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Sinopse

Aborrecida e triste em sua nova casa, a menina Coraline descobre uma passagem secreta que e leva para outro mundo, na verdade, uma outra versão da sua realidade, inclusive com um pai e uma mãe diferentes.

Crítica

Aplaudido desde sua estréia pelo impressionante resultado artístico e visual, Coraline e o Mundo Secreto só deixará de ser um dos favoritos ao Oscar de Melhor Longa de Animação no próximo ano caso seja esquecido – afinal, não foi uma boa ideia lançá-lo tão no início do ano. E, se isso acontecer, será um terrível caso de desprezo a um dos longas mais intrigantes já feito! Combinando animação stop-motion (aquela feita com massinhas) e terceira dimensão (o primeiro do gênero feito originalmente neste formato) com um enredo assustador, esta é quase uma versão dark do clássico Alice no País das Maravilhas – no início, tudo é muito leve e encantador, mas aos poucos o que vemos vai mudando de figura, e o pânico não tardará muito a chegar!

Coraline é uma menina esperta e inquieta. Seus pais são escritores que tem pouco tempo disponível – entre cuidar da nova casa, para onde se mudaram há pouco, e terminar o novo livro, mal conseguem preparar uma refeição decente para o jantar. Triste, longe dos amigos e insatisfeita com os formatos que esta nova vida está assumindo, ela vira presa perfeita para a “Outra Mãe”! Essa vive do outro lado de um túnel que existe numa pequena porta na sala da lareira. Neste mundo paralelo que a menina acaba descobrindo por acaso, tudo é igual àquele em que vive, porém melhor – a “Outra Mãe” é carinhosa e atenciosa, cozinhando delícias e atendendo a todos os pedidos dela, o “Outro Pai” é brincalhão e despreocupado, desenhando maravilhas no jardim e levando-a a jornadas inesquecíveis, enquanto que os vizinhos são adoráveis malucos, porém irresistíveis e encantadores. Até o menino da redondeza, sempre tão tagarela, deste lado é silencioso e participativo.

Só que as coisas não são tão simples quanto se desenham a primeira vista para Coraline. E, aos poucos, tudo vai adquirindo um tom mais sombrio e tétrico, revelando-se uma ilusão. Ela logo descobre que voltar para o mundo ‘real’ fica mais difícil a cada visita, até que termina presa naquela outra vida. E, como medida final, ela é obrigada a ser igual aos “clones alternativos”, e, assim como eles, deve trocar seus olhos por botões! Assustada com a possibilidade, decide fugir. Assim, descobre que está no meio de um jogo infernal proposto por uma bruxa carente e maquiavélica, e enquanto tenta escapar terá ainda que descobrir onde estão os olhos de três outras crianças fantasmas que já foram vítimas da vilã e ainda libertar os próprios pais originais, presos sabe-se lá onde!

Coraline e o Mundo Secreto é resultado da mente de dois artistas incríveis – porém nem um pouco conformados com uma visão cor-de-rosa da realidade. São eles o diretor Henry Selick, o mesmo do igualmente genial O Estranho Mundo de Jack, sobre um esqueleto que decide por um fim ao Natal e acabar com a festa do Papai Noel, e o escritor Neil Gaiman, o homem por trás de Stardust: O Mistério da Estrela, sobre uma estrela cadente que se apaixona por um ser humano e precisa fugir de uma bruxa perversa só preocupada em recuperar a beleza da juventude, e do roteiro de “Beowulf”, sobre o herói nórdico que enfrenta uma feiticeira estonteante e cheia de trapaças. Gaiman escreveu o texto original, lançado há algum tempo. Este livro serviu de inspiração para Selick, que ficou responsável também pelo roteiro. Ele estava à procura de um material assim há anos, algo que o possibilitasse também retornar ao universo da animação após a desastrosa experiência com atores de verdade em Monkeybone (2001), com Brendan Fraser, Bridget Fonda e Whoopi Goldberg.

Com um orçamento de US$ 35 milhões, Coraline e o Mundo Secreto ultrapassou esta marca em apenas duas semanas em cartaz nos Estados Unidos – sinal de que, mesmo um tanto assustador para crianças pequenas, o filme parece ter encontrado seu público. E este é justamente aquele espectador apto a apreciar uma obra de arte inteligente, criativa e sem medo de ousar – características que faltam à esmagadora maioria dos lançamentos atuais. Talvez peque em alguns detalhes, como a falta de um ritmo mais dinâmico – a longa duração (são mais de 100 minutos) pode ser uma explicação – ou de mais espaço para personagens tão interessantes, como o Sr. Bobinsky ou as atrizes Spink e Forcible. Mesmo assim, são pequenos deslizes dentro de um trabalho que não faria feio caso tivesse a assinatura de Tim Burton – que deve estar orgulhoso com o feito de um dos seus pupilos mais talentosos. Esta é uma jornada para poucos, mas estes se sentirão mais do que recompensados.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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