Crítica


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Sinopse

Os bastidores da turnê A Foreign Sound. Caetano Veloso reflete sobre vida e obra enquanto excursiona com seu único álbum gravado em inglês.

Crítica

Um agradável passeio com Caetano Veloso por várias cidades. Foi essa a sensação que Coração Vagabundo, documentário com duração de pouco mais de uma hora, proporcionou para mim. No filme, o diretor Fernando Andrade acompanha Caetano em suas apresentações por São Paulo, Nova Iorque, Tóquio, Osaka e Kyoto durante a turnê A Foreing Sound, entre 2003 e 2005. Preciso dizer que não sou fã do cara. Nunca comprei um CD sequer, nem livro, nem nada. Confesso e digo mais: achava ele um pouco chato com seus discursos polêmicos e engajados. Assistindo ao filme, no entanto, fui apresentado a mais que um artista de quilate.

Conhecemos um sujeito simples, sincero e engraçado. Arrisco a afirmar que Caetano foi desmistificado, mesmo que o filme não tenha nenhuma profundidade. O Caetano que vemos é bem diferente daquele que conhecemos pela mídia. A música dos shows, obviamente, é boa, mas o longa vai além. Através dos lugares, dos momentos, dos amigos e conversas, Caetano relata seus pensamentos (sempre andando, sempre em frente) seus desejos, sua inconformidade pela falta de notoriedade da cultura brasileira diante culturas mais tradicionais e afirma não fazer parte daquelas cidades, pois viveu até os 18 anos no interior da Bahia. Pensa e vive sob este pensamento. Para mim essa parte soa bonita e reveladora. Digo mais: inesperada. Está quase sempre calmo e delicado. Mas quando o assunto é religião, não maneira nem pensa duas vezes. Solta o verbo. Como conhecemos.

Caetano no filme parece não dar a mínima para luxo, paparicagens ou sofisticações. Não fica impressionado ou seduzido por se apresentar no Carnegie Hall. Mas fica incomodado ao ser entrevistado em Nova Iorque. O cantor e compositor baiano, fala e age à vontade na maior parte do tempo diante da câmera. E na hora da dor, não disfarça quando não quer falar a respeito de algum assunto da sua vida pessoal (tristeza pela separação com Paula). No filme, pelo menos três participações internacionais são marcantes. Michelangelo Antonioni (muito emocionante, umas das últimas imagens antes de morrer), Pedro Almodóvar e David Byrne. No caso de Michelangelo é difícil não se deixar envolver quando o cineasta quase chora revendo a cena resgatada de um de seus filmes. Já Almodóvar (Caetano interpretou Cucurrucucú Paloma, aparecendo em cena, no oscarizado Fale com Ela) narra as reações proporcionadas pela interpretação de Caetano para a canção. David Byrne (sempre envolvido com a música brasileira) aparece rapidamente e em tom informal.

A ex-mulher Paula Lavigne (na época das filmagens eles ainda estavam casados) é figura presente no filme. Cuida de Caetano o tempo todo, e quando Gisele Bündchen ataca de tiete, age declaradamente com ciúmes e trata de “colocar as garras pra fora”. Foi ela quem teve a ideia de fazer um filme com as filmagens de Fernando. Inicialmente o projeto contemplava extras para um DVD. Empreendedora dinâmica, Paula apostou no projeto. O filme surpreende na duração – apenas 1h12min! Termina quando você está gostando mais ainda dele. Foi um desfecho estranho. Um corte “surpreendente”.

Estou convencido que os Doc´s musicais são mesmo os principais títulos de 2009. Acho que Simonal e Loki – de Arnaldo Batista – confirmaram isso, pois foram ótimos. Coração Vagabundo se apresenta como um projeto bem menos profundo e humilde em suas ambições. Quem sabe seja mesmo um recorte de alguns instantes da vida do cantor, como o próprio diretor classificou. Talvez tenha sido despretensioso e não biográfico até demais, pois a obra e importância de Caetano no cenário musical brasileiro são amplas e definitivas. Mas, ainda assim, o valor do material, somado à linguagem viva e presente, possa proporcionar aos menos exigentes uma descoberta prazerosa.

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é diretor de cena e roteirista. Graduado em Publicidade e Propaganda com especialização em Cinema (Unisinos /RS). Dirige para o mercado gaúcho há 20 anos. Produz publicidade, reportagem, documentário e ficção. No cinema é um realizador atuante. Dirigiu e roteirizou os documentários Papão de 54 e Mais uma Canção. E também dois curtas-metragens: Gildíssima e Rito Sumário. Seus filmes foram exibidos em vários festivais de cinema e na televisão. Foi diretor de cena nas produtora Estação Elétrica e Cubo Filmes. Atualmente é sócio-diretor na Prosa Filmes.
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Grade crítica

CríticoNota
Alexandre Derlam
6
Alysson Oliveira
3
MÉDIA
4.5

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