Crítica
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Sinopse
Quatro colegas de trabalho embarcam numa viagem terrestre rumo às férias no litoral de São Paulo. Enquanto isso, pai e filho tentam chegar à capital paulista num carro antigo. Os caminhos convergem e todos são transformados.
Crítica
José Eduardo Belmonte, paulista radicado em Brasília, começou sua carreira como diretor com quatro projetos difíceis e bastante ousados, tanto em narrativa quanto em proposta artística. Seus filmes iniciais não eram para todos os tipos de público, mas, sim, voltados àqueles atrás de experimentações e inovações, que não se cansam em almejar algo mais profundo e diferenciado. Essa etapa, no entanto, chegou ao fim com Se Nada Mais Der Certo (2008), vencedor do Festival do Rio e premiado nos festivais de Paris, Los Angeles, Miami e no Cine Ceará. A partir de então, para cada acerto como O Gorila (2012) – que quase ninguém viu, pois teve uma distribuição irregular – houve deslizes como Billi Pig (2012) e esse Entre Idas e Vindas, título que promete muito mas, infelizmente, entrega quase nada.
Encaixando-se dentro de uma necessidade assumida do realizador de se comunicar com uma audiência maior e mais pulverizada, Entre Idas e Vindas deixa clara essa proposta ao escolher nomes como Ingrid Guimarães e Fábio Assunção como protagonistas. A primeira é a chefe de uma equipe de telemarketing que convoca três amigas para, juntas, irem rumo ao litoral como despedida de solteira de uma delas, que está noiva. Ele, por outro lado, também está em movimento, porém com motivos bem menos festivos: ao lado do filho de 11 anos, se dirige a São Paulo para apresentá-lo à mãe, que o abandonou quando era menor. No meio destes caminhos, eles se cruzam, e se o carro deles não resistiu à viagem, será como carona delas que deverão completar suas jornadas.
A trama parece simples, com poucas margens para erro. No entanto, Belmonte é um cineasta inquieto, que parece não se contentar com o óbvio – e, em determinadas ocasiões, jogar com o que lhe é seguro pode ser também a aposta mais acertada. Assim, ele – ao lado da roteirista Claudia Jouvin, diretora do igualmente irregular Um Homem Só (2015) – passar a inserir elementos anacrônicos no enredo, que ao invés de possibilitarem uma nova dinâmica, apenas servem de distrações, sem colaborar com o resultado final. Neste caso temos o mecânico falador, a festa do prefeito, a traição do namorado ou o livro infantil da mãe desnaturada. Quase como numa comédia de erros, nenhum segredo se mantém nessa condição por muito tempo, e quando as verdades começam a vir à tona, as primeiras reações serão difíceis de serem desfeitas.
Ingrid, visivelmente esforçada para evitar as caretas que lhe fizeram fama em comédias campeãs de bilheteria, não consegue deixar de destoar de suas colegas, que provém de outras escolas de atuação. Alice Braga – como a que está prestes a se casar – é, evidentemente, a mais eficiente, fazendo com naturalidade o que as outras não conseguem alcançar mesmo com muita dedicação. Seu personagem, no entanto, é o mais infeliz, pois passa metade do tempo reclamando, para apenas no final também trair a confiança daquela que mais tentou lhe ajudar. Para completar o grupo, Belmonte recorreu a duas atrizes com quem já havia trabalhado antes, e com melhores resultados: Caroline Abras (Se Nada Mais Der Certo, 2008) e Rosanne Mulholland (A Concepção, 2005). Ambas mal conseguem ir além do estereótipo, com participações discretas e sem vida, servindo apenas para compor cenário, sem função cênica definida.
E se Fábio Assunção, de visual cansado, mais uma vez se apoia no charme e carisma que lhe é inato, a surpresa termina sendo o jovem João Assunção – filho do astro na vida real e também na ficção. O garoto impressiona com o pouco que lhe é oferecido, revelando-se a mais grata surpresa do elenco. É bonito pensar que muito provavelmente Fábio tenha se envolvido nesse projeto – ele é também um dos produtores – como um presente ao filho, porém o sentimento é confuso, pois o resultado está aquém das expectativas levantadas pelos talentos envolvidos. Falta um norte, tanto na condução da história como na orientação dos atores. Um bom exemplo é a cena em que Afonso (Assunção) encontra a ex-mulher: seu choro é intenso e a dramaticidade é exagerada, provocando ruído no tom de comédia romântica leve perseguido até aquele momento. Assim, como um conjunto em que as partes não se encaixam bem, Entre Idas e Vindas termina por ser tão genérico quanto seu próprio título, nada marcante e facilmente esquecível.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Robledo Milani | 4 |
Adriana Androvandi | 5 |
Cecilia Barroso | 2 |
Alysson Oliveira | 4 |
MÉDIA | 3.8 |
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