Crítica
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Sinopse
Mike é um empresário bem-sucedido que vê ameaçada sua vida aparentemente perfeita exatamente na iminência de sua empresa mudar o ramo da aviação. Uma perseguição virtual pode colocar tudo por água abaixo.
Crítica
O crescimento constante do uso da tecnologia no dia a dia tem estimulado a imaginação de muitos. Porém, para cada um que encara esse impulso como motivo para criar novas e atraentes possibilidades, outros tantos preferem fazer uso apenas do argumento, sem se dar o trabalho de ir além da superfície. Em termos práticos: para cada perturbador e envolvente capítulo da série Black Mirror (2011-), há uma infinidade de produtos genéricos como esse Invasão de Privacidade, que no Brasil não apenas rouba o título do cult-trash-soft-porn estrelado por Sharon Stone em 1993, como também faz uso de um conceito à princípio high tech, mas tudo que consegue entregar é uma história envolta em clichês batidos e soluções previsíveis.
Pierce Brosnan, ao contrário de nomes como Sean Connery e Daniel Craig, que encontraram os ápices de suas carreiras após terem assumido o manto do agente secreto James Bond, desde que deixou de viver as aventuras de 007 tudo que tem feito parece tentar, de alguma forma, emular os mesmos conceitos. São produções rápidas e baratas, invariavelmente de ação, com ele sempre de arma em punho e bancando o herói no final. A situação aqui não é muito diferente. Ele aparece como Mike Reagan, um empresário do ramo da aviação que está prestes a dar um passo arriscado: lançar um app que criaria um “uber dos jatos particulares”. Para isso, no entanto, é preciso investimento e esse dinheiro só viria caso tornasse a oferta pública. Porém, durante a primeira apresentação da proposta aos acionistas, algo dá errado e o vídeo emperra. Eis que entra um estagiário metido a gênio e, em dois toques, salva o dia do patrão.
Regan vê aquilo com simpatia, e acaba não apenas prometendo emprego ao garoto, como também o convoca para ir em sua própria casa para melhorar seu sistema de wi-fi. O jovem Ed Porter (James Frecheville, de Amor sem Pecado, 2013), vê aquilo, no entanto, como um sinal de afeição. Acredita ser amigo do chefe, se aproxima da filha deste e pensa que poderá a desfrutar de outros momentos de intimidade com a família. Obviamente, não é o que acontece, e no primeiro avanço neste sentido, se vê rechaçado sem ressalvas. “Cada um no seu lugar”, fala o empresário, que complementa “você é meu funcionário, esta é a minha casa, não vamos confundir as coisas”. E assim como esse movimento é brusco, também será a reação do rapaz, que sem pensar duas vezes decide mostrar seu lado psicopata, passando a controlar a vida de todos aqueles que o recusaram através do ambiente sistematizado da residência, automóvel, empresa e tudo mais. Ninguém estará seguro a partir de então.
O que se vê deste ponto em diante em Invasão de Privacidade, no entanto, é o velho duelo do gato e rato. Deixa-se de lado a questão política e empresarial do protagonista – que domina o primeiro terço da narrativa – e também os dilemas dos demais personagens periféricos – o exame de mama da esposa, a rebeldia da filha. Tais subtextos, aliás, nunca chegam a ser desenvolvidos a contento, pois revelam ter como única finalidade colaborar com o tormento infligido durante o ataque do desprezado. Regan vê sua casa perder toda a segurança – os sensores dos tablets, que controlam o lar, passam a servir de olhos para o invasor, que registra tudo o que ali fazem. E quando é chegado o momento de revidar, esta também se dá de forma tradicional: primeiro com um especialista que parece ter acordado de um sono direto dos anos 1960 (o sueco Michael Nyqvist, de A Garota do Livro, 2015), e, depois, por ser seguidamente menosprezado em seus pedidos de socorro pela polícia (o detetive que o atende é o retrato do estereótipo do funcionário público desleixado). É chegado o momento, então, da justiça pelas próprias mãos. E todo mundo sabe como isso acaba.
John Moore nunca foi um diretor de renome, mas vinha, nos últimos tempos, construindo uma carreira de respeito em Hollywood. Após trabalhar com astros como Bruce Willis, Gene Hackman, Mark Wahlberg e Dennis Quaid – além de ter comandado o eficiente remake de A Profecia (2006) – ele havia garantido seu espaço no cenário norte-americano. O que o levou a aceitar a proposta de se envolver neste Invasão de Privacidade, uma produção independente europeia que muito provavelmente será lançada somente em streaming e home vídeo nos Estados Unidos, parece ser o grande mistério deste projeto. Enfadonho deste o princípio, com uma condução protocolar, atuações em ponto morto e uma narrativa da qual se pode antever cada passo com tranquilidade, tem-se como resultado um longa que não deve agradar nem aos mais acirrados defensores do gênero, quanto mais atender às expectativas levantadas pelos elementos aqui reunidos.
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