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Sinopse

Um retrato do sanfoneiro, cantor e compositor Dominguinhos (1941 - 2013), discípulo de Luis Gonzaga e autor de sucessos como "Eu Só Quero um Xodó", "Gostoso Demais", "De Volta Pro Aconchego" e "Lamento Sertanejo". Sua obra revive em imagens de arquivo, derramando uma história que se multiplica em sons, versos e beleza.

Crítica

Documentários musicais que conseguem ter seu retratado narrando a própria história sempre saem em vantagem. É muito rico poder acompanhar a trajetória do personagem em questão ouvindo de sua boca momentos marcantes da vida. Mesmo quando não é mais possível entrevistar o artista, material de arquivo sempre é uma boa saída para preencher esta lacuna. Dominguinhos, documentário sobre o músico nordestino falecido em 2013, consegue atacar nestas duas frentes. Tendo iniciado os trabalhos antes da morte do sanfoneiro, os diretores Joaquim Castro, Eduardo Nazarian e Mariana Aydar chegaram a gravar depoimentos e apresentações com o músico. Além disso, buscaram no fundo do baú imagens do passado, com direito a entrevistas que montam um belo mosaico a respeito da figura simpática e risonha que era Dominguinhos.

Nascido em Garunhuns, Pernambuco, em 1941, José Domingos de Morais aprendeu a tocar sanfona ainda menino, influenciado pelo pai. Quando cresceu e mostrou dotes para o instrumento, ficou conhecido como Neném do Acordeom. Isso até ser apadrinhado por Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, que lhe deu a alcunha de Dominguinhos. Ao lado do mestre, fez diversos shows como músico de apoio, até conseguir ascender ao centro do palco.

Além de Gonzagão, o documentário mostra outras parcerias frutíferas de Dominguinhos com nomes como Nara Leão, Dalva de Oliveira, Nana Caymmi, Gilberto Gil, Gal Costa, Hermeto Pascoal e, claro, Elba Ramalho. A cantora imortalizou a canção De Volta pro Aconchego, um dos grandes sucessos da carreira do sanfoneiro, e aparece em um belo dueto ao lado de Dominguinhos, retirado de um especial da TV Globo gravado no final da década de 1980. Faixas como Eu só quero um Xodó, Lamento Sertanejo e Arrebol, sucessos do músico, dividem espaço com versões ótimas de clássicos como Carinhoso, de Pixinguinha, e uma arrepiante performance de João e Maria, de Chico Buarque, com o vocal de Nara Leão.

Não são apenas cenas de arquivo que constroem o documentário. Djavan, Yamandú Costa, Hermeto Pascoal e a orquestra Jazz Sinfônica são responsáveis por momentos musicais não buscados no fundo do baú, mas gravados especialmente para o filme. De Volta para o Aconchego ganha uma versão emocionante com Dominguinhos no arcodeom e nos vocais acompanhado da Jazz Sinfônica. Com lágrimas nos olhos, o músico entoa os primeiros versos da canção, uma triste letra sobre saudade. A solidão, uma companheira do músico ao final da vida, é endereçada neste belo momento do documentário.

O virtuosismo de Dominguinhos, seu medo de avião, sua humildade, a paixão pela música, o amor pelo neto, o respeito por seu padrinho Gonzagão. Tudo isso é colocado em pauta pelo doc, que inova ao não se encerrar na sala de cinema. O trio de diretores criou um canal no You Tube com encontros do músico com seus amigos. “Dominguinhos +” conta com participação de vários dos artistas do documentário e a inclusão de Lenine, que acabou ficando de fora da edição final do longa-metragem. Material complementar muito bem-vindo aos admiradores da música do sanfoneiro.

Se o filme tivesse o cuidado de ser mais didático, creditando os músicos e a época em que as cenas se passam, ganharia mais pontos pelo bom serviço aos neófitos. Pequeno deslize que pode ser contornado pelo espectador com uma rápida pesquisa na internet, caso o interesse seja despertado após conferir o documentário. As chances são grandes de isso acontecer.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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