Crítica
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Sinopse
Crítica
Apesar de ser muito pessoal, Religião também é um elemento das massas. Ainda que cada um possa ter a sua – e seja mais do que necessário saber respeitar as escolhas individuais – a grande maioria prefere o coletivo na hora de manifestar sua fé, seja em encontros em templos, igrejas ou, como tem ficado cada vez mais frequente, também nas salas de cinema. Ao menos é o que propaga o drama Deus Não Está Morto, obra de e para católicos tradicionalistas fervorosos, que teve forte impacto entre os seguidores dessa corrente, mas que pouco tem a acrescentar a quem demonstra qualquer sinal de discordância em relação ao que aqui é pregado. A conversa aqui, pelo que se percebe, está voltada apenas aos já catequizados, sem espaço nem abertura para novas e eventuais adesões.
Produzido de forma bastante artesanal, com atores iniciantes ou há muito já afastados dos holofotes, o longa dirigido por Harold Cronk tem como protagonista o jovem Shane Harper, que além de atuar em programas e telefilmes da Disney – como High School Musical 2 (2007), por exemplo – é também cantor e dançarino. Dessa vez ele interpreta um estudante do primeiro semestre da faculdade que tem o azar de se matricular na cadeira de filosofia do Professor Radisson (Kevin Sorbo, o Hércules, 2005, do seriado televisivo), um intelectual radical que obriga a todos os seus alunos a assumir por escrito a morte de Deus logo no primeiro dia de aula. Afinal, como acreditar em uma presença impalpável e abstrata, desmentida por todos os grandes filósofos? O garoto, no entanto, não se amedronta, e decide confrontar o mestre, reafirmando sua crença defronte a classe. Como resultado, é obrigado a realizar palestras para os colegas com exemplos práticos que comprovem a existência, portanto, de Deus.
Mas filme não se resume a apenas este embate. Há mais em jogo, e tramas paralelas servem para reforçar a ideia de que somente os que tem fé poderão alcançar a paz. Temos o estudante estrangeiro (oriental, para reforçar o estereótipo) em dúvida se deve ou não abraçar os novos ensinamentos e abandonar as antigas tradições familiares; a moça bondosa que cuida de uma mãe idosa e doente; o empresário ganancioso que descarta família e namorada diante de qualquer sinal de problema; a repórter ambiciosa que recebe uma notícia que irá mudar a sua maneira de ver a vida; e, como não poderia deixar de ser, o religioso que enfrenta questionamentos relacionados com sua própria crença. Parecem exemplos aleatórios, mas sem muito mistério o roteiro de Chuck Konzelman e Cary Solomon cuida de conectá-los de maneiras bastante óbvias – um é irmão da outra, que é namorada daquele, que é colega profissional desse, que é vizinha dela, que frequenta as mesmas aulas daquele anterior.
O mais curioso de Deus Não Está Morto, a despeito do absurdo do seu argumento – nenhuma instituição educacional de fundos religiosos aceitaria uma posição como a desse professor, que dirá então de um estudante que abandona estudos, família e namorada apenas para se aprofundar em uma defesa arbitrária cujo maior argumento é “acredite” – é perceber, diante dos créditos finais, que se trata de uma trama, ainda que fantasiosa, inspirada em episódios reais ocorridos em mais de quarenta faculdades dos Estados Unidos. Intolerância e falta de discernimento, portanto, está não só naqueles que acreditam que um filme como esse poderá fazer diferença naqueles que o assistirem – os crentes reafirmarão suas teses, enquanto que os desconfiados apenas encontrarão mais argumentos para motivar suas visões. E se muitos seguem adotando comportamentos limitados, triste é constatar que esta é uma questão que não pode ser resolvida apenas na ficção.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 2 |
Filipe Pereira | 1 |
MÉDIA | 1.5 |
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