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Sinopse

Chuck e Larry são bombeiros e muito amigos. Viúvo, Larry descobre que não pode colocar seus filhos como beneficiários de seu seguro de vida, então ele pede a Chuck para se passar por seu marido. O caso vira notícia e eles precisarão levar a mentira até o fim.

Crítica

Eu os declaro marido e... Larry! tinha tudo para ser o filme mais homofóbico e preconceituoso do ano. Afinal, a trama não é das mais "iluminadas". Senão, veja bem: dois bombeiros - uma das profissões que mais "povoam" o imaginário gay - decidem se casar, apesar de serem heterossexuais, apenas para que um deles consiga benefícios do governo. Como são vítimas de suspeita, precisam fingir que são homossexuais apaixonados, abusando de todos os clichês e estereótipos do gênero. Sim, está tudo lá, por mais previsível e bizarro que possa parecer. Mas, mesmo assim, o resultado não é dos piores, e no final o que acaba prevalecendo é a mensagem de tolerância e respeito, uma discussão sempre saudável de ser levantada.

O maior medo nem era o tema em si, mas nas mãos de quem ele estava depositado. Afinal Adam Sandler - assim como Jim Carrey ou Will Ferrell, por exemplo - pode até ser um bom ator em projetos "sérios" (como no surpreendente Embriagado de Amor), mas o humor que emprega nas comédias é, via de regra, escrachado, pastelão e ofensivo. Este mesmo tom também se faz presente aqui, mas de modo muito mais leve, e ainda assim dentro de um propósito, visando a transformação dos protagonistas.

Sandler faz o machão conquistador que teve sua vida salva em trabalho pelo colega e por isso acaba aceitando o pedido maluco. Kevin James é viúvo e com duas crianças para criar. Como não está conseguindo incluir os filhos no plano de saúde, descobre que a maneira mais fácil para que isso aconteça é se casando novamente - e daí a ideia de chamar o amigo. Já a estonteante Jessica Biel é a advogada chamada para ajudá-los na defesa, ao mesmo tempo que, mesmo sem saber, estará atrapalhando os planos dos dois, já que vira objeto de desejo do mais assanhado. Aos poucos o falso casal gay vai se envolvendo no mundo GLS, e neste processo se vê - e juntamente o espectador - superando as falsas ideias pré-concebidas, descobrindo uma nova realidade e adquirindo uma sensibilidade até então insuspeita.

Se Dennis Dugan provavelmente nunca será um diretor de renome (é responsável por filmes como O Paizão e Os Esquenta-Bancos) e os dois protagonistas não inspiram muito respeito, há três outros nomes que nos fazem repensar qualquer opinião apressada sobre Eu os declaro marido e... Larry!. Primeiro é o do roteirista Alexander Payne, vencedor do Oscar por Sideways: Entre Umas E Outras e diretor de obras elogiadas como As Confissões de Schmidt. Ele é o principal crédito por trás do enredo do filme, tendo escrito a maioria dos diálogos e o argumento inicial. Isso indica a natureza da trama, que mesmo coberta por piadas rápidas e visuais, é dotada de uma profundidade razoável. E por fim tem-se a dupla Richard Chamberlain (ator de Pássaros Feridos) e Lance Bass (cantor do grupo N'Sync), duas celebridades que há pouco se assumiram como homossexuais e atualmente são ativistas GLS. Suas participações são pequenas, mas elas certamente não teriam se envolvido neste projeto caso considerassem ofensivo e contrário a uma causa que tanto defendem.

E, acima de tudo, é importante ter algo em mente: Eu os declaro marido e... Larry! é uma comédia feita para grandes públicos. Assim sendo, é até louvável perceber como consegue escapar da superficialidade que impera neste gênero, mesmo que atingindo suas intenções originais. Tanto que somou mais de US$ 117 milhões somente nas bilheterias norte-americanas. E se o sucesso popular estiver acompanhado de uma lampejo de mensagem contra a discriminação e a favor das diferenças, já é ótimo. Mesmo que seja com a cara do Adam Sandler à frente do elenco!

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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