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Sinopse

Greg embarca com sua família numa viagem ao aniversário de 90 anos de sua avó. Mas, na verdade, o que ele realmente quer é assistir a uma convenção de gamers. Sem surpresas, as coisas não vão de acordo com o planejado e as palhaçadas da família Heffley começam a acontecer.

Crítica

Para começo de conversa, há um novo elenco a partir deste Diário de Um Banana: Caindo na Estrada, quarto exemplar da franquia cinematográfica baseada nos livros de Jeff Kinney. A necessária mudança – pois os atores mirins cresceram, tornando-se impróprios aos papeis desempenhados nas produções anteriores – traz um baque contraproducente, logo de cara. E a sensação de perda se avoluma com o desenvolvimento da trama. Todos os personagens, sem exceção, sofrem com a releitura dos intérpretes atuais e, também, em virtude da abordagem genérica que enfraquece as características de cada um. Greg (Jason Drucker), o protagonista, ainda é um pré-adolescente às turras com o irmão mais velho, penando para entender o pensamento dos pais. Mas, seu novo percurso, em busca de apagar uma vergonha tornada viral pela internet, é tão ordinário que deixa para trás as particularidades oriundas do original.

Diário de Um Banana: Caindo na Estrada é um road movie que utiliza apenas o grosso desse gênero – a viagem será mais importante que propriamente chegar ao destino – para estabelecer uma história repleta de gags mal enjambradas. O cineasta David Bowers, que comanda a cinessérie desde Diário de um Banana 2: Rodrick é o Cara (2011), tenta promover uma atualização de valores, inserindo a onipresença dos celulares, especialmente, no embate geracional que se instaura assim que a mãe, Susan (Alicia Silverstone), baixa a regra da não utilização de aparelhos eletrônicos durante a longa jornada. Inclusive, boa parte das piadas do filme é calcada nas tentativas furtivas de Greg e Rodrick (Charlie Wright) de recuperar seus telefones tão importantes. A interação familiar soa constantemente falsa, com exageros emergindo, deslocando-se da esfera puramente cômica à dinâmica entre os consanguíneos.

Voltando ao âmbito conceitual, algumas perdas, com relação aos antecessores, são mais sentidas, porque determinam uma desfiguração de cânones. Rodrick é o símbolo mais patente disso. Se anteriormente ele se encaixava bem na posição de irmão mais velho, aqui, na composição caricatural de Charlie Wright, é somente um garoto imaturo, de comportamento similar ao de Greg. Esse arrefecimento das diferenças basicamente distorce o personagem até torna-lo muito distante do equivalente interpretado (bem melhor) nas três primeiras produções por Devon Bostick. A concentração do enredo na família prescinde da presença dos coadjuvantes escolares, o que também é significativo para a impressão de falta de personalidade de Diário de Um Banana: Caindo na Estrada, que ainda tenta fazer graça com o surgimento do antagonista barbudo constantemente de encontro aos Heffney estrada afora.

Se há uma coisa que realmente vale à pena em Diário de Um Banana: Caindo na Estrada é a divertida reconstituição da cena do chuveiro de Psicose (1962), de Alfred Hitchcock, sequência que, no quesito criatividade, vale pela produção toda. No mais, a realização de David Bowers se ressente da falta de carisma dos atores escolhidos para dar sequência ao legado de Greg e companhia nas telonas. A estrutura do roteiro também não ajuda, já que excessivamente fundamentada na repetição de contratempos como maneira de provocar uma aproximação forçada entre os membros da família Heffney. Nesse caldo indeterminado, as situações importam mais que as pessoas, o que certamente retira o charme das aventuras do garoto cujo equivalente animado surge pontualmente para não esquecermos a origem de tudo. Sem tal recurso, o filme poderia ter outro nome, que nem notaríamos a sua filiação.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.
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