele sempre se declarou inocente, assim como a esposa o defendeu, mas um punhado de teorias sem comprovação aliadas ao choque do ocorrido foram decisivos no julgamento. Além disto, Cameron Todd Willingham era o típico "suspeito conveniente". Agressivo e contestador, pai de família sem muitos recursos financeiros, era o tipo de pessoa cujos modos o deixavam alheio à sociedade, ao menos aquela preconceituosa que prega as "linhas de conduta ética", por assim dizer. Condená-lo nada mais era do que dar uma "justificativa" à sociedade perante tamanha fatalidade e, de quebra, eliminá-lo do convívio diário. Dois coelhos com uma cajadada só.

Estranhamente, discutir tal postura implícita passa de relance por este filme dirigido por Edward Zwick, que prefere apostar justamente na agressividade do rapaz. É na justificada revolta de Cameron que este trecho do filme se baseia, caminhando por um "processo de domesticação" no qual sofre violência policial e todo tipo de provocações, sob a alcunha de "baby killer". Para tanto, Zwick acelera bastante a narrativa ao ponto de torná-la risível: o julgamento basicamente conta com breves depoimentos das testemunhas acompanhados pelos arroubos de Cameron, gritando à vontade em pleno tribunal; a chegada à prisão logo é associada à camaradagem de um preso e à sanha sádica de um guarda. Tudo muito direto e claro, sem qualquer necessidade de reflexão diante do exibido. Para Zwick, isto não importa.

A segunda parte inicia com a tardia aparição de Laura Dern, que traz consigo um ambiente mais suave. Não apenas por sua personagem, uma mãe divorciada com dois filhos que subitamente simpatiza com a carta enviada por um homem condenado à morte. Sua aproximação é vendida como um ato de compaixão, mas nada mais é do que um misto de curiosidade com alento pessoal: ajudar alguém que não tem qualquer esperança lhe faz bem, tanto em seu íntimo como na sensação de utilidade. Soma-se a isto a atual fase de Cameron, sete anos após a condenação, já domesticado e inserido no habitat carcerário. Até o guarda que o provocava e nele batia, olha só!, virou seu parceiro. Conveniências de um roteiro manipulador, onde, não por acaso, a simpatia a Cameron surge justamente quando deixa de ser agressivo no filme. Simples assim.

Além da condução narrativa bastante questionável, em longuíssimos 127 minutos, Justiça em Chamas sofre com a precariedade das poucas sequências que requerem efeitos especiais - basta reparar no fogo escancaradamente fake, visto no incêndio que abre o filme. Abusando do recurso do plano e contraplano, o filme insiste no bom mocismo da personagem de Dern em sua jornada pela salvação de Cameron, sem muita justificativa. Ao término do filme, as tradicionais legendas em fundo preto atualizam o espectador sobre o ocorrido após o exibido, e ponto final. Mais formulaico, impossível.

Em meio a tamanha preguiça, o que segura (um pouco) o filme é o bom desempenho de Jack O'Connell como o personagem principal, mais pela oportunidade em exercitar várias facetas do personagem, tão distinto nestes dois trechos. No mais, trata-se de um filme tedioso que sequer funciona a contento no debate acerca da pena de morte, como seus créditos finais tentam dar a entender.

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Jornalista e crítico de cinema. Fundador e editor-chefe do AdoroCinema por 19 anos, integrante da Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema) e ACCRJ (Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro), autor de textos nos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros", "Documentário Brasileiro - 100 Filmes Essenciais", "Animação Brasileira - 100 Filmes Essenciais" e "Curta Brasileiro - 100 Filmes Essenciais". Situado em Lisboa, é editor em Portugal do Papo de Cinema.
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