Crítica


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6 votos 7.6

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Sinopse

Três amigos, sempre envolvidos em confusão, encontram uma antiga marionete. Apesar de parecer um brinquedo inofensivo e motivo de diversas piadas entre eles, o trio logo descobre que se trata de Slappy, um boneco maligno que quer iniciar um apocalipse durante o Dia das Bruxas.

Crítica

Há uma frágil intenção de oferecer subtramas relevantes que sustentem a fantasia e a aventura em Goosebumps 2: Halloween Assombrado, especialmente no que diz respeito a Sarah (Madison Iseman), jovem prestes a se submeter aos procedimentos seletivos para entrar na faculdade. Ela está às voltas com a dificuldade de produzir uma redação, diante do velho fantasma da página em branco, tão presente no cotidiano de quem escreve. Todavia, esse drama circunstancial logo é totalmente apagado pelo pandemônio criado por um boneco de ventríloquo que excepcionalmente ganha vida. O adolescente Sonny (Jeremy Ray Taylor) e seu melhor amigo, Sam (Caleel Harris), encontram o artefato macabro junto a um livro enigmático, dando início a uma confusão sem precedentes na cidade. Obviamente realizado para os públicos pré-adolescente e infanto-juvenil, o filme possui incongruências e facilidades que, entretanto, não chegam a comprometer seriamente o intento de divertir acima de tudo.

Goosebumps 2: Halloween Assombrado passa um tempo considerável preparando o terreno, fazendo da interação dos personagens reais com o boneco falante um prenúncio de algo mais grave. Ainda no que tange à tentativa de enxertar substância na trama, vemos Sarah se decepcionando na seara amorosa, segmento completamente irrelevante, que não possui, sequer, ressonâncias, estando ali apenas para “encher linguiça”. A atmosfera predominante leva em consideração que o horror “precisa” permanecer domesticado, afinal de contas estamos falando de uma produção para toda a família. Talvez até por isso as discussões periféricas careçam tanto de espaço, esvanecendo gradativamente por absoluta falta de nutrientes. Outros elementos sinalizam a inocência prevalente, como a adesão rápida demais da protagonista à versão estapafúrdia – porém verdadeira – do ex-namorado para um incidente no ginásio da escola. Aliás, as pessoas em cena aceitam depressa o extraordinário.

Essencial no longa-metragem anterior, Goosebumps: Monstros e Arrepios (2015), Jack Black desta vez é uma presença absolutamente dispensável, pois não possui importância, senão como ponte entre os dois filmes e possível gancho para um terceiro. Goosebumps 2: Halloween Assombrado tem boas sacadas, como o vizinho interpretado por Ken Jeong, cujo esforço para tematizar o jardim com itens de Halloween resulta em criaturas sofisticadas visualmente, que depois literalmente tocam o terror nas ruas quando os planos do boneco antagonista ganham corpo. Os efeitos visuais são bem empregados, com o claro cuidado de utilizar parcimoniosamente figuras concebidas com mais níveis de detalhes, como as bruxas de cabeças brilhantes e o cavaleiro sem cabeça. A encenação proposta por Ari Sandel é burocrática, com pouca criatividade quanto à articulação de sons e imagens, geralmente partindo da decupagem simplória para estabelecer seu fluxo narrativo num terreno comum.

Mesmo com problemas estruturais, Goosebumps 2: Halloween Assombrado é uma aventura infanto-juvenil com qualidades, que filtra os instantes de maior tensão por um prisma pueril, fazendo com que tudo ganhe contornos de uma grande brincadeira fadada a ter final feliz. O filme se aproveita relativamente bem da tradição dos monstros, oferecendo um pacote vasto de tipos facilmente associados à comemoração do Dia das Bruxas, como o Drácula e a Múmia. Contando com personagens principais carismáticos, embora nem sempre dê espaço suficiente para eles se desenvolverem além do crescimento necessário à completude da missão, o filme tende a agradar aos mais jovens, exatamente por focar-se na ação, nos planos para acabar com o reinado do boneco de risada enervante e seu imediato tipicamente corcunda, aliás, essa uma das várias convenções utilizadas para acessar códigos clássicos do gênero. Entretenimento escapista, que alterna predicados e inconsistências, acaba ficando num meio termo cômodo.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.
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CríticoNota
Marcelo Müller
5
Roberto Cunha
5
MÉDIA
5

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