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Sinopse

O detetive americano Teddy Daniels e seu parceiro Chuck Aule são levados para Shutter Island, local que abriga o impenetrável Hospital Psiquiátrico Ashecliffe, a fim de investigar o misterioso desaparecimento de uma assassina. Enquanto uma tempestade se aproxima, as suspeitas ficam cada vez mais assustadoras. Dentro de um hospital assombrado pelas terríveis atitudes passadas de seus pacientes e pelos planos desconhecidos de seus médicos, Teddy começa a perceber que, quanto mais se aprofunda na investigação, mais é forçado a encarar alguns de seus piores temores.

Crítica

Sei de muitos que ainda lastimam o fato de Martin Scorsese ter trocado seu parceiro do passado, Robert De Niro, por Leonardo DiCaprio. Claro que existe um abismo enorme entre os atores, mas não a ponto de ser motivo de reclamação. Até porque é inegável que a cada nova colaboração entre Scorsese e DiCaprio, o ator cresce artisticamente. Se em Gangues de Nova York (2002) a parceria precisava notoriamente de um entrosamento – e um Daniel Day-Lewis inspiradíssimo eclipsou qualquer possibilidade de um destaque para o “mocinho” do filme – logo em O Aviador (2004) os holofotes se voltaram totalmente à performance irretocável de DiCaprio como Howard Hughes. Dois anos depois, em Os Infiltrados (2006), parecia que diretor e ator tinham chegado a um equilíbrio perfeito e conseguido seu melhor trabalho juntos. Isso, claro, até 2010 e Ilha do Medo. Com esse suspense à moda antiga, Scorsese e DiCaprio chegaram ao ápice de sua dobradinha.

O roteiro é baseado no romance de Dennis Lehane – autor do livro que deu origem ao ótimo Sobre Meninos e Lobos (2004), de Clint Eastwood – e tem assinatura de Laeta Kalogridis, que se recupera dos embaraçosos Desbravadores (2007) e Alexandre (2004). A trama se passa em 1954 e acompanha as investigações do detetive Teddy Daniels (DiCaprio) e de seu parceiro, Chuck Aule (Mark Ruffalo), ao chegarem na remota ilha Shutter, local onde são abrigados os mais perigosos criminosos com problemas mentais. O sumiço de uma das pacientes do local, Rachel Solando (Emily Mortimer), motiva a presença dos detetives, que devem passar por cima dos mistérios do lugar para resolver o caso. Acredite. Quanto menos você souber da trama, mais interessante é a experiência de acompanhar a história de Ilha do Medo. O próprio trailer revela demais e devo confessar que o desfecho da trama já havia me passado pela cabeça apenas assistindo ao preview que rolava nos cinemas. Portanto, tente se manter o menos informado sobre o filme antes de vê-lo.

Martin Scorsese constrói uma Shutter claustrofóbica, envolta em sombras. A ilha é, inegavelmente, um dos personagens do filme e serve como enclausuramento não só para os perigosos pacientes do local, mas também para as pessoas que lá trabalham. Os veteranos Ben Kingsley e Max Von Sydow fazem parte do staff que encabeça a instituição que lá funciona e são detentores de muitas respostas que Teddy procura. A impressão que fica é que há muito tempo nenhum dos dois sai daquela ilha, mantendo-se totalmente imersos naquele ambiente lúgubre.

A presença de atores do calibre de Kingsley e Sydow dão maior carga dramática para a trama de Ilha do Medo. O elenco todo, aliás, é um luxo. Além dos veteranos, temos participações de Elias Koteas, Michelle Williams, Patricia Clarkson, John Carrol Lynch e uma ponta aterrorizante de Jackie Earle Haley, que cada vez mais impressiona por conseguir dar vida aos tipos mais psicóticos. E se Mark Ruffalo é bastante limitado como o detetive Chuck, DiCaprio consegue ser competente pelos dois. Criando um personagem angustiado por eventos do passado, Teddy Daniels é um homem que procura por vingança e acha sua oportunidade com o sumiço de Rachel Solando. A sua convicção de que algo mais acontece dentro da ilha Shutter o faz entrar em uma cadeia de acontecimentos que lhe revelam muito mais do que gostaria de saber. Ao ser desvendado o grande segredo, DiCaprio é talentoso o suficiente para não debandar para o melodrama, conseguindo uma performance intensa e marcante.

O clima de suspense que Martin Scorsese consegue empregar em Ilha do Medo é digno dos grandes filmes do gênero. Bebendo na fonte do cinema noir e dos thrillers sobrenaturais, o cineasta engendra uma teia que mantém o espectador totalmente absorto nos fatos que se desenrolam. Os movimentos primorosos de câmera do cineasta continuam a chamar a atenção (aquele traveling circular em torno de Leonardo DiCaprio no terceiro ato do filme é estupendo). Dignos de nota também são a colaboração da parceira habitual do cineasta, a montadora Thelma Schoonmaker, e a belíssima contribuição do diretor de fotografia Robert Richardson. O longa-metragem de Scorsese só é o que é graças ao trabalho destes dois excelentes profissionais. Enquanto que Schoonmaker se diverte com o surrealismo de algumas passagens, Richardson dá ao filme um visual cheio de áreas escuras, belissimamente fotografadas. Até as cenas mais violentas conseguem ter uma beleza triste graças à câmera de Richardson.

Mesmo não considerando o desfecho uma grande surpresa, como mencionado acima, ele consegue ser bastante coerente com o universo que Scorsese cria para Ilha do Medo. Aliás, é sempre bom ver um cineasta veterano se arriscando em novos gêneros e o diretor de filmes como Taxi Driver (1976), Touro Indomável (1980) e Alice não Mora mais Aqui (1974) se sai muitíssimo bem em sua incursão pelo suspense. Tenho saído satisfeito das sessões dos mais recentes filmes de Martin Scorsese e este aqui não é exceção. Mesmo.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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