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Sinopse

Um olhar sobre os bastidores do filme O Mundo de Andy, lançado em 1999. Além disso, acompanha como o ator Jim Carrey adotou a peculiar persona do comediante Andy Kaufman para realizar o longa.

Crítica

Em 1999, Jim Carrey era um astro praticamente infalível. Seus filmes eram sucesso de bilheteria, com o ator chegando ao cúmulo de enfileirar oito produções seguidas com arrecadação maior do que US$ 100 milhões ao redor do mundo. Se o resultado financeiro era incrível, ainda faltava a respeitabilidade dos críticos e dos prêmios. Muitos deles viravam a cara para o ator, famoso por sua face elástica. Em O Show de Truman (1998) isso começou a mudar. Vencedor do prêmio de Melhor Ator de Comédia ou Musical no Globo de Ouro, Carrey alcançou algo que parecia improvável poucos anos antes. Seguindo seu bom momento, o astro resolveu arriscar um pouco mais. Fã confesso do comediante Andy Kaufman, foi escolhido pelo diretor Milos Forman para encabeçar a cinebiografia O Mundo de Andy. Quem melhor para interpretar aquele sujeito tão curioso? O documentário Jim & Andy conta a fantástica e quase inacreditável história dos bastidores deste filme.

O que Milos Forman não sabia é que Jim Carrey se entregaria totalmente a um processo criativo errático que o transformaria em Andy Kaufman. Não tão conhecido no Brasil, Kaufman teve um período de fama nos Estados Unidos ao surgir no seriado Táxi, como o estrangeiro amalucado Latka. Avesso às regras, não se importando com a popularidade, mas em causar com sua arte, o comediante trilhou um caminho pouco ortodoxo, chegando a lutar com mulheres em ringues, criando uma persona machista e belicosa. Para interpretar Kaufman, Carrey decidiu viver intensamente aquela forma de arte. O ator se recusava a ser chamado por seu nome, como se o biografado tivesse voltado à vida para atuar em seu próprio filme. Se era um problema para o diretor comandar Kaufman no set, pior ainda quando Tony Clifton surgia. Este era um personagem criado pelo falecido comediante ao lado de seu amigo Bob Zmuda – interpretado no filme por Paul Giamatti. Falastrão, inconveniente e muito mal-educado, Clifton era um verdadeiro terror e Carrey foi até as últimas consequências ao interpretá-lo, transformando os bastidores em um pesadelo.

Tudo isso é mostrado de forma muito aberta no documentário produzido pela Netflix e dirigido por Chris Smith. O Mundo de Andy não foi um sucesso de arrecadação como os anteriores filmes de Carrey, amargando uma bilheteria mundial de pouco menos de US$ 50 milhões. O ator venceu o Globo de Ouro pela segunda vez seguida, mas foi esquecido pelo Oscar novamente. Ao vermos seu processo para interpretar aqueles dois personagens, é de se pensar que a Academia poderia ter sido mais generosa.

Jim Carrey é o único a ser entrevistado por Chris Smith no presente. O ator faz um passado a limpo de sua carreira, relembra o que sentiu ao viver Andy Kaufman no filme e como aquela experiência o mudou para sempre. De resto, Smith se vale das cenas de arquivo dos bastidores capturados por Bob Zmuda e Lynne Margulies (namorada de Kaufman), que pensavam em lançar um documentário sobre a filmagem à época. É interessantíssimo observar como Carrey estava focado em seu trabalho naquele momento, vivendo intensamente o personagem. Parece que uma chave virou no cérebro do ator, que realmente vivia Kaufman dentro e fora das cenas. A transformação está nos olhos. Basta ver como Carrey ainda não tinha encontrado como encarna-lo no vídeo de teste enviado à produção (repare nos olhos do ator) e como ele achou a melhor forma tão logo passou a viver aquele processo no set e fora dele. Claro que Milos Forman e os atores que dividiam a cena com ele tiveram de viver um estresse tremendo por conta daquilo.

Além de mostrar os bastidores de O Mundo de Andy, Jim & Andy dá pinceladas a respeito das carreiras de Carrey e Kaufman, mostrando o quanto o segundo influenciou o primeiro. No fim das contas, o documentário é muito mais um elogio ao processo criativo do astro do que qualquer outra coisa. De todo modo, é o suficiente para aqueles que se interessam pelo fazer arte – seja você fã ou não do ator e do filme em questão.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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