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Sinopse

Duas irmãs, Laura, de 14 anos, e Josephine, com 18, passam o mês de julho com sua mãe, que está grávida, e o mês de agosto com seu pai, que está solteiro. Durante o verão, algumas decisões são tomadas, segredos são revelados e os relacionamentos das filhas com os pais passam por grandes transformções.

Crítica

Se tem algo que inunda o cinema desde os anos 1980 são filmes focados na juventude, nas relações entre adolescentes e seus pais. De uns trinta anos pra cá, a sociedade mudou muito. Inclusive, os núcleos familiares. Se antes os comerciais de margarina tomavam conta da publicidade com os tradicionais pai, mãe e filhos felizes ao redor da mesa, hoje existem diversas configurações: pais solteiros, divorciados, casais gays com filhos. O foco de Julho Agosto, escrito e dirigido pelo cineasta francês Diastème, são duas irmãs que passam as férias de verão, no primeiro mês com a mãe, no segundo, com o pai. E a sensibilidade da narrativa traz uma espécie de acolhimento do público, ainda que as várias situações jogadas no roteiro não se aprofundem como deveriam.

É interessante notar a diferença da personalidade das duas protagonistas. Laura (Luna Lou) tem 14 anos e é a metida a adulta da família, mas seu tamanho a diferencia de outras garotas por parecer menor. O estresse psicológico típico da idade faz com que suas notas na escola estejam bem abaixo do que já foram no passado. No entanto, as coisas são mais atribuladas para a aparentemente segura Joséphine (Alma Jodorowsky) que, aos 18 anos, se envolve no roubo de uma joia milionária em meio ao seu processo de ovelha negra. Enquanto lidam com estes e outros problemas relativos à adolescência e a passagem para a vida adulta, seus pais também tem que se dividir de várias formas além dos meses separados de férias. A mãe, Anne (Pascale Arbillot), descobre que está grávida do padrasto Michel (Patrick Chesnais) que, para fechar o ciclo, não revela que está com graves problemas financeiros. Da casa de campo numa costa da Riviera Francesa em julho, elas passam à cinzenta e fria Bretanha, que mais reflete a tristeza do pai, Franck (Thierry Godard), apaixonado por uma garçonete da região.

Com o roteiro focado no olhar das duas garotas, é possível notar as diferentes percepções que elas tem das próprias vidas e também da família e suas atribulações. É um processo de transformação belissimamente filmado e com atuações tão seguras que o elenco parece sair da tela e sentar ao seu lado. Por outro lado, o emaranhado de conflitos em 90 minutos de filme se atropelam um pouco. Melhor (ou pior): são desenvolvidos pela metade. Não se poderia chamar de algo malfeito já que as histórias não são pinceladas. Elas realmente se desenvolvem e são concluídas. Só parecem estar tão atreladas a estas visões das meninas que ficam na superficialidade. Talvez uma jogada do próprio roteiro pelo foco no distanciamentos dos adolescentes em geral em relação aos laços familiares. Por outro, o resultado fica aquém do esperado.

No entanto, uma das melhores jogadas da história é não haver ninguém “ruim” (como um “padrasto mal”) ou conflitos diretos entre a mãe e o pai. Pelo contrário, é extremamente visível e explorado o relacionamento carinhoso que o ex-casal tem um com o outro. É o sinal dos tempos evoluídos, bem diferentes das já citadas produções do mesmo naipe de duas ou três décadas atrás. Porém, assim como os sentimentos podem aparentar ser mais resolvidos nos dias atuais, a comunicação entre pais e filhos segue inconstante, ainda mais com o uso contínuo de tecnologia dispersando todos de um diálogo. Julho Agosto tem várias qualidades que poderiam ser ainda melhores aproveitadas se dispensassem justamente a trama do roubo. De longe, a mais prosaica, mas sem grandes interferências no contexto maior da discussão. Com uma fotografia de tirar o fôlego e uma intimista decupagem que realça aqueles personagens tão complexos, esta poderia ser uma produção poderosa dentro da casca de um pequeno filme. No fim das contas, é gostoso de assistir, mas tão fugaz quanto um amor de verão.

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é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.
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Matheus Bonez
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Leonardo Ribeiro
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MÉDIA
6

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