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Sinopse

Uma criança é raptada. Na delegacia, os pais da vítima acusam Rosa, amante do sujeito e principal suspeita de ter cometido o crime. À medida que depoimentos contraditórios são dados, começam a ser reveladas verdades escondidas nos recantos mais sombrios dessa dinâmica.

Crítica

O título pode remeter às fábulas infantis que procuram ensinar valores para crianças a partir da sugestão do medo, porém o conteúdo de O Lobo Atrás da Porta vai além e retrata algumas alegorias da vida real, tão cruéis que podem parecer incríveis, mas que ocorrem com mais frequência do que se imagina. A ousadia do longa-metragem de estreia de Fernando Coimbra e de seu excepcional elenco são alguns dos muitos méritos que levaram o longa ao prêmio de Melhor Filme no Festival do Rio 2013.

O Lobo Atrás da Porta pode ser Sylvia, Bernardo e Rosa, personagens que se lançam num universo fragmentado no qual os verdadeiros vilões são as circunstâncias e consequências na qual resultam suas escolhas, transformadas numa espiral de infortúnios que parece não ter fim. O desaparecimento de uma menina evidencia o declínio do trio supracitado; mentira, traição, desilusão e outras obscuridades pontuam cada lembrança relatada num inquérito policial.

O drama, que flerta de perto com um cinema de gênero pouco praticado no Brasil, revela a maturidade de um cineasta que já chamava a atenção para seu talento como curta-metragista. Fernando Coimbra, que entre seus sete pequenos-grandes filmes tem o multipremiado Trópico das Cabras (2007), escreve e dirige O Lobo Atrás da Porta, que merece a atenção que tem ganhado. Seus demorados planos com câmeras estáticas, quando dedica sequências aos atores e diálogos, é um dos artifícios mais adequados ao clima que pretende imprimir no longa. A fotografia magistral de Lula Carvalho engrandece tanto o sucesso da produção quanto o talento deste profissional, que a cada novo trabalho revela estar à luz seu pai, Walter Carvalho, e não à sombra dele.

Leandra Leal, Milhem Cortaz e Fabíula Nascimento, sempre destacados entre os melhores atores do cinema brasileiro contemporâneo, foram as escolhas ideais para o trio protagonista de O Lobo Atrás da Porta. Pela composição da aparentemente frágil Rosa numa vertente multifacetada, Leandra garantiu um novo prêmio no Festival do Rio como Melhor Atriz, láurea já conquistada por conta de Éden (2012). Seu desprendimento e compromisso no complexo retrato de Rosa ratifica esta merecida distinção.

Ainda que muito bem executado, o filme de Coimbra, construído a partir de narrativa não-linear, possui falhas quase imperdoáveis em seu roteiro, como o flashback falso que subestima a inteligência do espectador – prática pela qual Alfred Hitchcock se arrependeu profundamente depois de Pavor nos Bastidores (1950). As idas e vindas temporais também soam desequilibradas; os hiatos a partir dos depoimentos dos personagens aos policiais, que se transformam em novos flashbacks, são tão extensos que fazem com que o núcleo ambientado na delegacia se torne praticamente desnecessário. Os deslizes de roteiro, ao menos, são razoavelmente compensados – ou eclipsados – pela condução segura de Coimbra no posto de diretor.

O Lobo Atrás da Porta conquista a atenção do espectador ao deixá-lo em constante interrogativa, seja pelo clima de whodunit ou pelas mentiras sinceras relatadas pelos personagens. No entanto, o surpreendente clímax é o que reitera a principal qualidade do filme: a coragem pouco comum para concluir uma história por caminhos pouco convencionais, porém muito mais tortuosos.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Graduado em Publicidade e Propaganda, coordena a Unidade de Cinema e Vídeo de Caxias do Sul, programa a Sala de Cinema Ulysses Geremia e integra a Comissão de Cinema e Vídeo do Financiarte.
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