Crítica
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Sinopse
O espião que antes sofria de amnésia agora lembra de tudo e está de volta à ativa. Porém, não satisfeito, ele quer saber exatamente as causas do que lhe aconteceu, indo contra a agência que primeiramente lhe contratou. Enquanto isso, do outro lado, uma equipe liderada por Robert Dewey e gerenciada por uma agente tão determinada quanto Bourne, tenta pará-lo a todo custo.
Crítica
Durante o lançamento de O Ultimato Bourne (2007) – filme que, aliás, tinha como slogan a frase “lembre de tudo, perdoe nada” – Matt Damon declarou ter concluído sua participação na série, afirmando não ter mais o que oferecer ao personagem. Pois após um quarto capítulo irregular – O Legado Bourne (2012) é, até hoje, o que menos faturou da saga, aquele com pior desempenho junto aos críticos e o único não estrelado por Damon – chegou-se a conclusão de que, para que a franquia se mantivesse viva, seria preciso convencer o astro original a voltar atrás em suas decisões. E como em Hollywood não há o que o dinheiro não compre, aqui estamos diante de Jason Bourne, filme que promete ser diferente de tudo já feito antes, mas que, no entanto, repete exatamente o que já foi visto, trilhando caminho seguro e esquecendo do principal: a tensão constante e incansável que, até então, era sua maior e melhor característica.
Se em A Identidade Bourne (2002) o anti-herói estava sendo apresentado pela primeira vez – e não sabíamos o que dele esperar – e no citado O Ultimato Bourne, justamente por sua posição como capítulo final de uma trilogia, tudo poderia, ao menos em tese, ser possível, em Jason Bourne temos a mesma situação confortável – porém nunca desejável neste gênero – de segurança, em que se tem certeza de que, independente dos perigos corridos, o protagonista inevitavelmente saíra são e salvo. Ou seja, não há o que temer: ele sempre dará um jeito de se safar. Sem esta tensão, muito já se perde. Agora, problemático mesmo é o enredo escolhido por Paul Greengrass (também diretor) e Christopher Rouse (vencedor do Oscar pela edição do terceiro episódio, aqui estreando como co-roteirista). Desta vez, Bourne não está à caça de ninguém, não quer vingança e nem está em busca de explicações. Ele apenas reage quando vira alvo de um mal-entendido. E a partir de então, tudo o que tem a fazer é fugir. E correr.
A confusão começa quando Nicky Partons (Julia Stiles, agarrando-se até o último sopro ao único papel relevante de toda a sua filmografia), saindo do submundo por onde tem operado nos últimos tempos, é identificada hackeando arquivos secretos da CIA. Neste material encontra informações nunca antes reveladas sobre o pai de Bourne, e vai até ele para lhe contar a verdade. Só que essa eventual aproximação dos dois é vista pela agente Heather Lee (Alicia Vikander, com uma expressão indecisa entre a sonolenta e a emburrada que está aprontando algo) e pelo seu superior, o diretor Robert Dewey (Tommy Lee Jones, com a mesma cara de enfado que tem sido recorrente em seus últimos trabalhos) como se a iniciativa tivesse sido do espião até então desaparecido. Temendo que ele torne público esse material, decidem que é preciso eliminá-lo. E para tanto, um veterano assassino profissional (Vincent Cassel, se divertindo no cinema norte-americano enquanto nada melhor lhe é oferecido na França) a serviço da agência é convocado. Ainda mais que um ajuste de contas entre os dois revela que a questão é pessoal.
Partindo da premissa absurda de que “para eliminar um perigo – Bourne – é justificável assassinar quantos forem necessários pelo caminho”, tem-se uma mortandade exagerada do início ao fim, além de sequências de perseguições intermináveis, sejam pelas ruas de Berlim ou de Las Vegas, pelos telhados de Londres ou de Atenas. A profundidade psicológica originada pelo drama vivido pelo personagem principal desaparece, pois tudo que ele parece querer dizer agora é “deixem-me em paz”. Já Vikander, comprovando sua falta de versatilidade, é um tipo mal construído, dona de mudanças inexplicadas de atitude e comportamento errático – uma hora quer se mostrar eficiente no trabalho, para no instante seguinte já mudar de lado para ajudar aquele que havia prometido eliminar.
Mas o problema maior de Jason Bourne é a preguiça que parece tomar conta de todo o projeto. Até a inserção de um tema mais ‘contemporâneo’, como as referências à Snowden e à influência das redes sociais – com a adição do tipo vivido por Riz Ahmed, em um contexto semelhante ao visto recentemente no igualmente descartável (porém mais divertido, justamente por não se levar a sério) Truque de Mestre: O 2° Ato (2016) – revela-se dispensável, uma vez que em nenhum momento tais assuntos chegam a ser tratados com a atenção que mereciam. E quando nem mesmo o clímax parece ter importância (há, no mínimo, uns dois ou três finais distintos) e o mote “veja o que o seu pai fez” parece ser apenas um argumento genérico para um gancho ad infinitum (no próximo filme as revelações poderão ser sobre a mãe dele, ou sobre o avô...), qualquer maior envolvimento revela-se dispensável. Se a trilogia Bourne original era uma pérola em meio aos blockbusters hollywoodianos, e o quarto capítulo – totalmente ignorado desta vez, é bom ressaltar – ao menos não fazia feio diante seus predecessores, este aqui não deixa dúvida sobre suas reais intenções: lucro rápido e resultado facilmente esquecível.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Robledo Milani | 4 |
Diego Benevides | 5 |
Thomas Boeira | 7 |
Francisco Carbone | 6 |
Marcelo Müller | 6 |
MÉDIA | 5.6 |
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