Crítica


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Sinopse

Para driblar a marcação cerrada do pai da moça, italiano super conservador, um casal de jovens precisa criar uma série de artimanhas para aproveitar a intimidade a dois.

Crítica

Em uma das cenas da ótima série da HBO Magnífica 70 (2015-), que retrata com certa liberdade a produção da Boca do Lixo durante os anos de chumbo e da pornochanchada, o produtor tasca um nome chamativo em seu novo filme, mesmo que ele não tenha muito a ver com o roteiro recém escrito. É preciso botar gente no cinema e um nome forte, com teor safado, ajuda bastante, ele argumenta. Muito provável que o mesmo que acontece na série tenha ocorrido na vida real com este Eu Dou o que Ela Gosta, lançado em 1975. Embora lá pelas tantas apareça um motivo para o título jocoso, o longa-metragem se apresenta muito mais ingênuo do que poderíamos supor pelo nome da fita.

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Com direção de Braz Chediak, um verdadeiro Midas do gênero, e filmado em Minas Gerais, sua terra natal, Eu Dou o que Ela Gosta mostra as confusões que acontecem em uma pequena cidade quando não se permite o amor livre entre dois jovens apaixonados. O mulherengo malandro Marcos (Ênio Gonçalves) decidiu sossegar finalmente ao conhecer a virginal Giovana (Fernanda de Jesus), mas o namoro não engrena por causa do pai da moça, o italiano Provologne (Milton Carneiro), e sua avó, a invocada Pompinanta (Henriqueta Brieba). É desejo da família que Giovana se case com o filho do poderoso coronel Coriolano (José Lewgoy), Carlo (Fernando Reski). Ele, por sua vez, é apaixonado por Julinha (Leda Zeppelin), filha do principal adversário do seu pai nas eleições municipais, o frouxo Viriato (Sérgio Hingst). Depois de uma confusão dos diabos envolvendo um velório e uma traição inesperada, Giovana e Carlo se casam, mas o rapaz não consuma o casamento em respeito à sua amada Julinha. Isso cria uma atmosfera propícia para Marcos retornar a cortejar sua paixão, tentando dar, afinal, o que ela gosta.

Comédia amalucada e histérica, Eu Dou o que Ela Gosta convence bem como chanchada, com seu humor bastante popular e seus personagens de fácil identificação com o público, embora falte um pouco da sensualidade que se espera de um título como esse. Por ter um teor mais ingênuo, isso não chega a ser um problema. Só talvez não atenda às expectativas do espectador que busca o mesmo nível de erotismo de outros filmes do gênero. Muito mais do que a ausência do sexo, incomoda a trilha sonora invasiva e algumas invencionices desnecessárias - como a inclusão de um personagem italiano de péssimo sotaque. Ao menos, a montagem é esperta e consegue fazer piadas com elipses curiosas, como a morte de um dos personagens no terceiro ato, indo de uma cena viril direto para a lápide do falecido.

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Outro ponto que chama a atenção são os nomes graúdos do elenco reunidos por Chediak. A começar pela veterana Henriqueta Brieba, que rouba a cena como a tenebrosa avó de Giovana, se divertindo com sua espingarda sempre em punho. José Lewgoy e Sérgio Hingst fazem adversários na política, completamente diferentes um do outro – e não deixa de ser hilário ver as propostas estapafúrdias que ambos prometem em pleno coreto da praça, impossíveis de serem realizadas. O elenco jovem cativa com a estreante Fernanda de Jesus e o gaúcho Ênio Gonçalves, mas quem tem as melhores piadas e momentos acaba sendo Jotta Barroso, com seu malandro Vaselina. Ele é quem arma as principais estripulias para Marcos e, junto de Brieba, é o destaque desta produção.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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