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Sinopse

Hélio Lotte já foi rodeado de fama e dinheiro, e esteve por muito tempo no centro dos holofotes. Hoje, livre da cadeia após anos preso por um crime brutal, o ex-ídolo do rock só tem uma intenção: ser esquecido. O que ele não imagina é que, ao se abrigar em uma pequena igreja evangélica, partes do seu passado voltarão à tona trazendo mais um acontecimento ruim.

Crítica

Durante um bom tempo não sabemos realmente quem é Hélio Lotte (Armando Babaioff), cujo nome as pessoas fazem questão de mencionar completo, do que intuímos ele ser conhecido. Levado escondido num porta-malas a um templo evangélico, furtivamente durante a madrugada, ele recebe as atenções do pastor Gileno (Flavio Bauraqui), que faz questão de certificar-se de seu conforto. Muito habilmente, o diretor Alvaro Furloni alimenta nossa curiosidade, oferecendo-nos informações a conta gotas, instigando a vontade de realmente descobrir mais acerca dessa situação, então, envolta numa bruma. Homem Livre apresenta uma ambientação condizente com os mistérios que a alimentam. Os cenários são predominantemente escuros, iluminados pontualmente para evidenciar a possibilidade de algo surgir das sombras. Ao sabor das descobertas paulatinas, somos convidados a duvidar de cada passo, mas, principalmente, das verdadeiras intenções sob os vários discursos de perdão.

Babaioff interpreta vigorosamente as complexidades do personagem que precisa se reconstruir depois de um evento trágico. Quando a trama se apresenta mais abertamente, passamos a entender os porquês de seu comportamento acuado, quando não submisso aos desígnios de outrem que supostamente pode ajuda-lo. Roqueiro de sucesso no passado, ele cometeu o que o pastor menciona como “aquilo que somente Deus pode fazer”, aludindo a um assassinato hediondo que propiciou sua desgraça, sobretudo pública. Há elementos periféricos que sugerem uma intriga circundante, talvez envolvendo negócios escusos levados a cabo pelo religioso. É estranha a relação com um empresário local que promete financiar a construção de uma nova igreja. Homem Livre se instaura com propriedade na seara do suspense, nos mantendo ligados no que acontece, trafegando por caminhos enviesados com o propósito de nublar possíveis conjecturas, fazendo da incerteza um bem.

O envolvimento do protagonista com a jovem Jamily (Thuany Andrade) fornece o toque de tentação, propício para adicionar novas camadas numa narrativa que flerta aberta e constantemente com os pecados listados na bíblia cristã. Todavia, a evolução disso para o plano ainda mais repleto de dubiedades, que deflagra uma desordem mental até então explorada no limite do imperceptível, ocasiona a guinada que lança o filme num fluxo de informações e novidades mais confuso que necessariamente instigante. A maioria do que havia sido alçado à categoria de componente capital cai por terra, pois Homem Livre abraça um viés de perturbação psicológica, desconcertante pela bagunça decorrente de um itinerário demasiadamente fragmentado. Infelizmente, o roteiro de Pedro Perazzo não consegue estabelecer um percurso dramaticamente potente que dê conta de amarrar as pontas mais importantes da história, e mais, de evitar o completo descarte das dúvidas anteriormente suscitadas que potencialmente tenderiam a aumentar a densidade do longa-metragem.

O resultado é um encerramento desajeitado, no qual tudo volta a dizer respeito ao roqueiro que experimenta instantes de tensão ao confrontar-se com a própria imagem num videoclipe. O suspense é aniquilado não exatamente pelo oferecimento das respostas, mas por conta da maneira com que elas nos são entregues. Determinados ingredientes caros são desperdiçados, tais como a influência de poderes nefastos, a incerteza quanto às finalidades dos líderes que arrebanham homens e mulheres frequentadores e financiadores dos cultos, entre outros similares em força. Homem Livre mostra alguém evidentemente encarcerado, apostando em diversas esferas de prisão, tanto literais quanto metafóricas, para deflagrar uma danação praticamente irrevogável. Todavia, a inabilidade para moldar os desdobramentos de acordo com o percurso até ali empreendido, faz dele refém de esparsos bons momentos, que rareiam gradativamente até o fechar das cortinas sem pujança.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.
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