Crítica


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Sinopse

Propõe um estudo experimental e etnográfico sobre os cultos religiosos do Brasil atual. Além disso, é também uma pesquisa sobra as formas de fazer cinema hoje e o desafio de representar o que é, aparentemente, invisível.

Crítica

A experiência de vivenciar uma outra cultura demanda silêncio. Explicando de uma maneira curta e grossa, é preciso se calar para poder ouvir. E é isso que fazem os realizadores Vincent Moon e Priscilla Telmon, impondo a si mesmos enquanto narradores uma mudez incomodativa que nos deixa a sós com as imagens e sons recortados por eles. Uma colagem de cenas das mais variadas manifestações religiosas pelo Brasil, Híbridos: Os Espíritos do Brasil às vezes se assemelha a um exercício de Terrence Malick – só faltam mesmo as típicas narrações sussurrantes dos filmes desse último. Porém, diferente do renomado cineasta, que corta até participações inteiras de atores em seus projetos, visando construir uma história envolvente, Moon e Telmon caem recorrentemente na autoindulgência e permitem que a observação se torne puramente estética.

E não é que os dois não tenham do que se gabar. A fotografia do filme é belíssima. Desde os segundos iniciais, quando já mergulham na floresta e estão ao redor de um cacique vestindo seu colar cerimonial, Vincent Moon (que também assina a direção de fotografia) já demonstra que está disposto a encher os olhos do espectador com imagens chamativas por si só – independente do que representam. Os planos em contraluz da tribo sob um sol poente são capturados com a maestria de Emmanuel Lubezki, enquanto as composições de quadro também não deixam a desejar quando colocam personagem em pontos de fuga ou distribuem as pessoas em dimensões proporcionais dentro do quadro, indo do primeiro plano até o fundo. A luz também é trabalhada com atenção, nunca estourada ou escura demais, sempre nivelada e difusa, pintando certos frames como telas barrocas ou renascentistas – e tendo em vista a proximidade desses movimentos com a religião, acaba sendo apropriado que assim o sejam.

Além disso, não há interferência de trilha, a não ser as canções, melodias e cânticos entoados pelas pessoas que a câmera capta. Quase não há falas, pelos menos nenhuma recortada especificamente para chamar atenção. Em meio a procissões, cultos e oferendas, a vozes funcionam como um coro – o que ressalta a ideia de massa religiosa e de povos unidos por uma crença incomum. São conceitos, claro, apenas sugeridos pelo que vemos e ouvimos. Nada nunca realmente é dito ou extravasado de forma óbvia, nenhuma grande moral. Estamos ali observando, parte do empurra-empurra atrás da Santa, na rodinha de músicas tradicionais da aldeia, com os pés na água, orando.

É tudo tão bonito e a interferência é tão pouca que não é custoso mergulhar em cada um daqueles espaços. Igualmente, não é complicado ser arrancado deles, já que a pura observação se dá num nível plástico. No momento em que decidem tratar daquelas pessoas como um todo, Moon e Telmon também dificultam a nossa aproximação com qualquer um daqueles contextos. Não há nada que nos prenda empaticamente ao projeto que não seja a apreciação estética. Portanto, qualquer plano que fuja da beleza, manda o espectador para fora da tela, pois seu laço com tudo aquilo que está vendo se rompe, o acordo é quebrado e nos sentimos traídos – onde está o preciosismo que prometeram nos momentos iniciais? Híbridos ressalta, sim, um Brasil de beleza ímpar, mas não é muito bom na tarefa de aprofundá-lo, pois se faz demasiadamente dependente da experiência sensorial.

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é formado em Produção Audiovisual pela PUCRS, é crítico e comentarista de cinema - e eventualmente escritor, no blog “Classe de Cinema” (classedecinema.blogspot.com.br). Fascinado por História e consumidor voraz de literatura (incluindo HQ’s!), jornalismo, filmes, seriados e arte em geral.
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Yuri Correa
6
Marcelo Müller
4
MÉDIA
5

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