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Sinopse

Um casal de ex-namorados se une novamente para evitar que a filha cometa os mesmos erros do passado. Será que essa reaproximação vai acender novamente velhas chamas? Conseguirão os dois evitar que a jovem sofra como eles?

Crítica

Difícil imaginar alguém indo assistir a um filme como Ingresso para o Paraíso esperando encontrar uma trama intrincada, personagens profundos e reviravoltas inesperadas. Aliás, se for esse o objetivo do espectador, a dica mais acertada é passar longe. Afinal, o que se tem por aqui é exatamente o oposto: previsibilidade, segurança, reações imediatas e soluções que funcionam apenas no cinema, mas que provavelmente não encontrariam ressonância na vida real. Porém, tais tropeços são protagonizados por dois dos maiores astros da constelação hollywoodiana, duas figuras donas de imenso charme e carisma, e que repetidas vezes já mostraram funcionarem ainda melhor quando colocadas lado a lado. George Clooney e Julia Roberts são os – únicos, talvez? – motivos para dedicar duas horas a uma história bobinha, mas envolvente na medida certa, que deverá servir de descanso e refresco para aqueles atrás de uma boa e velha dose de escapismo, com muitos galanteios, situações embaraçosas – é sempre revigorante rir do constrangimento alheio – e desenlaces românticos que funcionam tal qual o esperado. E com uma química que vale milhões, literalmente.

Assim como Adam Sandler volta e meia costuma fazer com seus amigos mais chegados – como Kevin James, Rob Schneider e David Spade, por exemplo – e o filme que juntos estrelam é não mais do que uma desculpa para que passassem algum tempo juntos em algum cenário inebriante, o mesmo se repete nessa produção comandada por Ol Parker. Este, afinal, é nada menos do que o quinto longa que Clooney e Roberts estrelam juntos, mas numa vibe distante de Confissões de uma Mente Perigosa (2002) ou Jogo do Dinheiro (2016) e mais próxima de Onze Homens e um Segredo (2001) e de sua continuação, Doze Homens e Outro Segredo (2004). O formato escolhido para essa reunião, aliás, é algo que ambos fizeram também com outros parceiros: Richard Gere, Nick Nolte, Hugh Grant, Mel Gibson, Brad Pitt ou Clive Owen, no caso dela, ou Nicole Kidman, Michelle Pfeiffer, Jennifer Lopez, Catherine Zeta-Jones ou Renée Zellweger, no que diz respeito a ele. É um reencontro de grandes parceiros. Poderia ser aquilo que os críticos mais exigentes costumam afirmar que “o elenco se divertiu mais do que o público” ou de “férias patrocinadas” – afinal, 90% do enredo se passa em um ambiente paradisíaco na Austrália (apesar de, na ficção, os personagens estarem em Bali). Lindo de se ver. Mas funciona enquanto entretenimento? Até certos limites, com certeza.

O foco, aliás, deveria ser no envolvimento que surge entre Lily (Kaitlyn Dever) e Gede (o ator, músico e modelo Maxime Bouttier). Ela, recém-formada em direito, viaja de férias com a melhor amiga antes de começar seu primeiro emprego em uma importante firma de advocacia. Porém, no outro lado do planeta, entre um pôr-do-sol romântico e outro, acaba se apaixonando por um rapaz local, um jovem determinado que preza por uma vida equilibrada entre prazeres e negócios. Um se encanta pelo outro e, mesmo diante do pouco tempo em que se conhecem, decidem se casar – e, ela, abandonar seu planejamento anterior e fixar residência junto ao novo amor. Tal mudança tão repentina motiva seus pais, a galerista Georgia (Roberts) e o engenheiro David (Clooney), separados há mais de vinte anos, a unirem forças para, juntos, dissuadi-la de tais intenções. Os dois se casaram muito cedo, esperando por uma vida de felicidades, mas tudo que encontraram foram dissabores, tanto que pouco depois estavam separados. Não querem, portanto, que o mesmo se repita com a filha. E para conseguirem tal intento, usarão do que encontrarem pelo caminho, mesmo que tenham que recorrer aos golpes mais baixos possíveis.

Mas nada alarmante, é claro. Afinal, esta é uma comédia romântica voltada para toda a família, e, portanto, o máximo que farão será contar uma ou outra mentira, roubar um par de alianças – que logo será substituído – e terminar uma noite de bebedeira que terá repercussões bem fáceis de serem antecipadas. Nesse meio tempo, os dois protagonistas de fato – a câmera do diretor está sempre ao lado dos pais, e (quase) nunca junto aos recém-noivados – passarão o tempo todo implicando um com o outro, na maioria das vezes tentando – sem muito sucesso – disfarçar uma inevitável atração, deixando claro que seja lá o que tenha acontecido entre eles ainda não foi bem resolvido. Algumas expectativas, no entanto, são divertidamente frustradas – o primeiro beijo deles após tanto tempo afastados é particularmente engraçado – enquanto que outras levarão a momentos que os jovens chamarão de “cringe” – ambos desprovidos de qualquer vergonha ensaiando passos desajeitados numa pista de dança ao som de “Gonna Make You Sweat” é o ponto alto – mas que os mais maduros inevitavelmente se deixarão levar até memórias de tempos mais leves e despreocupados. E é justamente essa a ideia: rir não deles, mas com eles.

Há desperdícios, por certo, e nem tudo acaba funcionando na medida do que se poderia esperar. A inserção de um homem mais novo que quer a todo custo fazer as vontades dela naufraga pela implausibilidade – como uma mulher tão interessante poderia se interessar por um bobo com um cérebro do tamanho de um amendoim? – ao passo que o galã grisalho acostumado a vender café continua atraente o bastante para soar estranho uma solteirice convicta. No meio disso tudo, Billie Lourd (filha de Carrie Fisher e neta de Debbie Reynolds) e Lucas Bravo (alçado à fama após sua participação em Emily em Paris, 2020-2021) acabam fazendo coadjuvância de luxo, enquanto que Dever, atriz que já mostrou seu talento em produções como a minissérie Inacreditável (2019) ou na comédia Fora de Série (2019), é desperdiçada em uma presença apagada na medida para não ofuscar o brilho dos verdadeiros astros desse projeto. Goste-se ou não, Julia Roberts e George Clooney são duas estrelas fortes demais, do tipo que parece viabilizar convívio apenas entre iguais. Exatamente o que Ingresso para o Paraíso oferece: uma oportunidade de compartilhar de tamanho estrelato. Nada mais, nem menos, do que isso.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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