Crítica
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Sinopse
Numa viagem ferroviária na Turquia, dois estranhos desenvolvem uma forte conexão romântica.
Crítica
Dois desconhecidos em um trem é um elemento que foi explorado inúmeras vezes no cinema. Desde clássicos como Pacto Sinistro (1951), de Alfred Hitchcock, até o romântico Antes do Amanhecer (1995), de Richard Linklater, as possibilidades envoltas nesse cenário tão limitado são inúmeras. O turco Expresso do Destino parte dessa premissa para brincar um pouco com certos conceitos relacionados, ao mesmo tempo em que deixa passar oportunidades que talvez pudessem ter sido melhor trabalhadas, caso fosse esse o interesse. Mas é justamente nesse ponto em que o filme assume as condições as quais está tendo acesso e subverte essa lógica de ir atrás de excessos. Assim, contentando-se com o mínimo, amplia seu discurso, justamente por se revelar universal. E ainda que não demonstre maiores ousadias, será nessa estratégia controlada que esconde seus maiores méritos.
Leyla (Dilan Çiçek Deniz, num dos seus primeiros trabalhos no formato), sai às pressas rumo a uma viagem de mais de 14 horas dentro de um trem que irá atravessar todo o país. Após procurar por assentos vazios, acaba encontrando uma cabine aparentemente abandonada. Mas o lugar tem dono, e quem chega em seguida é Ali (Metin Akdülger, de O Segredo do Templo, 2019). A sorte (dela) é o azar (dele). Afinal, o rapaz havia comprado os quatro lugares, pois faria o passeio com mais três amigos, que, no entanto, desistiram pouco antes da partida. Como decidiu seguir sozinho, a inesperada companhia dela é mais do que bem-vinda. Mas estaria a garota tão satisfeita assim em ter que dividir aquele espaço diminuto por tanto tempo com alguém com quem não possui a menor intimidade? Ou será que essas aparências escondem uma verdade que só será revelada no devido momento?
É claro que nada é o que parece ser. Leyla e Ali, de fato, não se conhecem – ainda. Afinal, isso também não quer dizer que não estejam predestinados a se relacionarem. Pois esse é o segredo a ser revelado durante o percurso que estão trilhando: muitas vezes no passado os dois já tangenciaram situações e pessoas em comum. Se no começo são perfeitos estranhos, aos poucos esses muros e restrições vão se desfazendo, ao mesmo tempo em que ganham novos significados. Ele partiu atrás da ex-namorada, que está de casamento marcado. Ela o incita a falar. Aos poucos, ele revela que pretende fazer uma última tentativa de reconquistá-la. As intenções da colega de viagem, no entanto, irão demorar um pouco mais para serem reveladas. Basta afirmar que o destino dela é o mesmo – e suas pretensões, similares. O quanto os atos de um irão interferir nas vontades do outro? Esse é o mistério de Expresso do Destino.
Em um filme que tem cerca de 95% da sua ação baseada em apenas dois personagens, era fundamental para o funcionamento da proposta que ambos revelassem uma química forte entre si. Por mais que pareçam, ao menos num primeiro instante, bastante diferentes, Dilan Çiçek Deniz e Metin Akdülger revelam uma estreita sintonia. Ela tem uma irritação constante, um misto de antipatia com provocação. Ele, por outro lado, conta com um carisma natural, que contagia e envolve sem muito esforço. Não será novidade o fato de que, de um jeito ou de outro, acabarão deixando de lados seus objetivos iniciais e passarão a se concentrar mais naquele que está na sua frente. Se essa previsibilidade não chega a ser evitada, ao menos a narrativa acerta em desenvolvê-la sem apressar o andar dos acontecimentos, apostando mais no charme de ambos para que tudo flua mais como consequência e menos como propósito.
É assim que Expresso do Destino, mesmo sem se arriscar dentro de um gênero já bastante desgastado, consegue cativar sua audiência fazendo uso dos mesmos elementos que tantos similares, por não saber como empregá-los com precisão, acabam por desperdiçá-los. Com bons diálogos e dois protagonistas que revelam fácil conexão – tanto entre eles como com o espectador – o longa do diretor Ozan Açiktan (que também esteve envolvido com a citada série O Segredo do Templo, 2019) pode não ser surpreendente, mas por outro lado é feliz em alcançar seus intentos com tranquilidade e destreza diante da tarefa a que se propõe. Afinal, mais do que o fim, o que importa por aqui é são os meios percorridos. E são por eles que o conjunto conserva uma força quase insuspeita.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 6 |
Francisco Carbone | 5 |
Leonardo Ribeiro | 6 |
MÉDIA | 5.7 |
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