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Sinopse

Para evitar a mendicância, Youn So-young passa as tardes vendendo Baco, uma espécie de refrigerante energético de muito sucesso na Coreia do Sul. Assim como outras senhoras de sua idade, ela não oferece apenas a bebida, mas também serviços sexuais. Quando uma imigrante filipina é presa, Youn So-young começa a cuidar de seu filho.

Crítica

Pequena, mas muito impactante realização sul-coreana do diretor E J-Yong, A Dama de Baco retrata em um primeiro momento a instabilidade das relações, as distâncias interpessoais e o conceito de família para, em seguida, revelar os impactos do neoliberalismo que arrasta a sociedade do país ao limbo da desigualdade. A personagem principal, Youn So-youn (Youn Yuh-jung, em ótima interpretação), é uma idosa que roda pelas praças da cidade oferecendo programas sexuais juntamente de uma bebida suave, como um vinho, que induz a prática. O que se passa pela mente do espectador em um primeiro momento é a famosa expressão “quem olha, não diz”, já que o semblante tenro da idosa e suas vestes não refletem em nada o clichê de uma prostituta. Mas existe uma explicação. É muito comum na Coreia do Sul, já que lá não existe previdência social, que alguns idosos se prostituam como forma de arrecadar algum dinheiro para seu sustento. Essas senhoras que praticam a profissão são chamadas popularmente no país de “damas de Baco”, referência à bebida que servem e ao deus grego.

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A rotina de programas de Youn muda quando ela contrai gonorreia. Precisa ir ao médico urgentemente para um tratamento. E este precisa ser rápido, pois é necessário voltar ao trabalho. Ao sair de sua consulta, ela é surpreendida por uma mulher que esfaqueia seu ginecologista. Em meio à fuga desenfreada, esbarra em um menino filipino que está perdido. Na correria e buscando proteger a criança, ela decide levá-lo para a sua casa de imediato para depois entregá-lo às autoridades responsáveis. Afinal, também não consegue se comunicar muito bem com o garoto.

Esse contraste de mundos entre os dois personagens principais perdidos, à margem, desenvolve um belíssimo arco. O encontro com o menino ingênuo coloca à prova o instinto maternal de Youn e desenterra um passado que ela achava que jamais viveria novamente, que estava distante de uma constituição familiar. Essa concepção de família é construída ao longo do filme juntamente com sua vizinha transexual (que também se prostitui) e um jovem morador com os quais a protagonista convive no seu pequeno prédio, muito similar a um cortiço.

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Essa narrativa envolvendo uma idosa errante frente à uma criança que precisa de seu auxílio não é nova e, dependendo da abordagem, pode resultar em um clichê ou em uma verdadeira obra-prima - podemos recordar facilmente de Central do Brasil (1997), por exemplo. A Dama de Baco está longe de apresentar um primor sem-igual, porém, com as devidas proporções, é muito similar ao filme de Walter Salles. J-Yong consegue desenvolver belíssimos e contraditórios personagens ao longo de uma história que desenterra o passado de calamidade social e econômica que criou um país com uma grande desigualdade.

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é graduado em Cinema e Animação pela Universidade Federal de Pelotas (RS) e mestrando em Estudos de Arte pela Universidade do Porto, em Portugal.
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