Jogo Sujo

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Sinopse

Em Jogo Sujo, Parker é um ladrão profissional que, após ser traído e deixado para morrer, planeia o maior assalto da sua carreira. Reunindo uma nova equipa, incluindo Grofield e Zen, Parker descobre uma conspiração que o coloca contra a máfia de Nova York, EUA. Crime.

Crítica

Shane Black é um veterano da indústria hollywoodiana. Do roteirista que ajudou a consolidar o subgênero dos buddy cops com a franquia Máquina Mortífera, passando pelo blockbuster Homem de Ferro 3 (2013), até os divertidos Beijos e Tiros (2005) e Dois Caras Legais (2016), podemos criar expectativa em torno de suas investidas. Em Jogo Sujo, ele tem como fio condutor Mark Wahlberg, protagonista de sua nova aposta. E mesmo que o ator – duas vezes indicado ao Oscar (Os Infiltrados, em 2007, como coadjuvante, e O Vencedor, em 2011, como produtor de melhor filme – não viva seus dias mais luminosos, ainda há nele, pelo jeito, carisma suficiente para sustentar uma saga literária de peso.

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Antes de mais nada, é preciso lembrar que o roteiro, escrito por Black, Chuck Mondry e Anthony Bagarozzi, é baseado na célebre série policial “Parker”, iniciada em 1962, uma das criações mais marcantes de Donald E. Westlake, sob o pseudônimo Richard Stark. Diferente de detetives charmosos ou criminosos glamourizados que dominavam a literatura da época, Parker é anti-herói pragmático, frio e implacável. Especialista em assaltos minuciosamente planejados, age em equipe apenas quando necessário, jamais hesitando em descartar parceiros que se revelem inúteis ou desleais. Sua ética não é moral, mas prática. Não por acaso, outros nomes conceituados do cinema já se interessaram pelo personagem: Lee Marvin em À Queima-Roupa (1967), Mel Gibson em O Troco (1999) e Jason Statham em Parker (2013). Agora, é a vez de Wahlberg assumir a persona.

Embora o título – Jogo Sujo, no Brasil, e Play Dirty, nos Estados Unidos – sugira algo além do protagonista, não se engane. Apesar da presença de LaKeith Stanfield, indicado ao Oscar, estampando o pôster, e de outros nomes de peso no elenco, a história pertence integralmente a Parker, ainda que Zen (Rosa Salazar) surja em sua vida, ladra talentosa que entrelaça a rotina criminosa do anti-herói com questões políticas da América do Sul. O próximo roubo de Parker será um artefato colonial de grande valor que ele, um grupo de gângsters de Nova York e um ditador latino estão de olho, formando triângulo de possibilidades explosivas. Mesmo que haja tropeços e estereótipos nas primeiras passagens, logo fica claro o que Black pretende: uma jornada acelerada que não poupa ninguém.

Fiel ao espírito de Westlake, o longa respeita a descartabilidade humana. Aqui, ninguém está a salvo: qualquer figura pode ser eliminada a todo instante, muitas vezes por motivos banais. O choque inicial logo dá lugar à aceitação dessa lógica, e embarcamos nessa trama de vidas frágeis e destinos incertos em nome do entretenimento ágil. Vale destacar como Black parece traduzir a lógica algorítmica dos filmes encomendados para plataformas de streaming – mas, levemente, subvertendo-a. Ao contrário de tantos projetos descartáveis, de enredos frouxos recheados de pausas que convidam o espectador a conferir o smartphone, Jogo Sujo não oferece respiro.

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O resultado é um filme construído no estímulo constante, conversando, de certo modo, com a estética de Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo (2022), mas sem a fantasia e ficção científica. Lutas, diálogos rápidos, assassinatos e explosões se sucedem em ritmo incessante, entrecortados por humor que, em boa parte das vezes, funciona. Mas é preciso admitir: nem toda essa intensidade esconde a repetição de certos episódios internos, esvaziados em significado. Ainda assim, melhor isso do que a enrolação que se arrasta até o previsível. A missão de Black, assim como a de Parker, foi cumprida dentro da lógica de Hollywood: abrir caminho para possíveis continuações. O desafio, agora, será manter o fôlego sem cair na repetição. Por enquanto, há diversão para quem se deixar levar pelo jogo.

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Fanático por cinema e futebol, é formado em Comunicação Social/Jornalismo pela Universidade Feevale. Atua como editor e crítico do Papo de Cinema. Já colaborou com rádios, TVs e revistas como colunista/comentarista de assuntos relacionados à sétima arte e integrou diversos júris em festivais de cinema. Também é membro da ACCIRS: Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul e idealizador do Podcast Papo de Cinema. CONTATO: [email protected]
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