
Hurry Up Tomorrow: Além dos Holofotes
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Trey Edward Shults
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Hurry Up Tomorrow
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2025
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EUA
Crítica
Leitores
Sinopse
Em Hurry Up Tomorrow: Além dos Holofotes, a jornada de um músico atormentado está no foco da ação. Ele se aventura ao lado de uma misteriosa estranha, uma jovem obcecada por seu trabalho. A relação ultrapassa os limites da admiração e da sanidade e deixa o cantor à beira de um colapso mental. Thriller/Música.
Crítica
The Weeknd – assim mesmo, “O Fim de Semana”, mas sem o último “e”, afinal, de que adianta escolher um pseudônimo se, além de incomum, também não for único? – é meio que um Midas da música. Com pouco mais de 30 anos, já ganhou 4 Grammys, coleciona números um na Billboard e vem lotando estádios ao redor do mundo. Todo esse frenesi que provoca enquanto músico, no entanto, não tem se repetido em suas incursões por Hollywood. Ainda que já tenha sido indicado ao Oscar (pela canção “Earned it”, do filme Cinquenta Tons de Cinza, 2015) – por um longa bastante duvidoso, aliás – sua estreia atuando se deu na minissérie The Idol (2023), uma experiência tão frustrante que, para se ter uma ideia, ao invés dos seis episódios previstos inicialmente, apenas cinco foram exibidos. Bom, desastre similar parece ter resultado dessa estreia na tela grande. Hurry Up Tomorrow: Além dos Holofotes é a mais plena definição de egotrip, uma viagem incômoda e autocentrada que deve fazer sentido somente junto aos fãs mais radicais do astro. Aos demais, a dica é passar longe.
Dessa vez assinando com seu nome real, Abel Tesfaye surge em cena como… The Weeknd. Pois então, ele interpreta a si mesmo, ou melhor, uma versão mais atormentada e problemática – ou ao menos é o que quer dar a entender. O sucesso não lhe é mais suficiente, pois tudo ao seu redor lhe soa menor, não merecedor, vazio. Entre linhas de cocaína e garrafas sendo esvaziadas uma atrás da outra, a crise lhe abate no meio de uma turnê que deveria lhe servir de consagração. Porém, se vê desprovido de ânimo para continuar. A situação fica ainda pior quando essa tempestade que vem enfrentando se manifesta de forma física: a voz começa a falhar, e não sente mais a mesma segurança de antes para subir ao palco e enfrentar uma apresentação de mais de duas horas, diante de milhares de fãs que mais parecem dispostos e lhe tirar um pedaço a qualquer custo do que simplesmente do talento dele compartilharem. Há uma crítica a esse sistema que transforma a cultura pop em um liquidificador de manifestações artísticas e originais. Mas, assim como todo o resto, essa é tão rasa e óbvia que pouca repercussão alcança entre a audiência.
Em paralelo, duas outras tramas se desenvolvem. Essas servem para abrir espaço, em maior ou menor grau, aos intérpretes de verdades que foram convocados para o elenco – e que aqui servem apenas como coadjuvantes. Por um lado, Lee (Barry Keoghan, que poderia escolher melhor seus projetos, ainda mais após ter sido indicado ao Oscar por Os Banshees de Inisherin, 2022) surge como aquele amigo de infância que largou tudo para ser o empresário / faz-tudo do astro, servindo-o a todo instante. Quando percebe que essa situação pode desmoronar a qualquer momento, a perturbação a ele também se abate. Mas pior é a jornada empreendida por Jenna Ortega. Em alta após sucessos como Wandinha (2022-2025) e Os Fantasmas Ainda Se Divertem: Beetlejuice Beetlejuice (2024), ela encarna uma figura quase mitológica, a fã que se converte em pesadelo, um ser indefinido entre o real e a fantasia. Servindo para confrontar o cantor com seus piores medos, sua presença desaparece em meio aos temores e anseios dele, como se fosse não mais do que um reflexo dessas projeções.
Assim como Michael Jackson (Moonwalker, 1988) ou Prince (Purple Rain, 1984) antes dele – entre tantos outros, que fique claro – Abel Tesfaye (ou The Weeknd, pois acabam sendo a mesma pessoa, independente da vontade expressa em tratar um e outro como se fossem entidades separadas) oferece ao seu séquito um mergulho dentro de si mesmo, como se uma suposta complexidade fosse capaz de aumentar seu valor enquanto artista, ao mesmo tempo em que transita apenas por cenários repletos de clichês e já esperados – os bastidores caóticos, a fuga apoteótica, a discussão que pouco agrega ao debate – permitindo que se sobressaia apenas aquilo que ele, enfim, concorda, deixando claro quem está no controle. Hurry Up Tomorrow: Além dos Holofotes tem o mesmo nome do último álbum do cantor, e essa é, na verdade, sua intenção final: servir de guia visual a uma expressão que serve melhor enquanto música do que por meio da imagem. Se ao menos servir para que a força-motora por trás de tudo isso entenda essa realidade, sua missão terá sido alcançada.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Robledo Milani | 2 |
Francisco Carbone | 1 |
Edu Fernandes | 2 |
MÉDIA | 1.7 |
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