Extermínio: A Evolução

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Sinopse

Extermínio: A Evolução se passa quase três décadas após o vírus da raiva escapar de um laboratório, quando os sobreviventes encontraram maneiras de coexistir em meio aos infectados, agora sob uma quarentena implacável. A história segue um grupo de sobreviventes que vive em uma ilha que, quando um membro se aventura no continente, descobre segredos, maravilhas e horrores que causaram mutações tanto nos infectados quanto nos sobreviventes. Horror.

Crítica

Como esquecer de Extermínio (2002), um marco do cinema de horror, um “antes e depois” para o subgênero Zumbi e ponto determinante para a carreira do diretor Danny Boyle? Pois é exatamente isso que ele pede ao espectador diante de Extermínio: A Evolução. Que se esqueça da sequência Extermínio 2 (2007), na qual ele atuou apenas como produtor executivo, é até compreensível. Afinal, a produção dirigida pelo espanhol Juan Carlos Fresnadillo – que posteriormente seguiria entregando outros títulos igualmente descartáveis, como Donzela (2024) – nunca chegou a se mostrar à altura do original. Mas o cineasta vencedor do Oscar por Quem quer ser um milionário? (2008) segue em sua crise pessoal, momento pelo qual tem atravessado na última década, e ao invés de surgir com algo novo e revolucionário – o que foi marcante no início de sua trajetória como realizador – se contenta em mais uma vez revisitar antigos sucessos dele próprio, sem agregar algo válido ao conjunto. A decepção é quase inevitável.

Para começo de conversa, importante prestar atenção aos títulos em inglês. O primeiro filme se chamava 28 Days Later, ou seja, 28 Dias Depois. Era o tempo no qual Jim (Cillian Murphy) passava em coma em um hospital. Ao acordar, o mundo que ele até então conhecia não mais existe, e agora precisa lidar com um vírus da raiva altamente nocivo aos humanos, que uma vez infectados se transformam em zumbis agressivos. O segundo longa, 28 Weeks Later (ou 28 Semanas Depois) tentava demonstrar o efeito dessa ameaça à nível global, e o maior espaço de tempo até fazia algum sentido. Eis que, deixando os meses de lado, tem-se agora 28 Years Later (em tradução direta, 28 Anos Depois), no qual a realidade já está acostumada nessa coexistência entre os sãos, que precisam estar atentos e se proteger a todo custo, e os infectados, restritos basicamente ao Reino Unido – que permanece em uma quarentena sem data para acabar. O resto do continente europeu ou mesmo do mundo? Tudo em paz, na mais absoluta normalidade.

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E como se sabe disso? Por meio de diálogos expositivos e didáticos. Pois a trama não tem a mesma ambição do segundo capítulo, centrando-se num contexto familiar. Exatamente: ao invés do thriller de terror apocalíptico vendido pela equipe de marketing, o que se vê é uma história íntima sobre um menino querendo salvar sua mãe de uma doença aparentemente incurável. O verdadeiro protagonista não é Aaron Taylor-Johnson, que como o pai tem destaque apenas no primeiro terço da ação, e muito menos Ralph Fiennes, que no papel do mítico Dr. Kelson leva quase 90 minutos para entrar em cena – e que, segundo o diretor, terá seu passado melhor investigado num episódio futuro. Quem conduz o enredo é Spike (um surpreendente Alfie Williams, que antes havia feito uma participação pontual na série His Dark Materials, 2022). É ele que aprende, mesmo que antes do tempo, as lições que o pai tem a lhe passar sobre como sobreviver nesse cenário de caos e destruição. E será também ele que, sozinho, decidirá ir contra todas as possibilidades e atravessar um território infestado para levar sua mãe (Jodie Comer, com menos a fazer do que seria esperado) até um suposto médico e, por meio dele, tentar oferecer a ela alguma chance de cura.

E nesse imbróglio familiar, onde fica a tal ‘evolução’ do título brasileiro? Pois bem, rapidamente aprende-se que alguns dos infectados, ao invés de regredirem fisicamente, se desenvolveram em caminho oposto, tornando-se alfas: mais fortes, mais resistentes, mais selvagens. O que se faz com essa informação? Pouca coisa. Pois, como dito no início desse texto, Danny Boyle declarou em entrevistas de divulgação ter aqui o início de uma nova trilogia – o segundo (ou quarto) longa da saga teria sido filmado simultaneamente, inclusive – e somente nos capítulos seguintes estes detalhes serão melhor trabalhados. Como essa ilha isolada de sobreviventes se manteve à parte por tanto tempo? Por qual motivo o resto do planeta não se une para acabar com a ameaça? E o que Kelson fez sozinho durante todos estes anos? Nada parece muito importar nesse momento. Assim como fez em T2: Trainspotting (2017), Boyle mais uma vez revira seu próprio baú em busca de um novo acerto. Muitas promessas, e poucos acertos, é o que consegue.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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