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Sinopse

Alain está desempregado e vive com o filho, de apenas cinco anos. Ele parte para a casa da irmã em busca de ajuda e logo consegue um emprego como segurança de boate. Um dia, ao apartar uma confusão, ele conhece Stéphanie, uma bela treinadora de orcas. Alain a leva em casa e deixa seu cartão com ela, caso precise de algum serviço. O que eles não esperavam era que, pouco tempo depois, Stéphanie sofreria um grave acidente que mudaria sua vida para sempre.

Crítica

Elaborado a partir de uma sensibilidade singular, Ferrugem e Osso é um daqueles poderosos filmes capazes de alterar significativamente seu espectador. Ao discorrer sobre as perenes memórias das dores que nos formam e nos transformam, o drama de Jacques Audiard permanece muito além de sua sessão, seja pela excepcional obra que é, seja pela força às vezes brutal de seu enredo.

Baseado no conto de Craig Davidson de mesmo título, Ferrugem e Osso se inicia com a aproximação de dois personagens sofridos, que não encontraram sua razão de existir. Alain (Matthias Schoenaerts) é um pai solteiro e desempregado que passa a viver com sua irmã, enquanto faz pequenos trabalhos como segurança em uma casa noturna. Numa noite comum, ele conhece Stéphanie (Marion Cotillard), treinadora de baleias num parque aquático, e uma série de eventos faz com que os dois desenvolvam uma relação mais próxima.

Em O Profeta (2009), Jacques Audiard explorava a privação de liberdade de seu protagonista como meio para que ele descobrisse outras facetas de sua personalidade. O mesmo tema retorna em Ferrugem e Osso, agora de forma metafórica, quando Stéphanie perde suas pernas num acidente. Antes da tragédia, ela parecia não ter muitas motivações ou interesse em sua vida, o que é bruscamente alterado com o ocorrido e com a aproximação de Alain, que se torna uma espécie de amigo íntimo. Enquanto a relação dos dois se estreita, cada um dá forças para o outro buscar aquilo que lhe falta, principalmente Alain, que se aproxima mais de seu filho e passa a se dedicar ao esporte que sempre lhe interessou, o kickboxing, o que faz em lutas de rua ilegais.

Audiard já havia dirigido atores excelentes em papeis desafiadores, como Romain Duris no delicado De tanto bater meu coração parou (2005) e Tahar Rahim e Niels Arestrup em O Profeta. Com Schoenaerts e Cotillard, o cineasta atinge um patamar maior na direção de elenco, uma vez que exige mais deles em seu filme – ainda que os deixe livres o suficiente para entregar performances arrebatadoras. Marion tem cenas intensas nas quais faz merecer os constantes apontamentos como uma das melhores atrizes de sua geração. A visita de Stéphanie ao parque aquático após o acidente e a longa e silenciosa cena em frente a uma baleia, por exemplo, são dotadas de uma poesia e beleza impressionantes. Matthias Schoenaerts, que conquistou copiosos elogios pelo tipo perturbado que interpretou em Rundskop (2011), é igualmente brilhante ao lado de Cotillard.

Ferrugem e Osso é um filme belíssimo e apresenta com profundidade duas almas perturbadas procurando por salvação e aprendendo a sobreviver. Intenso e emocionante, demonstra a capacidade de Audiard em conduzir efetivamente seu espectador a partir de uma edição rápida aliada a músicas bem escolhidas de cantores tão distintos como Bruce Springsteen e, surpreendentemente, Katy Perry. Não que a condução do diretor diminua a força do filme, pelo contrário. Ferrugem e Osso tem até mesmo em suas convenções saídas acertadas que colaboram para sua grandiosidade.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Graduado em Publicidade e Propaganda, coordena a Unidade de Cinema e Vídeo de Caxias do Sul, programa a Sala de Cinema Ulysses Geremia e integra a Comissão de Cinema e Vídeo do Financiarte.
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