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Sinopse
Em Emmanuelle, uma moça busca o prazer perdido. Durante uma viagem de trabalho a Hong Kong, permite que as possibilidades que cruzam seu caminho sirvam de tentação. Nesta cidade-mundo sensual, multiplica as suas experiências e encontra Kei, um homem que lhe escapa constantemente e lhe deixa agitada. Romance.
Crítica
Quando chegou aos cinemas, há mais de cinco décadas, Emmanuelle (1974) foi considerado um fenômeno. Um filme a que todos iam assistir, mas poucos eram o que confessavam esse ato em público. A história da esposa de um diplomata francês em Bangcoc que aproveita seu tempo livre para explorar seus desejos e fantasias sexuais tinha ecos de A Bela da Tarde (1967), porém de uma maneira mais explícita – ainda que pudica para os conceitos de hoje. As bilheterias acumularam recordes, sequências foram providenciadas à profusão (existem seis oficiais, mais uma infinidade de genéricos feitos na carona de tamanho sucesso) e a exibição do filme se consolidou como um clássico do gênero softporn não apenas durante sua passagem pelos cinemas, mas também – e principalmente – durante as sessões programadas para as madrugadas dos canais de televisão aberta nos anos 1980 e 1990. Em uma realidade na qual sagas como Cinquenta Tons de Cinza e 365 Dias seguem despertando atenção e curiosidade, nada mais lógico do que uma volta às origens. Porém, o novo Emmanuelle é menos uma refilmagem e mais uma contemporização, tão modorrenta e enfadonha quanto um discurso da extrema direita conservadora em qualquer palanque político ao redor do mundo.
A protagonista agora não depende mais do marido. A mudança, tão lógica, quanto esperada, a coloca como uma mulher ainda mais sozinha e sem lar para o qual voltar. Emmanuelle é uma pessoa cosmopolita, mas a emoção de se estar em um novo lugar há muito se perdeu. Sua mãe lhe diz pelo telefone: “agradeça por esse estilo de vida maravilhoso, minha filha”, mas ela não consegue emular tal percepção. Tudo lhe parece igual. Mais do mesmo. Tal qual o filme que tem a missão de levar adiante. Ela é uma mulher de negócios, encarregada de avaliar projetos em rota de risco e calcular os custos para colocá-los novamente em ascensão. Sua missão atual consta em visitar a filial de Hong Kong de uma grande rede de hotéis. A marca está prestes a perder uma estrela na cotação de atendimento, e a gerente responsável não tem demonstrado agilidade para reverter tal quadro. Emanuelle precisa ter olhos frios, para julgar sem envolvimento e sacrificar o que for preciso em nome de um bem maior.
O filme dirigido por Audrey Diwan se contenta com essa sinopse. Esse projeto soa como uma escolha no mínimo curiosa – para não dizer arriscada – para uma realizadora novata que acabou de ganhar o Leão de Ouro no Festival de Veneza com seu segundo longa-metragem, o drama O Acontecimento (2021). A assertividade que exibia nesse retrato de uma jovem tendo que recorrer a um aborto ilegal para evitar uma gravidez não desejada se perde por completo nesse novo trabalho. Sua Emmanuelle é uma mulher sem desejo, que evita relacionamentos e transa com desconhecidos de forma maquinal, quase como uma compulsão da qual não consegue se livrar. Eis, enfim, um filme desprovido de tesão, que anseia por buscar nas escassas representações gráficas de sexo um sentimento que inexiste entre os personagens que desfilam em cena como se numa passarela estivessem, dotados de muita ostentação, mas vazios por dentro. Da transa no banheiro do avião ao ménage à trois com um casal que encontra ao acaso no bar do hotel, tais desenlaces nem perto de se mostrar ousados ou arriscados conseguem, terminando por serem até mesmo comportados. A jovem prostituta que faz da área da piscina seu escritório tem mais personalidade do que a personagem-título.
Ainda que Noemie Merlant tenha idade para ser mãe de Sylvia Kristel quando essa interpretou o mesmo papel na versão anterior, a estrela considerada revelação por Retrato de uma Jovem em Chamas (2019) se mostra à vontade com os desafios que a trama lhe exige, até porque estes, na maior parte das vezes, são também por demais tímidos. A nudez é quase sempre parcial, e não há mistério ou jogo de sedução entre os envolvidos, fazendo do percurso da personagem um tédio inconsolável do início ao fim. O fato de se ver atraída pelo único homem que não pode ter emula uma psicologia tão barata quanto óbvia, enquanto que o desfecho escrito pela diretora em parceria com Rebecca Zlotowski (que havia sido melhor sucedida com esse tipo de erotismo disfarçado em A Prima Sofia, 2019) parece simplesmente desistir de uma investigação carente de significados e sem um propósito claro que justifique o contexto desenhado. Emmanuelle busca de forma incansável uma classe que nunca esteve ao seu alcance, resultando em um esforço apenas cafona, desprovido de alma e apático em qualquer um dos seus cruzamentos. Bocejo, ao invés de gozo, nunca foi uma boa pedida.
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