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Sinopse

Empregado na maior empresa de informática do mundo aos 26 anos, Caleb vence uma competição para isolar-se com o executivo-chefe da empresa. No local, ele participa de um inovador experimento de inteligência artificial.

Crítica

Realidades aumentadas, aparelhos tecnológicos vestíveis, inteligência humana emulada em computadores, próteses inteligentes e até mesmo ciborgues são apenas alguns entre tantos fatos recentes que eram apenas ficção poucos anos atrás. Neste universo, Ex-Machina: Instinto Artificial, de Alex Garland, soa tão coerente quanto Ela (2013), de Spike Jonze, e a série britânica Black Mirror (2011-), de Charlie Brooker. Outra qualidade que estes projetos audiovisuais compartilham é a excelência ao conceberem narrativas brilhantes que impactam pela originalidade e tom premonitório.

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O argumento aqui é simples: um programador (Domhnall Gleeson) é sorteado para participar de um experimento e avaliar as qualidades humanas de um sistema de inteligência artificial criado pelo excêntrico CEO de uma grande companhia (Oscar Isaac). Ele está munido do Teste de Turing, sistema proposto por Alan Turing – recentemente retratado em O Jogo da Imitação (2014) – que avalia a capacidade de uma “máquina” em emular comportamento inteligente equivalente ao de um ser humano. No entanto, sua pretensão é desafiada ao se perceber cada vez mais afeiçoado pelo sistema cibernético Ava, que tem a forma de uma encantadora mulher (Alicia Vikander).

Alex Garland, que já havia conquistado atenção por seus roteiros em parceria com o cineasta Danny Boyle nos filmes Extermínio (2002) e Sunshine: Alerta Solar (2007), dirige seu primeiro longa-metragem com maestria e atenção minuciosa para a construção do tempo e espaço que permeiam sua narrativa – algo que fica ainda mais sensacional quando considera-se a ambientação limitada da trama. Atento ao trabalho de talentos emergentes como o designer de produção Mark Digby e a diretora de arte Katrina Mackay, esta última envolvida com o departamento de arte do recém-lançado Star Wars: O Despertar da Força (2015), Garland propõe uma composição visual deslumbrante, minimalista e funcional para as múltiplas camadas de sua história, que vai muito além do conto de suspense sci-fi antecipado em sua premissa.

Domhnall Gleeson, que em Black Mirror experimentou posição contrária vivendo um sistema de inteligência artificial, empresta seus trejeitos inocentes e graça desajeitada como o protagonista de Ex-Machina. A partir da dedicada composição do ator, se torna quase instintivo ao espectador compreender e ser empático com as fases de seu personagem: o deslumbramento com sua importante tarefa, o encantamento por Ava, os questionamentos entre responsabilidade e seus próprios desejos, dúvidas e aspirações, sejam elas inocentemente românticas ou ambiciosas. Oscar Isaac, que faz o magnata e inventor de Ava, Nathan, demonstra sua versatilidade ao construir uma ambígua e verossímil figura, tão carregada da realidade que transborda em jovens e excêntricos milionários que fazem fortunas com sua inteligência nas diferentes áreas da tecnologia. Gleeson e Isaac têm ótimas sequências juntos, mas o coração do filme tem o nome de Alicia Vikander.

A atriz sueca, que já havia demonstrado sua delicadeza e alcance dramático no belíssimo Puro (2009), finalmente recebe o merecido reconhecimento com este filme e também por A Garota Dinamarquesa (2015). No difícil papel de um robô, ela economiza em quaisquer afetações e até mesmo expressões sem tornar sua personagem anódina ou desinteressante; suas emoções estão contidas em pequenas nuances e essencialmente no olhar, que por vezes diz muito mais que as linhas habilmente criadas por Garland para sua personagem, aqui amplificadas até mesmo por sua entonação de voz. Nas primeiras sequências do filme, Vikander conta apenas com sua face destacada sobre um corpo cibernético, cheio de conexões e componentes sintéticos. Ao desenrolar da trama, com peças de roupas e cabelo, sua afabilidade entra cada vez mais em conflito com o tom sombrio da narrativa, e tudo se torna ainda mais interessante.

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Ex-Machina não chegou a ser lançado nos cinemas no Brasil, decisão da Universal Pictures que se provou ainda mais errada com as indicações do filme ao Oscar, nas categorias de Melhores Efeitos Visuais e Melhor Roteiro Original, para Garland. Eis um daqueles pequenos grandes filmes memoráveis, passível a debates inesgotáveis sobre filosofia e sociologia na pós-modernidade, éticas e leis da tecnologia e robótica e, porque não, sobre pequenos grandes filmes memoráveis.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Graduado em Publicidade e Propaganda, coordena a Unidade de Cinema e Vídeo de Caxias do Sul, programa a Sala de Cinema Ulysses Geremia e integra a Comissão de Cinema e Vídeo do Financiarte.
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