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Sinopse

Quinn Ackerman precisa sobressair numa competição de dança para conseguir uma vaga na universidade de seus sonhos. Decidida a sair vencedora da batalha, ela forma uma equipe. Porém, ainda tem de aprender a dançar.

Crítica

Que a Netflix possui uma fórmula pré-definida, quase uma cartilha a ser seguida, que é empregada na realização das inúmeras comédias românticas que a gigante do streaming está habituada a disponibilizar regularmente aos seus assinantes, isso não chega a ser nenhuma surpresa. O que causa espanto, no entanto, é a absoluta falta de originalidade e diferenciação entre muitas delas. Se havia alguma dúvida quando a isso, basta recair os olhos sobre esse Dançarina Imperfeita, que é quase um remake de Feel the Beat (2020), filme lançado pela mesma produtora há não mais do que algumas poucas semanas atrás. Soma-se a isso algumas figuras já carimbadas entre o público adolescente atual e desfechos e reviravoltas anunciados com bastante antecedência e o que se apresenta é um filme capaz de provocar mais bocejos do que lampejos de entusiasmo.

Quinn Ackerman (Sabrina Carpenter) é uma garota que vai bem em tudo no colégio, sempre a primeira da classe, além de participar de diversas atividades extracurriculares, sempre com a intenção de melhorar sua carta de aplicação à universidade na qual pretende se candidatar. Só que, durante a entrevista de admissão, se dá conta que não é bem isso que a instituição está procurando. “Quero alguém que pense fora da caixa, não acostumado com os limites de dentro dela”, ouve como resposta ao mostrar todos os formulários milimetricamente preenchidos. É quando dá a entender que participa do grupo de dança do qual seu colégio é famoso por todo o estado. Acontece que isso não é bem uma verdade: ela até fazia parte da equipe, como iluminadora, mas é mandada embora após um acidente que acabou comprometendo uma das performances do grupo. Sem nunca ter dançado, precisa aprender rapidamente, caso queira ter algum futuro universitário. E como não faz mais parte do time campeão, ainda terá que se dar o esforço de criar um do zero.

Pois bem, temos aqui a velha história do azarão que conseguirá dar a volta por cima e surpreender ninguém quando finalmente alcançar seus objetivos, por mais difíceis – ou praticamente impossíveis – que sejam eles. Quinn passa a ter vários obstáculos no seu caminho: (1) a mãe, que quer que ela continue estudando, sem se distrair com algo tão frívolo quanto a dança; (2) o líder dos Thunderbirds, que não só a culpa pelos problemas passados, como também não deseja ter uma concorrente na própria escola, e (3), descobrir como convencer um coreógrafo mais velho, que já foi campeão, mas que desde um acidente abandonou as apresentações, a ajudá-la nessa missão. Ah, e soma-se a tudo isso os desajustados que consegue agregar, uma turma de estereótipos, que vão desde o nerd até à gótica, que terão que ir da falta total de habilidade até o desempenho merecedor de medalhas.

Com pouco mais de 90 minutos de duração, Dançarina Imperfeita não convida seu espectador a acompanhar uma jornada de transformação – o que até poderia ser bonito, caso fosse bem feito. Pelo contrário, o que a diretora Laura Terruso (produtora e roteirista de Doris: Descobrindo o Amor, 2015) oferece é um caminho tortuoso de (muitos) erros e (poucos) acertos, pelo qual a protagonista a todo instante quase põe tudo a perder – lá pelas tantas, chega a, literalmente, desistir do próprio grupo, apenas para logo em seguida mudar de ideia. Tudo dá errado: ninguém consegue dançar, o coreógrafo é hesitante em prestar a ajuda que tanto precisa, o líder do outro time, quando decide sabotá-la, consegue sem o menor esforço. Para piorar, a própria selecionadora da universidade acaba mudando de emprego, o que faz a protagonista questionar as suas ações até o momento: será que vale continuar lutando por algo que nunca foi visto como um fim, mas apenas um meio para outra coisa?

Mesmo assim, com tantos elementos contrários ao sucesso da empreitada, é pouco provável que o público acostumado à dieta cinéfila proporcionada pela Netflix irá se incomodar com Dançarina Imperfeita – afinal, aqui está basicamente tudo que esse espectador já se acostumou. Até o elenco é repleto de caras familiares, como Carpenter (Crush à Altura, 2019), cantora bastante popular na internet, Jordan Fisher (Para Todos os Garotos: P.S. Ainda Amo Você, 2020), que integrou o elenco de montagens ao vivo de sucessos da Broadway, como Rent (2019) e Grease ((2016), ou Keiynan Lonsdale (Com Amor, Simon, 2018), uma presença colocada especificamente para atrair a atenção do público LGBTQI+. Enfim, é tudo tão matemático – assim como a performance final daqueles que se esforçam mais para convencer como desastrados no início, pois são todos dançarinos profissionais – e artificial quanto um lanche de fast food: até pode entreter os menos exigentes enquanto dura, mas tão esquecível e descartável que qualquer memória evapora junto com os créditos finais.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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