Onde Assistir
Sinopse
Em Diamantes, filme situado tanto na Roma nos anos 1970 como nos dias de hoje, a trama explora a jornada das irmãs Alberta e Gabriella Canova, donas de uma renomada ateliê de figurinos cinematográficos, e das habilidosas mulheres que nela trabalham. Com isso é proposto uma rica tapeçaria de memórias, solidariedade, ambições e desafios, celebrando a força feminina e a arte do figurino no cinema. Comédia/Drama.
Crítica
Os limites entre realidade e ficção se entrelaçam em Diamantes, filme-homenagem do diretor Ferzan Ozpetek àquelas que o ajudaram a construir uma das filmografias mais interessantes e ativa na Itália atual. Nascido em Istambul, mas naturalizado italiano, mora em Roma desde os anos 1970, quando se mudou para estudar e dar início à carreira de diretor e roteirista. Hamam: O Banho Turco (1997) marcou sua estreia como realizador. Foi quando deu início a uma série de longas premiados, aplaudidos e replicados (tem refilmagem de projeto seu até no Brasil). Em comum duas correntes narrativas: o olhar feminino e o interesse pela temática LGBT+. Por vezes, estes temas se alinham, como em A Janela da Frente (2003). Há aqueles de maior tendência queer (Nuovo Olimpo, 2023) e os que se mostram mais afeitos à sensibilidade feminina (O Segredo de Nápoles, 2017). Agora, demonstra vontade de ressaltar todas essas mulheres que já passaram por suas histórias. Sem esquecer, é claro, de sua paixão por algo maior e mais intenso: o próprio cinema. Se por vezes parece estar falando apenas para um nicho, tal impressão não perdura. O discurso é universal e do tamanho do amor que nutre por ambos.
As primeiras passagens de Diamantes permite ao espectador se aproximar daquele momento que qualquer cinéfilo ou mesmo curioso sempre teve vontade de presenciar: o nascimento de um filme. Ozpetek em pessoa surge em cena, literalmente com a “mão na massa”: ele e uma das suas mais fieis colaboradoras estão terminando de preparar um banquete, motivo pelo qual chamou algumas das atrizes que mais conhece e confia. Uma vez que estão todos sentados à mesa, o que tanto aguardavam se confirma: o convite para almoço reserva uma segunda intenção: há um roteiro em frente de cada uma delas. Uma leitura conjunta é o próximo passo, assim como as definições dos personagens. Quem irá interpretar quem? Quem responde pela única exceção é o galã Stefano Accorsi, nessa que é nada menos do que sua quarta parceria com o cineasta. A ele caberá o papel do diretor temperamental. Sua participação será pontual, por mais que se mostre como o elemento propulsor de tudo que irá acontecer em cena. Afinal, este será um filme sobre a realização de um filme. Cinema olhando a si mesmo, tendo como ponto de partida o espaço no qual são elas que, geralmente, ditam as regras: a sala de costura.

Esse poderia ser um viés preconceituoso, e algumas das tramas que a partir desse ponto se desenvolvem não conseguem se desvencilhar com muita habilidade dessa bagagem. Veja o exemplo daquela que sofre abuso por parte do marido e, mesmo com o apoio das colegas, acaba tendo que resolver seu problema fazendo uso da mesma moeda que tanto lhe atormenta. Porém, o que Ozpetek propõe é uma colcha de retalhos. Em um ambiente onde são elas que mandam, os homens não tem espaço. A partir da relação de duas irmãs – Alberta (Luisa Ranieri, de A Mão de Deus, 2021), irascível e determinada, e Gabriella (Jasmine Trinca), sentimental e delicada – proprietárias de um ateliê próprio, são abertas as portas para uma rotina que visa dar conta de uma rara responsabilidade: uma figurinista vencedora do Oscar as contrata para executar o vestiário completo do próximo longa com o qual está envolvida. Ao mesmo tempo em que suas inseguranças vão lentamente transparecendo, aquelas até então vistas apenas como operárias vão revelando suas individualidades, possibilitando uma aproximação que vá além de uma superfície estereotipada. Assim, o drama de uma se torna coletivo. E as soluções que vão encontrando pelo caminho são também compartilhadas.
Repleto de momentos de imensa beleza, seja pelas criações que tornam concretas, como também pela fantasia que se permitem sonhar, Diamantes encanta tanto pelo que projeta no âmbito fictício, como naquilo que ousa soar como um possível retrato íntimo de uma atividade tão admirada e repleta de glamour. O recurso empregado por Ozpetek no começo perde a força com o desenrolar dos acontecimentos, e por fim acaba se mostrando mais como uma liberdade poética e menos como um diferencial de fato. Isso, no entanto, não elimina a força de uma história de mulheres e sobre mulheres, comprovando que essas podem, e devem, ir além do lugar onde os outros preguiçosamente por vezes as colocam. Assim como o enredo se esforça para se mostrar maior do que a soma de suas partes, também esse é um filme de insuspeita sinergia, confirmando-se gigante pelo apelo emocional no qual mergulha sem ressalvas, por mais que essas cobrem seu preço em um ou outro instante. Pequenas concessões em nome de uma experiência singular.
Filme visto durante o 20o Festival de Cinema Italiano, em novembro de 2025
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